Capítulo 2 - Diagnóstico

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Receber um diagnóstico de leucemia não está nos planos de vida de ninguém, sempre fui uma pessoa saudável e quando o médico me deu o diagnóstico depois de eu acordar de um desmaio que tive em uma das lojas da minha família foi aterrorizante. Meu chão se abriu e parecia que eu estava caindo de um abismo que não tinha fim.

Fazia um mês que eu tinha recebido a notícia e na mesma semana eu já tinha começado o tratamento. 

A leucemia é uma doença caracterizada pela quebra do equilíbrio da produção dos elementos do sangue, causada pela proliferação descontrolada das células. Além de perder a função de defesa do organismo, os glóbulos brancos doentes produzidos descontroladamente reduzem o espaço na medula óssea para a fabricação das outras células que compõem o sangue, ou então eles não se desenvolvem por completo e caem na corrente sanguínea antes de estarem preparados para exercer suas funções.

A primeira pessoa que eu pensei em ligar era pra minha melhor amiga, porém eu sabia que a mesma largaria tudo que ela construiu na Austrália e não pensaria duas vezes em pegar o primeiro voo de volta pro Havaí, por isso fiz Duda não dizer nada a ela mas a mesma não fez isso e ligou pra Valentina que fez o que eu já imaginava que ela faria.

E neste exato momento ela está sentada no sofá virada de frente pra mim enquanto segurava em uma das minhas mãos.

- Você já começou o tratamento? - ela perguntou fazendo um carinho em minha mão e me encarando com aqueles olhos verdes intimidadores.

- Sim. - respondi ainda abalada pela presença dela.

- E como vai ser? Quero está informada de tudo pra te ajudar no que posso. 

- Foi dividido em duas partes, a primeira eu começei na mesma semana que recebi a notícia. - respondi suspirando e lhe encarando pra continuar a falar. - Comecei a indução da remissão, que tem como objetivo eliminar as células doentes que são muito sensíveis à quimioterapia.

- E a outra? - ela perguntou.

- Agora vão começar a introduzir estratégias de consolidação para combater possíveis focos residuais da doença. - respondi suspirando.

- E se a quimioterapia não der certo? - ela perguntou curiosa.

- Aí eles vão recorrer a um transplante de médula óssea.

- Quais são as suas chances de cura? - ela perguntou dando um aperto de leve em minha mão e eu percebi o quão nervosa ela estava para que eu respondesse a esta pergunta.

- Felizmente 90% pois meu diagnóstico foi precoce. - respondi olhando pra nossas mãos entrelaçadas.

- Eu estarei ao seu lado em todos os momentos Lu e não vou soltar sua mão em momento algum. - ela respondeu me dando um beijo na testa.

- Não queria que você largasse sua vida toda pra cuidar de mim. - falei negando com a cabeça.

- Nada mais me segurava lá Lu e eu não quero que você se preocupe com isso, vamos se preocupar com todos os tratamentos que você tem que fazer e nada mais. - ela disse me puxando pra um abraço.

Ficamos ali na nossa bolha perdendo a noção do tempo, minha amiga contou tudo que tinha acontecido na vida dela e que eu não sabia ainda. Depois nos despedimos pois a mesma disse que tinha que passar na casa dos seus pais para dá uma satisfação a eles da sua volta repentina e matar um pouco da saudade.

Peguei meu celular e abrir minha conversa com a Duda.

Eu: Obrigada!

Duda: Estou aqui pra você sempre.

Eu: Realmente eu precisava dela.

Duda: Vocês sempre precisam uma da outra.

Minha amiga respondeu e eu travei a tela do celular sorrindo pois aquela afirmação era mais que verdadeira.

Aproveitei que Valentina foi na casa dos pais e comecei a preparar uma salada de frutas que eu sabia que ela amava, ainda mais quando era eu que fazia. Depois de duas horas vejo uma Valentina entrando pela porta arrastando uma mala.

- Pra que essa mala? - perguntei curiosa.

- Vou morar esses tempos aqui com você. - ela respondeu chegando perto de mim.

- E quem foi que disse que te convidei pra morar comigo?

- Eu mesma estou me convidando. - ela respondeu sorrindo torto.

- Valentina é sério, não precisa morar comigo. Você pode me acompanhar em todas as consultas, eu te prometo que aviso toda vez. - falei segurando em seus ombros.

- Lu você mora sozinha e se você passar mal? Quem vai está aqui pra te salvar? - ela perguntou segurando meu rosto com suas mãos.

- Eu ligo pra você. 

- Está decidido, eu vou morar aqui até você se curar. - iria abrir minha boca para contestar mas a mesma saiu em direção ao corredor dos quartos. - Qual quarto eu posso usar? - ela perguntou gritando e eu neguei com a cabeça indo atrás dela.

Depois de acomodar minha amiga em um dos quartos de hospédes puxei ela pra cozinha pra comer a salada de fruta que eu tinha feito.

- Isso aqui só melhora com os tempos. - ela disse raspando o copo.

- E você continua uma esfomeada. - falei arrancando risadas dela.

- Ninguém resiste a sua salada baby. 

Fomos pra varanda ver o por do sol e Valentina sentou primeiro no sofá que tinha ali esticando a mão para que eu sentasse entre suas pernas. Essa era a nossa posição favorita desde que éramos adolescentes, ficávamos sentadas a tarde toda conversando. Me lembro quando meu pai me perguntou se a gente estava namorando e eu rir de nervoso respondendo que não, mas a verdade é que eu sempre senti uma coisa a mais pela minha melhor amiga porém eu não sabia se era recíproco e fiquei com essa informação pra mim mesma.

- Eu estava com saudades disso. - ela disse chamando minha atenção.

- De quê? - perguntei me virando pra olhar melhor pro seu rosto.

- Da gente assim olhando o por do sol abraçadas. - ela respondeu sorrindo e me dando um beijo na testa.

- Eu também Valentina, eu também. - falei sussurrando e ela me apertou fraco no abraço.

Ficamos ali até o sol desaparecer e entramos quando começou a esfriar.

Passar por isso ao lado dela seria melhor e mais confortável, eu só peço a Deus que me dê a chance de sobreviver a esta doença.

SEMPRE ESTIVE AQUIOnde histórias criam vida. Descubra agora