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Eu não gosto de ninguém mais do que você, é verdade
Eu andaria uma milha em um local isolado com cobras, só por você
Oh, eu sou um animal, me traga um Tramadol, me dê o álcool
Você é a minha fortaleza, você é meu bem-querer, meu suave amor
        
                        — High enough : K.Flay

Lilian

Desde criança sempre fui uma garota intensa. Se eu gostava de algo, eu gostava a dobrar e se não gostava também era o mesmo. Não é diferente de Lucian. Eu gosto dele a dobrar.

Mas talvez eu esteja pagando pelos meus pecados. Nunca fui assim, calma e quieta. Mas sim fui moldada assim. E Lucian está trazendo de volta o meu maior pecado.

Lucian meio que se distanciou de mim, e isso faz quase duas semanas. Ele ainda permanece do meu lado mas sei que não é ele quem está ali. Ele é quente e frio, ele é gentil e tempestuoso, ele é calmo e agressivo.

Talvez ele não seja agressivo comigo mas um dia escutei ele gritando ao celular em russo, sei que era russo pós Beatriz falava muito bem russo e até me ensinou alguma palavras. Não o suficiente para entender a conversa dele mas pelo seu tom eu percebi que ficar longe dele naquele momento era o melhor.

Mas cada vez que ele me afastava parte do meu coração e bom senso ia com ele. Era como se eu fosse seu satélite natural, sendo puxada pela sua gravidade.

Isso dói. Sempre doeu. Odeio o silêncio, odeio o vazio, odeio me sentir sozinha, odeio que ele esteja agindo assim comigo.

A culpa foi minha, talvez sim, talvez não. Talvez seja somente o trabalho. Mas fui eu quem quebrou as regras, fui eu quem o desobedeci talvez seja um castigo. Castigo pior que uma imersão numa banheira cheia de gelo.

Me levanto da cama, finalmente ganhando forças para confrontar a realidade e não ficar definhando igual uma depressiva somente porquê meu marido não está me dando a mesma atenção que antes.

Desço as escadas só de roupão, mais me arrastando do que  andando. Encontro tudo silêncio como de sempre. Vou até a cozinha encontro a cozinheira e somente a cumprimento com um aceno seguindo meu percurso para área exterior.

Meu corpo ainda estava se recuperando das sequelas do resfriado que peguei após Lucian praticamente me enfiar numa banheira de água de gelo. Se aquilo não foi um aviso não sei o que foi. Mas eu prometi nunca mais encostar em uma bebida alcoólica.

Olho para piscina e depois para a janela do andar de cima, vejo sua silhueta me encarando. Ele sempre esteve aqui só simplesmente decidiu não falar comigo. Por que isso dói tanto.

E se eu me jogar na piscina e fingir que foi um acidente. Tenho a certeza que ele viria me salvar. Me levanto da espreguiçadeira e ando lentamente pensando seriamente no que estou fazendo.

Somente consigo escutar o barulho do meu coração, assustado. E se eu acabar realmente me afogando? Bom não adianta ficar repensando. Assim que meus pés tocam na borda respiro fundo e me viro encarando a janela de seu escritório.

Ele me observa, minuciosamente. Igual um fantasma, somente me assombrando. Sorrio e mando um beijo para ele.

— Eu farei qualquer insanidade para atrair sua atenção. — sussurro mesmo sabendo que ele não irá escutar. Cruzo meus braços e deixo meu corpo ir.

A água me consome e eu não me preocupo em tentar nadar pela sobrevivência. Ele vira me salvar eu sei. Só consigo enxergar o azul, tão bonito enquanto sinto o oxigénio se esvaziando e meu corpo indo cada vez mais fundo.

Cadê você? Cadê você? Cadê você?

Não pude controlar os espasmos e engoli água, ela penetra por todas minhas vias e foi ali onde me apercebi que aquela fora uma péssima ideia. Grito soltando bolhas enquanto forço meus corpo a tentar subir para superfície, em vão.

PECAMINOSAOnde histórias criam vida. Descubra agora