5- E tudo que posso sentir é este momento

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  KIM TAEHYUNG

   O que fazer quando se há um momento da sua vida o qual deseja aniquilar, esquecer? perguntou-me diariamente como conviver com o peso de que posso decepcionar meus pais por um sentimento antigo. Sou homem agora, tenho responsabilidades e uma série de regras para seguir, para que então, um dia, eu seja tão bom rei quanto o meu velho pai.

Concentrar-me para ser bom, têm sido cada vez mais difícil para mim. A cada dois passos dados, tiro cinco pedras do meu caminho, entretanto, dessa vez parece mais uma grande rocha, e por mais que eu esforce-me o máximo, não consigo movê-la nem mesmo um centímetro.

Pensamentos invadem-me durante todo o tempo em que estou na presença de meus amigos. Há tempos não os vejo, e mal consigo concentrar-me no que dizem, estou a me sentir mal por isso. Jimin perguntou-me algumas vezes se eu desejava sair e respirar um pouco, mas eu neguei todas elas. Consegui manter-me um pouco mais atento.

   Um pouco depois que pegamos no sono, despertei-me novamente ao notar que meus amigos estavam de saída. O baile havia acabado e os seus pais estavam a chamá-los. Despedi-me deles e voltei a me deitar ao lado daquele que dormia de forma desajeitada, podendo até mesmo acordar com dores no dia seguinte.

Toquei gentilmente seu rosto, afastando uma mecha de seus cabelos negros e a prendendo atrás da sua orelha, tendo a visão da sua face perfeitamente angelical.

── Jungkook ── chamei-o sussurrando e balançando seu corpo levemente. ── Jun...

── Hum ── murmurou sem ao menos abrir seus olhos.

── Deite-se direito ou terá câimbras ── ele chegou a mover-se um pouco, mas não mudou muito. ── Não me faça te jogar no chão para que acorde

E ele nem se mecheu.

Respirei fundo e me ajoelhei em sua cama, me desculpando em silêncio quando precisei tocá-lo para mover seu corpo mais para cima. Seu quadril estava descoberto, e os meus dedos o tocaram acidentalmente. A pele era macia, e estava quente. Senti calafrios, mas continuei.

Voltei a deitar-me, cobrindo meu corpo com o cobertor pesado e quente. Estava a tentar ignorar as sensações que tomaram conta do meu corpo, repetindo para mim mesmo que era apenas o sono. Mas então, senti o braço de Jungkook pesar sobre meu peito, e o seu corpo aproximar-se absurdamente do meu, tanto que eu podia sentir a sua respiração quente contra a pele do meu pescoço.

Meu corpo entrou em transe, meus nervos se contraíram, minha respiração engatou e o meu estômago servia de salão de festa, era como se mil pessoas estivessem dançando dentro dele.

── Tae...── ele sussurrou próximo ao meu ouvido, provando-me que a situação poderia ficar mais tensa.

── Sim, Jun ── respondi com a voz reticente.

── Você estava deslumbrante hoje, nem mesmo parecia real ── senti meu coração dar indícios de iria disparar. ── Desculpe-me não ter dito mais cedo, queria fazê-lo, mas eu estava com medo ──

── Por que sentia-se assim? ── arrisquei perguntar.

── Não queria que me entendesse mal ── confessou.

Compreendi o que ele quis dizer, mas me mantive em silêncio até o momento em que o seu corpo voltou-se para onde estava, e ele se cobriu por inteiro, deixando apenas seus cabelos vacilando para fora.

── Boa noite, Tae ── ouvi a sua voz abafada, e sorri sucintamente.

── Boa noite, Kook

E só então os meus sentidos voltaram a funcionar.

Não compreendi o que tinha acontecido, mas preferi apegar-me as coisas mais simples de entender. Coisas complicadas estavam fora de cogitação no momento.

    Na manhã seguinte, tudo parecia normal, e Jungkook não dava indícios de que estava a lembrar do que havia me dito durante a madrugada. Me senti incomodado por tal, mas não o questionei quanto a isso, apenas deixei as coisas como estavam.

