9- E eu não quero que o mundo me veja

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3 anos depois

KIM TAEHYUNG


  Responsabilidades são boas na maioria das vezes, quando sua competência se sobressai e a sua vontade grita alto. Entretanto, não é sempre assim que acontece.

Fui coroado um ano atrás, e três meses depois do dia que era o mais importante da minha vida, o meu pai veio a falecer. Ele sempre me disse que eu seria um ótimo rei, e que saberia lidar bem com todas as dificuldades que me forem colocadas, e eu não discordava dele, sempre soube do meu potencial.

Acontecimentos mudaram-me os pensamentos e escolhas, mas nem mesmo por isso eu pude deixar o trono de lado, afinal, aquele era o meu destino, mesmo que o meu coração batesse forte por outro destino. Um que eu desejava de corpo e alma que fosse o meu. Um destino que eu dispensei.

  Às vezes acho que não deveria ter dito para Jungkook como me sentia em relação as pessoas de quem gosto. Assim não teríamos nos beijado, eu não teria gostado, não teríamos nos afastado e ainda seríamos bons amigos. Talvez eu pudesse estar casando com a sua irmã com a minha consciência leve por ele não saber como me sentia, mas não.

Não consigo parar de pensar em seus sentimentos.

Mas nós deveremos aprender a lidar com eles. Sentimentos são fraquezas.

    Desvencilhei-me de meus pensamentos assim que atravessei as grandes portas daquele lugar que não pisava a quase quatro anos. Meus olhos vagaram por cada detalhe, como da última vez. Até mesmo a cor do corrimão me deixava completamente encantado, tudo naquela residência era de se admirar.

E então, meus ouvidos foram abençoados pela melodia de alguém tocando Mozart. Fui guiado pelos meus sentidos, caminhando pelo chão marrom divino e ainda atento aos detalhes, mas não perdendo nem mesmo um segundo daquela música. Era a minha favorita...

Assim que cheguei em um salão para festas menores, meus passos ficaram mais lentos. Minha visão alcançou quem estava sentado em frente ao piano, dedilhando as teclas com maestria. Seu cabelo estava comprido e mais escuro, sua pele parecia tão macia quanto antes, e os seus braços estavam mais fortes.

E quando seus olhos me enxergaram, ele parou de tocar repentinamente. Eu o olhava extasiado de admiração, e ele me olhava com desdém. Adquiriu a capacidade de agir como se eu não estivesse em sua presença. Seus olhinhos não brilhavam mais.

Ele levantou depois de alguns minutos, e se pôs a alguns passos de distância de mim. Curvou-se brevemente, levantando-se em seguida.

── Quando chegou, senhor Kim Taehyung? ── senti meu coração afundar até quase atravessar o meu corpo.

── Sabe que não precisa me tratar assim, Jun. Ainda sou eu ── e ele me olhava da mesma forma, como se eu fosse apenas um qualquer.

── O senhor é um rei, não quero desrespeitá-lo ── proferiu palavras tão duras quanto pedras. ── E por favor, gostaria que me chamasse por Jeon Jungkook. Esse é o meu nome ──

── Ainda sou o mesmo, Jungkook. Continuo sendo o seu velho amigo de infância ── ele não disse mais nada, apenas me olhava com as mãos para trás do corpo. ── Por favor, continue tocando, a música é linda ──

── Eu adoraria, senhor, mas sinto em dizer que preciso ir...cuidar do meu cavalo ── era uma de suas desculpas. E eu sabia que tinha várias outras.

Aquele era o preço que eu estava a pagar por tudo que lhe fiz. Estava doendo. Todo o meu corpo estava doendo, em completa agonia, e eu sentia que não passaria tão logo.

── Sinto tanta falta do Ártico. Posso acompanhá-lo? ── tentei outra vez. Realmente sentia falta do seu fiel companheiro.

── Creio que o estabulo não seja o lugar apropriado para um rei

Roubei-lhe dois passos, e parei diante do seu corpo, agora do mesmo tamanho que o meu. Eu olhava em seus olhos, procurando vestígios do antigo Jungkook, mas ele parecia estar morto há bastante tempo.

── As coisas não precisam ser assim, Jun...── segurei em seu braço, mas ele o puxou, afastando-se de mim.

── Você decidiu que fossem assim ── proferiu rispidamente, caminhando para longe.

Permaneci ali, perdido em meus pensamentos. Sentia-me mal, triste, como se uma nuvem cinza estivesse bem em cima da minha cabeça.

E então, precisei me recompor rapidamente quando ouvi meu nome ecoar por aquele extenso salão. Virei-me apenas para encontrar o senhor Jeon e a sua filha, que caminhava ao seu lado.

── Kim Taehyung, é um enorme prazer finalmente revê-lo ── cumprimentei o homem em minha frente, imitando suas palavras.

── É um prazer reencontrá-la, senhorita Jeon ── beijei o dorso da mão da garota em minha frente, que sorriu e fez um breve aceno de cabeça. ── Posso ter a sua filha para uma caminhada no jardim, senhor?

── Fiquem a vontade ── assenti antes de me afastar ao lado de Yuna.

Fora de grande alívio não estar mais diante do olhar faminto de seu pai. Ele foi um dos grandes responsáveis por nosso casamento, que aconteceria em alguns meses. Eu gosto de Yuna, ela é uma boa garota, mas não gosto o bastante para me casar.

  Caminhei com ela até o caramanchão, onde nos sentamos lado a lado. Nos últimos anos nós trocamos cartas, e ela até mesmo esteve presente na minha coroação, toda sua família foi, menos o seu irmão. Yuna me visitou na Tailândia algumas vezes. A levei para muitos lugares, mas ainda sim, não nos encaixamos.

── Não sei se eu posso fazer isso ── disse ela, em um tom de voz baixo e calmo. ── Você é perfeito, Kim Taehyung, mas eu não o amo

Quase respirei aliviado por ouvir suas palavras.

── Eu gosto de ti, senhorita Jeon, mas também não a amo ── e ela sorriu aliviada, encostando-se completamente no banco. ── Infelizmente essa decisão de acabar com tudo não está ao nosso alcance. Somos prometidos, o que poderíamos fazer?

── Nos casamos, mas ficamos com as pessoas que amamos ── ele tocou gentilmente a minha mão.

── Se descobrissem, nossa honra estaria manchada ── proferi depois de alguns minutos.

── Melhor do que viver anos em um casamento infeliz e sem amor ── respondeu-me, virando-se para frente. ── Estou ciente de quem ama, senhor Kim, e tenho certeza de que esse alguém também o ama

Senti-me assustado por alguns segundos, até que as suas mãos encontraram as minhas novamente. Se esteve tão óbvio todo esse tempo, era apenas uma questão de dias até os mais velhos descobrirem.

── Controle-se, Taehyung ── ela sussurrou. ── Jamais contaria

── Serei eternamente grato por isso, Yuna ── respondi no mesmo tom que o seu.

── Não quer saber o motivo pelo qual não o condeno? ── assenti rapidamente. ── Meu amor é igual ao seu, Kim Taehyung

Sorri por tempo o bastante quando entendi ao que estava se referindo. Isso causou-me alívio.

  Ouvimos o galopar segundos depois, elevando nosso olhar aquele que estava próximo, montando sobre as costas do seu cavalo de pelos brancos. Ele nos olhou por uma curta fração de tempo, e foi novamente para longe.

── Deveria ir. Eu consigo inventar alguma coisa para meu pai, não se preocupe

A Fera e a Fera || TAEKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora