Capítulo 4 - Eu estou aqui

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E lá estava eu sentada ao lado de Luiza que tinha uma agulha espetada no braço por onde iria passar os medicamentos que destruiam as células doentes. Assim que a enfermeira fez todo o procedimento percebi a careta de minha amiga, tinha lido na internet que alguns pacientes sentem a sensação de ardência e formigamento quando passam por esse procedimento.

Depois de algumas horas naquela sala do hospital a mesma enfermeira voltou e tirou a agulha da sua veia dando a quimioterapia por encerrada naquele dia.

- Você consegue levantar? - perguntei já em pé de frente pra ela.

- Estou me sentindo cansada. - ela disse fazendo uma careta.

- Vou buscar uma cadeira de rodas. - falei e sair da sala a procura da cadeira.

Achei uma no corredor e ajudei Luiza a sentar na mesma saindo do hospital me despedindo de alguns funcionários que eu conhecia.

Assim que chegamos em sua casa ela pediu pra ir direto pro quarto pra descansar e foi isso que eu fiz, naquela noite ela dormiu traquilamente.

Essa rotina voltou a ser feita durante aquele mês inteirinho e eu sentia que a cada vez que saíamos do hospital depois de uma sessão minha amiga parecia mais cansada.

Sair do meu quarto no meio da madrugada pra beber uma água e abrir a porta da varanda que dava pra praia vendo as ondas baterem e voltarem logo em seguida, sorrir pois só neste mês que eu estava aqui sentia que realmente era pra eu voltar pra ilha pois aqui era o meu lugar.

Voltei pro quarto mas antes de eu abrir a porta ouvir um resmungo que parecia de alguém sentindo dor e logo meu corpo entrou em alerta entrando com tudo no quarto de Luiza, liguei a luz e vi ela se revirando na cama com a mão pressionada na barriga chorando.

- Lu, o que você está sentindo? - perguntei chegando perto dela.

Minha amiga não me respondeu, continuava se contorcendo e chorando muito.

- Me ajuda. - ela sussurou com muita dificuldade.

Coloquei minha mão na sua testa e percebi que a mesma estava queimando em febre.

- Vou tirar o carro pra te levar pro hospital. - falei segurando em seu rosto e sair em disparada pro lado de fora pra colocar o carro já na rua.

Abrir a portinha da cerca e voltei correndo pra dentro da casa peguei uma bolsa que tinha todos os documentos dela e peguei a mesma no colo andando o mais rápido possível pra dentro do carro.

- Está doendo muito Valen... tina. - ela gemeu de dor.

Sair cantando pneu da rua e tenho certeza que muitos vizinhos acordaram por isso, virei a rua como se tivesse pilotando um carro de corrida e certeza que eu estava acima da velocidade em todos os trechos que passamos em direção ao hospital.

- Por favor me ajudem, minha amiga ela está com muita dor. - gritei entrando no hospital com ela em meus braços.

Um enfermeiro que já estava ali logo veio empurrando uma maca e o médico que cuidava do caso dela olhou preocupado assim que percebeu de quem se tratava, eles entraram correndo por uma porta dupla e quando eu iria avançar pra ir junto um dos funcionários me impediu.

- A senhorita não pode passar daqui. - ela disse me segurando pelos ombros.

- Mas ela precisa de mim. - falei com uma angústia no coração.

- Quando eu tiver notícias você será a primeira a saber, mas preciso que assine alguns papéis na recepção. - ele disse ainda segurando pelos meus ombros e me encaminhando pra recepção.

Assinei tudo no automático e liguei pra única pessoa que teria calma suficiente pra avisar as pais dela sobre a situação.

- Duda. - falei com a voz esganiçada.

- Me ligando uma hora dessa Valentina? Eu acordo cedo pra trabalhar. - ela disse com seu mal humor matinal. 

- A Lu... - não conseguir completar o que eu queria dizer.

- O que aconteceu com a Luiza? - ela perguntou e eu ouvir um barulho do outro lado da linha como se ela tivesse deixado cair algo.

- Ela estava com muita dor, eu trouxe ela pro hospital... preciso que avise aos pais dela Duda. 

Logo em seguida minha amiga desligou a ligação e disse que já estaria aqui comigo.

- Por favor meu Deus não tira ela de mim. - sussurrei pra mim mesma.

Duda chegou acompanhada dos pais de Luiza que me perguntaram se já tinha notícias e eu neguei ainda com meu coração apertado. Minutos depois meus pais também chegaram e minha mãe veio me abraçar.

- Mãe ela não pode me deixar. - falei chorando.

- Ela não vai meu amor, a Luiza é muito forte. - ela disse acariciando minhas costas.

Três horas depois o médico dela apareceu na recepção com cara de cansado e veio em nossa direção, fiquei em pé em frente a ele.

- Como a Lu está? - perguntei afobada.

- Agora ela está estável. - ele respondeu.

- O que foi que ela teve doutor? - a mãe de Luiza perguntou sendo abraçada pelo marido.

- A Luiza teve um choque, os medicamentos que estamos usando na quimioterapia não estão mais fazendo o efeito esperado. Vamos precisar trocar, mas pra continuarmos o corpo dela precisa se fortalecer novamente... - ele explicou pra gente mas minha cabeça não estava mais absorvendo o que ele dizia.

- Ela vai ter que precisar ficar internada. - ele terminou de falar.

- Eu posso vê-la? - perguntei ainda angustiada.

- Só posso liberar uma pessoa e ela estava chamando por você. - o doutor fazendo todos assentirem.

- Vá minha querida, diga a ela que estamos aqui. - a mãe de Luiza disse me abraçando.

Segui o doutor e entramos no elevador pois ela estava em um quarto no quinto andar, ele me deixou em frente a porta e me deu aquele sorriso como se quisesse me confortar. 

Girei a maçaneta e a imagem dela partiu meu coração, minha amiga estava ligada a meio mundo de aparelho e com um respirador, ela bateu os olhos em mim e sorriu por trás da máscara de oxigênio.

Tive que usar uma máscara hospitalar pois era o procedimento padrão.

- Valen. - ela disse com dificuldade.

- Você me assustou. - falei segurando sua mão e acariciando.

- Não foi dessa vez que você se livrou de mim. - ela disse tentando fazer graça e tossiu logo em seguida.

- Não brinca com isso. - falei apertando um pouco sua mão pra ter certeza que ela ainda estava ali.

- Me desculpa. - ela disse com os olhos marejados.

- Você não tem porque se desculpar. - respondi acariciando sua bochecha.

- Parece que vou estender minha estadia aqui. - ela disse tirando o máscara de oxigênio pra poder falar melhor.

- Não tira isso. - falei tentando colocar a máscara nela de volta.

- Eu estou com medo. - pela primeira vez vi o medo explícito no olhar da minha amiga.

- Não precisa ter medo, eu estou aqui e vamos passar por essa juntas. - falei dando um beijo em sua testa.

- Obrigada. - ela disse colocando a máscara de oxigênio novamente.

- Descansa agora, quando você acordar eu estarei aqui ainda. 

Falei puxando uma poltrona pra perto da cama e continuei acariciando a sua mão até que ela adormeceu.

SEMPRE ESTIVE AQUIOnde histórias criam vida. Descubra agora