4- E eu não quero ir para casa agora

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  KIM NAMJOON

  Quando mais novo, eu me fazia questionamentos diários sobre o que estava errado comigo, me perguntava o porquê de sentir-me daquela forma, como se eu fosse um monstro. Houve noites que eu chorei sozinho no canto do meu quarto, pedindo para que Deus me levasse, ou para que alguém me entendesse.

Se esconder de si próprio é a forma mais horrível de se viver. Penso assim, pois passei a minha vida inteira negando a mim mesmo. Afinal, como não o faria? Se um dia eu resolvesse contar a meus pais, seria obrigado a desposar uma moça que não conheço. E caso a notícia se espalhasse, estaria morto alguns dias depois.

Me sentia tão aturdido, sozinho e sujo, que fui ter a companhia de Yoongi e Hoseok. Eles estavam a morar juntos em um cantinho afastado de qualquer reino. Percebi que, mesmo sendo procurados, eles pareciam felizes com a vida que levavam, e eu me senti feliz por eles também.

Senti-me bem mais leve depois de uma conversa longa com meus amigos. Eles prestaram-me apoio diante da minha situação, e disseram-me que estariam sempre prontos para outra conversa.

Passei a me sentir mais seguro em relação aos meus sentimentos. Não sentia-me mais reticente quando ouvia alguém proferir o nome daquele que tem estado em meus pensamentos.

     Saí dos meus devaneios quando ouvi o estrondoso barulho bem perto de mim. Virei-me rapidamente, apenas para me deparar com a cena mais hilária vista nas últimas semanas. Jin havia caído da cama do Jungkook. E apesar de eu rir muito brevemente, não pude deixar de ficar preocupado, mas antes mesmo que aproximasse-me dele, o mesmo se levantou rapidamente como uma criança travessa.

── Está machucado, Seokjin? ── perguntei-lhe, passando brevemente os meus olhos pelo seu corpo.

── Não preocupe-se comigo, Nam ── respondeu sorrindo. ── E não chame mais assim

Ele passou por mim e caminhou até a grande janela do quarto, se debruçando na mureta.

── Mas esse é o seu nome ── adverti, vendo-o assentir.

── Portanto, parece que não temos intimidade ao chamar-me pelo nome inteiro ── resmungou.

Reparei na forma como o vento da noite soprou seus fios de cabelo, e o modo como fechou os seus olhos. Parecia extasiado. Até mesmo o seu perfume parecia mais cheiroso.

Senti algo em meu peito. Meu coração batia mais rápido e as minhas mãos estavam inquietas, procurando desesperadamente algo para se agarrar. Caminhei até ele e parei ao seu lado, virando-me para observar sua face serena. Tão calmo que nem mesmo parecia o garoto agitado de alguns minutos atrás.

── Por que está assim? ── perguntou-me, não me olhando diretamente.

── Você quer ver a vista, e eu quero ver você ── disse meio reticente.

Jin lançou-me um olhar sucinto, sorriu sorrateiramente, e voltou a olhar para fora. Sentia que ele estava apenas evitando meu olhar.

── Por que está a me olhar assim? ── questionou, e eu senti a sua voz vacilar.

── Como estou a olhá-lo? ── inclinei minimamente o meu rosto, afim de ver o seu.

Seu cenho estava franzido enquanto ele parecia buscar palavras para me responder, mas em momento algum eu ousei desviar os meus olhos do seu rosto.

── Como se quisesse me beijar ── encontrava-me embasbacado por sua resposta, mas ainda sim, exultante por ele ter percebido.

── Então os meus olhos estão a dizer apenas verdades ── desci os olhos para sua mão, e a toquei gentilmente, ainda que cheio de medo e incerteza.

Logo o barulho da porta se abrindo fez com que ele se afastasse rapidamente, virando-se para os garotos que entraram no cômodo. Engoli seco e passei a tentar ignorar o incômodo que crescia em mim.

Aquela deveria ter sido a sua forma de dizer que não é como eu. Que não se sente também como uma aberração. Eu já deveria está esperando isso, como eu teria a mesma sorte de Yoongi e apaixonar-me por alguém que sente o mesmo? Isto aconteceria uma vez em mil.

── Vocês demoraram ── Seokjin proferiu, se juntando aos outros.

── Eles estavam dançando alegremente e sendo as atenções da noite ── Jimin falou antes de ir se deitar na cama de Jungkook. ── O Kook e Mi-suk estavam deslumbrantes juntos, vocês deveriam ter visto ── prosseguiu.

── Eu deveria dar a ela uma primeira dança inesquecível, não acham? ── o mais novo disse enquanto tirava peças adicionais do seu traje, mas quando Taehyung ousou fazer o mesmo, foi interrompido pelo dono do quarto. ── Por favor, fique com elas ── Taehyung não entendeu, mas não questinou.

Caminhei em passos lentos até eles, e me sentei na borda da cama, próximo a Jimin.

── Deveríamos ler e compartilhar do conhecimento que adquirimos ── sugeri, entendendo a resposta quando os demais garotos se olharam quase rindo.

   E depois disso eles não pararam mais de falar. Comentavam sobre conversas que ouviram de outras pessoas, dançavam de modo desastroso, riam alto.

Houve até um curto momento onde Seokjin, Jungkook e Jimin começaram a pular na cama como crianças, e quando Taehyung e eu avisamos que iriam cair, eles caíram. Exatos dois segundos depois, eles caíram. Então, voltaram a rir, correram pelo quarto e até deixaram as coisas jogadas pelo chão.

Cerca de três horas depois, eles dormiram.

Respirei aliviado como se tivesse colocado meus próprios filhos para dormirem. No entanto, diferente deles, eu não consegui nem mesmo fechar os meus olhos, o que levou-me a ficar sentado em um canto do quarto, com o tronco encostado na parede e os joelhos encolhidos.

Encontrava-me aturdido, inquieto. Não conseguia evitar pensar no que acontecera mais cedo. A forma como Seokjin me olhou, parecia pasmo, com medo. Pisquei diversas vezes para afastar esses pensamentos que se faziam cada vez mais presentes, e quando estava com a mente limpa, notei que Jin estava sentado em minha frente, com seu queixo apoiado nos joelhos.

── Não consegue dormir? ── o tom de voz era rouco e quase inaudível, mas ainda sim eu consegui entender.

── Nem mesmo tirar um breve cochilo ── admiti em voz baixa, para não acordar os outros.

Ele balançou a cabeça como se quisesse dizer-me que entende, e depois ficamos em silêncio, olhando um para o rosto do outro. Eu não sabia sua real intenção com isso, talvez nem mesmo existisse uma.

E quando seu rosto se levantou e os joelhos serviram de apoio para que ele se inclinasse em minha direção, senti que meu coração espancava a caixa torácıca, afim de descobrir o que fazia dele tão agitando.

Jin estava próximo o bastante para que sentisse a sua respiração, e até a ouvisse. De repente, ele pressionou os seus lábios contra os meus, fazendo meu coração se acalmar e as minhas mãos não mais tremerem. Seus lábios eram macios como beijar o rosto de um bebê, e os seus dedos que tocaram meu rosto, eram gentis, acariciando minha face mesmo quando ele se afastou.

── Desculpe-me ── eu pedi, prestes a levantar-me, mas ele segurou em meu braço.

── Eu quis fazê-lo ── confessou.

── Por que? ── o questionei com curiosidade.

── Porque eu o amo

E aquele sentimento avassalador, incerto e imoral, tomou conta do meu ser.

A Fera e a Fera || TAEKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora