16- É, você sangra apenas para saber que está vivo

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KIM TAEHYUNG

 
 Existem dias bons e dias ruins.

Hoje é um dia bom. Tenho tido muitos dias bons.

Acordei ao lado de Jungkook esta manhã, e todas as outras manhãs nas últimas quatro semanas. Estávamos sempre sorrindo e animados, pois desde que me casei com Yuna, nós dois temos tido mais tempo juntos, agora que estou sempre na Coreia.

Estive na Tailândia a última vez no mês passado, e desde então eu não voltei para lá. As coisas estão bem e não precisam de mim por agora. Logo, tenho mais tempo para estar com o meu amado. O meu Jungkook, que sempre tem muito a me oferecer e histórias para compartilhar.

Quando eu disse a ele sobre o que sua irmã sugeriu, ele achou que seria arriscado e hesitou por um tempo, mas até agora, ele é o mais envolvido.

    Estava agora deitado em sua cama, o esperando voltar da vila, onde tinha ido antes de eu acordar. Meus olhos estavam fixos no teto de seu quarto, e os meus pés se balançando inquietos. Eu estava sentindo uma dor estranha em meu peito, como se algo ruim estivesse prestes a acontecer, e Jungkook ainda não ter retornado apenas fazia eu sentir mais medo, mas ainda sim, estava ansioso e nervoso por sua volta.

Ouvi os murmurinhos do lado de fora e me levantei rapidamente, caminhando até a porta, e quando a abri, assustei os criados todos amontoados juntos, conversando sobre algo que eu não deveria ouvir, já que se calaram ao me virem.

── O jovem Jeon Jungkook já retornou? ── perguntei-lhes com a voz firme. ── Os fiz uma pergunta!

Permaneceram quietos, mas uma das criadas, -deveria ter não mais que vinte anos-, se colocou na frente dos demais.

── Senhor Jeon Jungkook está sendo ameaçado pelo aldeões...── disse quase inaudível e com a cabeça baixa. ── Todos sabem sobre vocês

Senti meus nervos se repuxarem e o meu coração quase parar antes de disparar de uma vez. Minha visão ficou turva por alguns segundos, mas me recompus.

E então, a raiva se sobressaiu.

── Quem os contou? ── perguntei, ainda calmo. ── ME DIGA AGORA! QUEM OS CONTOU?

A mulher em minha frente se assustou, assim como os outros criados.

── Aquele que fica no estabulo, senhor ── proferiu em resposta.

── Desgraçado! ── cuspi a frase antes de correr escadas abaixo.

Meus passos eram rápidos enquanto eu ia em direção a entrada do castelo. Estava preocupado com Jungkook, e ao mesmo tempo com medo por nós dois. Ousaram espalhar sobre nós, e agora corríamos perigo.

Algumas pessoas tentaram me parar quando eu estava chegando na entrada, mas livrei-me de suas mãos e corri para fora. Todos os aldeões estavam ali. Adultos, crianças, idosos. Jungkook estava na frente de todos, e seu rosto banhado de lágrimas quando me olhou e sorriu.

Tentei aproximar-me dele, mas senti a ponta da lâmina de uma espada ser pressionada contra o meu peito, abrindo um rasgo pequeno em minha camisa.

── Nada do que eu disser irá ser o suficiente para fazer com que acreditem em mim, então talvez eu não deva mais esconder a verdade ── Jungkook começou a falar, arriscando dar um passo a frente. ── Eu gosto de homens e estou apaixonado por Kim Taehyung. Não me sinto mais sujo ou doente, porque este homem não deixou que isso acontecesse ── ele apontou para mim.

Senti meu coração se acelerar ainda mais, e não achei que isso fosse possível. Meu olhos arderam e lágrimas caíram alguns segundos depois.

── Não acredito que Deus vá me condenar por isso, mas se ele quiser, que seja...── Jungkook tinha sua cabeça erguida ao proferir cada palavra. ── ESTOU AQUI! ── ele gritou.

Abriu seus braços e caminhou entre aquelas pessoas, deixando-me aflito.

── ESTOU AQUI! DISPOSTO A MORRER PELO MEU AMOR ── gritou mais uma vez, e eu precisei intervir, mesmo que isso me custasse a vida.

── NÃO! ── e todos os olhares estavam em mim . ── Percebem o quão egoístas estão sendo? Jeon Jungkook fez de tudo por vocês e assim que retribuem?

E todas aquelas pessoas começaram a falar ao mesmo tempo, fazendo que o barulho que era para ser baixo, tornasse alto o bastante para que eu não conseguisse entender nenhuma delas.

── O rei que ajudou! ── ouvi uma voz masculina se sobressair entre todas aquelas.

── Pelo contrário! O rei não queria que Jungkook e eu vós ajudassem, fizemos tudo contra sua vontade ── confessei em voz alta. ── Então, podemos mandá-los embora quando quisermos

Um tempo em silêncio.

── É mentira! Está mentindo só para a gente fique com medo ── outra voz gritou. ── Mas não ficaremos com medo e nem com pena. Levem seu amor para o inferno junto com vocês!

Tentei me mover, e novamente a espada fora pressionada em meu peito, dessa vez rasgando minha pele, mas sequer consegui dor, apenas um leve ardor. Minhas orbes estavam focadas em Jungkook, que me olhava de longe.

── Por que estão bravos? Jamais fizemos mal algum a vocês ── continuei. ── Nos amamos e somos dois homens, mas isso não irá afetá-los nunca. Apenas nos deixem ir e respeitem nosso amor

── Senhor Kim Taehyung está certo! Ele e o senhor Jungkook foram os que mais nos ajudaram e estamos a condená-los apenas pela forma como amam? Isso é injusto ── foi a senhorita Min-ji a dizer. A da tenda das jóias. ── Deus nos ensinou a amar, nunca disse que homens não podem amar homens ou mulheres não podem amar mulheres. Se existe amor, então qual o problema?

Todos ficaram em silêncio novamente, olhando uns para os outros e vez ou outra para mim e Jungkook.

Eles não queriam nos machucar, pois se quisessem, já o teriam feito. Tiveram inúmeras chances de atacarem Jungkook e a mim. Estávamos vulneráveis.

E um tempo depois, todos pareciam mais tranquilos. Minha respiração havia se estabilizado, e as lágrimas parado de cair, mas ainda existia medo em meu coração. Eu ainda me sentia nervoso e receoso quanto a qualquer reação que aquelas pessoas poderiam ter.

Eu ainda tinha aquela lâmina em meu peito.

── Estão mesmo acreditando nisso? Deus jamais aceitaria isso! ── e um homem caminhou para frente dos demais aldeões. ── Mas se acreditam que sim, então deveriam perguntá-lo pessoalmente ── e eu vi a sua faca ser enterrada acima do quadril de Jungkook.

Meus olhos se arregalaram e meu coração disparou novamente. Segurei a lâmina em minha frente com uma das mãos, sentindo ela cortar a minha pele, e a afastei do meu peito, correndo em direção ao corpo de Jun caído no chão. Em sua camisa tinha uma mancha vermelha de sangue, e os seus olhos lutavam para ficarem abertos.

As pessoas ao nosso redor se desesperaram, mas todo o som tornou-se agudo.

E então, uma pancada forte na minha cabeça fez com que eu desmaiasse.

A Fera e a Fera || TAEKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora