Sonhos e Pesadelos

16 3 0
                                    

A plataforma continuava a descer e descer. Até onde ela iria?

Sophie sabia que o protocolo de emergência era usar as escadas nos cantos nordeste e sudoeste do templo. Era para descer, e não subir. No primeiro andar haviam quatro saídas de emergência direto no gramado. O subsolo tinha saídas para fora da montanha em cada fim de corredor. A plataforma não devia ir para além daquele único andar subterrâneo.

Mas ela estava descendo cada vez mais.

– Afinal, vamos parar em algum lugar?

Ramoni olhou para ela e sorriu. Um sorriso torto e sabichão.

– Sabe o que eu sou, Sol?

– Estranho?

– Sou um Apu.

Sophie continuou olhando para ele em completo silêncio, à espera de uma explicação melhor.

– Sou um apapaatai. Cada montanha inóspita, caverna profunda ou floresta densa tem um. Somos guardiões, espíritos protetores.

– Espíritos? Você parece bem sólido para mim. – E, para ilustrar, deu uma batidinha no peito dele. Ramoni empurrou sua mão, fingindo rir.

– É, bem, não o seu conceito de espírito, eu imagino. Mas, é. Meu pai era um Apu, e o pai dele e o deste também. Temos uma linhagem imortal que se sucede. Minha linhagem cuida desta montanha desde sempre.

– Pensei que fosse cigano.

– Minha mãe era cigana. Meu pai era guardião aqui quando a conheceu na escola.

– Eles estudaram juntos?

– É mais complexo que isso.

Sophie não via bem o rosto de Ramoni, imaginou se não estava mordendo o lábio.

– Um Apu não vive como um humano. Meu pai viveu por duzentos anos, até encontrar minha mãe e escolher ela para me ter. Quando nasci, ela adoeceu e faleceu, então ele pediu para a diretora cuidar de mim. – E, em um tom de correção: – Não a diretora Ann, a diretora Santiago. Ela cuidou da escola por muitos anos antes da diretora Ann.

– E o seu pai? O que aconteceu com ele?

– Quando um Apu está pronto, seu santuário o acolhe. Foi o que a diretora me disse. Ele estava pronto, então Tunshu, essa montanha, acolheu ele. É o espírito que guarda essas rochas. Que protege a escola e a cidade.

– E protege você. – Disse ela, não em tom de pergunta.

– Eu nunca vou para longe, não por muito tempo. Então... Sim.

– Deve ser legal a sensação. – Comentou ela, abraçando os próprios braços e sentindo o tecido de algodão na pele, esquentando. – Sabe, ter alguém igual a você te protegendo efetivamente.

– É. – Murmurou Ramoni, olhando para frente. – É legal.

– Mas isso não explica onde estamos indo. – Disse, para trazê-lo de volta.

– Tem um lugar nos confins de Tunshu, um santuário, vamos chamar assim. É onde ouço a voz dele mais forte.

– Ouve a voz do seu pai? – Ela deu um sorrisinho.

Ramoni sorriu de volta.

– Literalmente. Ele me guia. Me guiou para achar esse lugar. Eu venho para cá quando preciso parar por um momento e me concentrar nele ou na minha missão.

– Sua missão?

– A missão de todo Apu. – Disse ele, orgulhoso. – Cuidar e proteger seu lugar sagrado até ser acolhido por ele, para então guiar o próximo.

Irmãos Potter _ O Prisioneiro de AzkabanOnde histórias criam vida. Descubra agora