Meus pais conversaram comigo sobre casamento, e disseram que já passara do momento de eu desposar uma moça, mas isso não agradou-me, eu não pretendia me casar tão logo. Na verdade, não tenho pensado em casamento. Os mais velhos sugeriram que eu passasse mais tempo com Yuna Jeon enquanto estivéssemos hospedados em sua residência.

Não havia muito o que fazer.

Conversei com a jovem moça por algumas horas durante aquela manhã. Sua companhia era de fato agradável, ela sabia me fazer rir, e tinha um senso de humor incrível, também é uma moça muito bonita, mas senti que algo faltava. Talvez fosse a forma como ela mechia em seu cabelo, ou como se vestia, apenas não me agradava por inteiro.

    Horas mais tarde eu saí um pouco para respirar. Meus pais permitiram como recompensa pelo meu avanço com a Jeon mais nova, e eu agradeci antes de me retirar do castelo. Iríamos voltar em breve para a Tailândia, e eu queria poder familiarizar-me com o lugar onde não vinha há oito anos.

Avistei de longe, sentado no banco do caramanchão, Jungkook. Parecia cabisbaixo, seus olhos estavam caídos e os lábios perfeitos curvados para baixo. Quase nunca o vira daquela forma.

Aproximei-me e sentei ao seu lado, conseguindo fazer com que a sua atenção chegasse em mim.

── O que aconteceu? O príncipe salvou a princesa e esqueceu de se salvar? ── ele riu sorrateiramente.

── Mais ou menos isso ── respondeu com a voz baixa.

Sua expressão mudou tão de repente que eu esperava que tivesse me pregando uma peça.

── O que acha de irmos visitar nossos amigos? ── franzi o cenho.

── Os vimos algumas horas atrás ── pontuei.

── Estou a falar de Hoseok e Yoongi ── Claro. Pensei. Assenti brevemente. ── Espere-me aqui, pegarei o Ártico ── ele se levantou e saiu.

Deduzi que Ártico fosse o nome do seu cavalo, mas não tinha certeza.

Apenas esperei, como me pediu, e aproveitei para reparar  na cortina de tulipas azuis e brancas do caramanchão. O lugar era agradável, perfeito para passar uma tarde na companhia de um livro ou de uma boa música. Contudo, tive meus devaneios interrompidos quando ouvi a voz doce de Mi-suk. Nem a vi chegar.

── Aturdido, meu querido irmão? ── encostou-se na madeira do banco, e pousou as mãos sobre seu colo. ── O que o incomoda?

Eu conseguia esconder bem o que estava a sentir, menos quando se tratava de minha irmã. Ela me conhecia bem.

── O que se fazer quando seu coração diz que algo é o certo, mas tudo o que você ouviu sobre, é que é errado? ── me perdi em minhas próprias palavras. ── Se todos a odiassem e a considerassem perversa, mas sua consciência a aprovasse e absorvesse de toda a culpa, ainda o faria? ──

Ela pareceu pensativa, ajeitando as luvas brancas em suas mãos.

── Se é algo pelo qual você está disposto a lutar, não vejo qual seria o problema ── disse depois de um tempo. ── Se quer firmemente isso, ninguém poderá o julgar por ser certo ou errado, independente do que seja ──

Virou-se para mim, e olhou no fundo dos meus olhos. Eu jamais precisaria dizer uma palavra para que ela soubesse do que estávamos a falar.

── Estarei do seu lado, mesmo que todos se virem contra você ── ela sorriu e se levantou. ── Agora deixarei que vá distrair a mente

E se foi, caminhando em passos lentos e graciosos até estar fora da minha visão.

Um tempo depois, Jungkook apareceu com seu lindo cavalo andaluz branco, de pelos tão brilhosos quanto um diamante.

── Tae...── chamou-me e eu me aproximei. ── Esse é o Ártico, meu fiel companheiro

A Fera e a Fera || TAEKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora