11- Quando tudo é feito para ser quebrado

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JEON JUNGKOOK

   Alguns dias se passaram desde a "conversa" que tive com Taehyung em meu quarto, e desde então, ele têm respeitado o meu espaço. Na maior parte do dia ele fica na companhia de meu pai, ou da minha irmã, e quando a noite cai, ele tenta conversar comigo, mas ainda não sinto-me pronto para qualquer coisa realacionada a ele.

Esta manhã ele partiu novamente para Tailândia, dizendo ter assuntos para resolver antes de voltar para o casamento. Não deveria, mas ouvi-lo falar sobre o casamento fez meu peito se afundar em tristeza. Deveria ser eu. Pensava durante muito tempo dos meus dias.

Tentei afastar os pensamentos que surgiam em minha mente e resolvi caminhar até a vila. Os aldeões deveriam estar sentindo minha falta, já fazem alguns dias que não vou visitá-los, comprar coisas de suas tendas. Sei que as coisas não estão sendo fáceis, já que dois dias atrás uma chuva forte acabou com a morada de muitas pessoas.

    Assim que apontei na entrada da vila, um grupo de cinco crianças vieram correndo em minha direção, e eu não hesitei em abaixar para abraçar cada uma delas. Lembrava-me de cada um daqueles rostinhos que alegravam os meus dias nessa passeada por seu lar.

Quando se afastaram, vi o garotinho que caminhava só em minha direção, parecia triste.
Assim que se colocou em minha frente, abri meus braços para receber um abraço seu, e ele não hesitou em abraçar-me mais forte do que o normal.

Jinwoo era um garotinho de seis anos, cabelo castanho e olhos da mesma cor. Quando tinha apenas quatro anos, perdeu sua perna em um acidente com uma máquina, e desde então usa um tipo de prótese de madeira para conseguir andar no ritmo das outras crianças.

Assim que se afastou de mim, percebi que chorava. As outras crianças todas estavam de cabeça baixa, e foi apenas então que eu notei que algo estava errado. Segurei as mãos do garoto em minha frente, fazendo com que olhasse para mim.

── O que aconteceu? ── perguntei-lhe com a voz baixa. ── Posso ajudar-te em algo? ──

── Papai e mamãe...── a voz embargada denunciou que iria chorar novamente. ── Nossa casa desabou na chuva, e eles não conseguiram sair ── meu coração doeu de tristeza por aquele menininho.

── Eu sinto muito Jinwoo ── o trouxe para outro abraço. ── Conversarei com meu pai para reforçar a morada de todos da vila ──

Aquela era uma promessa.

── Agora vá ── afastei-me dele novamente. ── Escolha o que quiser de qualquer tenda, eu pagarei

Ele sorriu amplamente.

── Muito obrigado, vossa alteza. É o segundo que diz isso para mim hoje ── inclinei meu olhar, perguntando-me se minha irmã esteve ali hoje.

── O segundo? ── mas antes mesmo que me respondesse, saiu rápido para as tendas.

Levantei-me e comecei a caminhar também na direção das tendas. As pessoas me cumprimentavam com sorrisos gentis, oferecendo-me algo do que estavam vendendo. Era notável quantas tendas tiveram de ser retiradas por causa da chuva, muitas pessoas perderam seus trabalhos. Eu precisava ajudá-los.

  Mais alguns minutos de caminhada e eu parei em frente a uma tenda que vendia colares, a mesma que vim com Taehyung antes dele retornar para a Tailândia.

── Senhor Jeon Jungkook, é um prazer revê-lo ── curvou-se por breves segundos. ── Algo lhe agrada? Pode levar, senhor

── Tudo me agrada, senhorita Min-ji. Suas peças são esplêndidas ── ela sorriu timidamente.

Meus dedos passearam por cada peça, até parar em um bracelete com pingente de lua, o mesmo que outra mão já segurava. Olhei rapidamente para o dono daquele toque, afastando-me quando reparei em seu rosto.

── Deveria estar a caminho da Tailândia, senhor Kim Taehyung ── proferi formalmente. ── O que ainda faz aqui?

── Apenas senti saudade dessas pessoas e vim visitá-las ── explicou-se, mantendo sua postura. ── Me familiarizei da situação e sei que o seu pai não fará nada do que prometer, então, se me permiti, eu gostaria de ajudá-lo ──

Taehyung sempre teve um bom coração, e creio que esse tenha sido um dos motivos pelo qual gosto tanto dele. Está sempre disposto a fazer o que estiver ao seu alcance para ajudar quem precisa, mesmo que não conheça a pessoa. Então, precisei deixar meu orgulho para depois ao ouvir o que disse.

── Qualquer ajuda será bem vinda ── respondi. ── Desde já agradeço por sua bondade.

    Nos dias seguintes, nos dedicamos a decidir como poderíamos melhorar a vida dos moradores da Vila, e tornar seus lares um lugar mais seguro, para que não volte a acontecer outros acidentes que prejudiquem as famílias. Kim Taehyung e eu decidimos sem discordar, nossas ideias simplesmente se complementavam sem a necessidade de uma discussão.

Meu pai não ficou contente quando descobriu o que estávamos a fazer, e até tentou nos impedir, dizendo que os aldeões ficariam com mau costume.

── Essas pessoas precisam aprender que o lugar delas é delas, sem a interferência de pessoas da alta sociedade ── reclamou inúmeras vezes em um dia apenas.

── É por esse tipo de pensamento que eu sei que serei um rei melhor do que você ── eu respondia todas as vezes.

   Em duas semanas, todas as casas da Vila estavam reformadas e as tendas dos vendedores completamente reforçadas. Conseguimos fazer com que cada canto se parecesse mais com um lar, e as pessoas pareciam mais felizes agora.

Os aldeões estavam reunidos todos em um só lugar, nos agradecendo inúmeras vezes, mas sinto que não é necessário, não fizemos mais do que a nossa obrigação. Eu sentia-me feliz de poder ajudar todas aquelas pessoas, mesmo que o meu pai fosse contra.

  Depois de algumas horas, Taehyung e eu estávamos voltando para o castelo. O silêncio pairava entre nós, e sequer trocamos um mísero olhar ou palavra. Nunca senti-me tão desalocado em sua presença.

── Soube do Jinwoo? ── perguntou-me finalmente.

── Sim. Sinto-me tão triste por ele ── proferi, olhando para aquele ao meu lado. ── Se eu estivesse pronto, o traria para morar comigo, ele não merece ficar sem uma família ──

── Ele é um garotinho extraordinário, adoraria dar a ele todo o amor que merece ── ele disse, cruzando os braços em frente ao corpo. ── Deveriam ter um lar apenas para crianças que perderam a família. Um lugar onde seriam amadas, e poderiam serem crianças

Assenti brevemente, concordando com o que disse.

── Talvez eu consiga fazer algo assim um dia, se eu resolver que quero ser um rei como você ── respondi.

── Eu sei que tem grande potencial, Jungkook, e você mostrou-se muito capaz nessas últimas semanas ── sorri sorrateiramente. ── Estou orgulhoso de você

Senti meu coração palpitar rapidamente em meu peito. Fazia tempo que não sentia-me assim.

Andei o restante do caminho em silêncio, apenas ouvindo o farfalhar das árvores e os passarinhos cantando. Era um dia de sol, o céu estava limpo e a brisa soprava meu rosto.

O clima perfeito.

  Pouco antes de entrarmos nas redondezas do castelo, parei repentinamente, virando-me para aquele ao meu lado. Ele também havia parado e se virado para mim.

── Precisamos conversar ── falamos juntos.

A Fera e a Fera || TAEKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora