2- Porque eu sei que de alguma forma você me entende

524 69 18
                                    


  KIM TAEHYUNG

   Quando meu pai esteve em meu quarto e me chamou para uma conversa, eu não estranhei. Diariamente tínhamos conversas sobre diversas coisas, e sabia que nada de ruim seria, eu sou bem dedicado em tudo que me é colocado, nunca fui de ter problemas por isso.

Portanto, nada preparou-me para o que estava por vir. Depois de tantos anos eu poderia finalmente rever aquele que foi um grande amigo da minha infância. Aquele que ouvi ser acusado injustamente por uma brincadeira onde todos quiseram participar.

  Na frente dos meus pais eu precisei agir com indiferença, mas meu coração batia tão rápido quanto a roda de um trem se movendo. Eu estava entorpecido de felicidade, sentindo que a minha serotonina estava transbordando.

   Passei a viagem inteira em silêncio, sabendo que qualquer sinal de empolgação que eu demonstrasse, o meu pai acharia que aquela tinha sido uma péssima ideia. Mi-suk notou, pois segurou a minha mão por algumas horas quando percebeu a forma que eu apertava minhas vestes.

Talvez eu não tenha me preparado o bastante, pois quando o vi, ainda mais bonito do que quando éramos mais jovens, precisei esconder meu rosto para disfarçar o sorriso, e me conter para não correr e abraçá-lo. Ele estava desajeitado, seu cabelo bagunçado, e os pés descalços, mas aquele era ele, o mesmo de anos atrás.

Agir como se não o conhecesse foi pior do que tortura para mim, por isso, quando nos afastamos dos mais velhos e adentramos sua morada, eu senti o peso deixar os meus ombros, e eu havia finalmente voltado a respirar. Diferente de Jungkook, que parecia tenso.

É momentâneo. Pensei.

  Quando atravessamos a porta de seu quarto, reparei que estava bem organizado, mas sabia que se fosse por ele, não estaria daquela forma. Jungkook sempre foi desorganizado, e não acho que isso tenha mudado com o passar dos anos.

Virei-me para olhá-lo, e ele estava de pé perto da porta fechada. Sua expressão meio cabisbaixa, e os seus olhinhos mais caídos do que o normal.

── Irei deixá-lo descansar, se precisar de algo, chame um dos criados. Fique a vontade ── ele disse, pronto para sair, sua mão até mesmo já tocava a maçaneta.

── Jun...── testei.

E ele se virou tão rápido como a velocidade da luz. Sua face estava mais viva, e ele sorria expansivamente, deixando a mostra os seus dentinhos de coelho.

── Eu sentia sua falta ── continuei, sentindo meu corpo cair em cima do colchão quando ele se atirou contra mim, me abraçando fortemente.

── Eu também...── ele disse com a voz abafada. ── Também senti a sua falta

Eventualmente nos afastamos, e alguns minutos depois, estávamos nos atualizando sobre o que acontecera em nossas vidas nos últimos oito anos.

Jungkook me disse que a sua família carregava agora desprezo por Jung Hoseok, depois que boatos de que ele era um bruxo começaram a circular pelas redondezas. Também me disse que Yoongi saiu da casa dos pais e passou a ser procurado depois de confessar seu amor por Hoseok.

── Você o odeia agora? ── ele me perguntou quando estávamos deitados lado a lado em sua grande cama.

── Mas é claro que não. Jamais o odiaria ── assegurei. ── E você?

Ele ficou em silêncio por um tempo.

── No começo eu até tentei, afinal, sempre que falamos sobre o assunto, os olhares alheios queimam nossa pele. Então, eu temia que achassem que eu sou igual, e me matassem por isso ── sua voz era calma, apesar do assunto abordado.

── Mas e agora? ── virei meu rosto para ele.

── Não me importo ── disse. ── Ele está apenas amando, o que tem de errado nisso? É estranho de se ver, mas por que seria errado? Apenas porque não podem gerar um filho? Quanta besteira, se for assim, também não tenho a intenção de ter filhos, e nem por isso devo morrer ──

E ao ouvir as suas palavras, sinto como se houvesse um tipo de brilho nos meus olhos. Ele as proferia com tanta confiança e orgulho de nosso amigo.

        No dia seguinte tudo estava acontecendo muito rápido. Os nossos pais estavam agitados e criados transitavam de um lado para o outro dentro do castelo, por isso, optei ficar a maior parte do tempo dentro do quarto de Jungkook, lá era o único lugar onde ainda tínhamos um pouco de paz, e o barulho não era tão alto.

  Eu estava sentado perto da sua janela, e ele estirado no chão, jogando uma pelúcia para cima e a aparando.

O dia estava lindo, e eu gostaria de poder sair um pouco, mas ainda era cedo, os meus pais não voltaram a confiar totalmente em Jungkook. Talvez com o passar dos dias eles voltassem a deixar com que eu saísse um pouco.

Eu não tenho mais dez anos.

── Você também acha que a culpa foi minha? ── Jungkook repetiu essa pergunta diversas vezes naquele dia. E para todas elas, a minha resposta era sempre a mesma:

── Claro que não, eu também quis subir na árvore.

Ele não parecia convencido. Acho que deve ter escutado tantas vezes que a culpa era sua, que ele acabou fazendo a sua mente acreditar que realmente era. Mas ambos sabíamos a verdade sobre aquele dia, independente do que todos dizem.

     No final do dia, todos começamos a nos preparar para o tão esperado baile. Eu me atrasei um pouco por não estar encontrando meu outro par de sapatos, então Jungkook desceu antes mesmo que eu fosse tomar um banho.

Quando terminei de me aprontar já passavam das sete e meia. Fui rápido em descer as escadas e seguir para o salão do baile, do outro lado do castelo. No meio do caminho, algumas criadas me guiavam com as suas informações, e eu as agradecia, tentando não me perder ou esquecer o que elas haviam dito.

Antes da entrada, encontrei os meus pais, ele pareciam nada contentes com a minha demora, mas pedi-lhes perdão no mesmo instante, lhes assegurando de que o episódio não mais voltaria a acontecer. Eles aceitaram as desculpas e pediram que eu me apressasse em entrar, e tentasse ter uma dança no cartão da senhorita Jeon.

Apenas assenti sem questionar.

  Assim que atravessei a entrada do salão, meus olhos fitaram calmamente toda a decoração deslumbrante do lugar. Os Jeon's haviam mesmo se superado, o lugar estava lindo como em nenhum dos outros anos.

  No centro, as pessoas dançavam uma coreografia ensaiada para uma música animada que tocava. Moças sorriam e rapazes pareciam satisfeitos. A atmosfera estava perfeita, talvez por isso eu tenha ficado tempo demais parado na entrada.

A Fera e a Fera || TAEKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora