JEON JUNGKOOKNão achei que um dia eu poderia sentir o sabor da libertação ao degustar os lábios daquele que amo intensamente desde que eu era apenas um pequeno garoto. Nem mesmo achei que um dia eu pudesse beijá-lo, que um dia ele me escolheria como alguém que teria a honra de beijar os seus lábios macios e delicados. Não que ele tenha dito que me escolheu, mas pude sentir quando, durante o beijo, a ponta dos seus dedos tocaram o meu rosto.
Sentia-me feliz. Completo. Mas, ainda sim, não pensei em seus sentimentos. Taehyung sempre fora o garoto que faz tudo para que os pais continuem orgulhando-se dele, e talvez não tenha gostado do que fiz, mesmo que tenha retribuído. Fora inevitável não sentir o sentimento de culpa tomando conta do meu ser, começando como uma pintinha em meu cérebro, que se foi se espalhando por todo o corpo.
Até chegar no coração.
Toda felicidade se esvaiu de repente, dando espaço para a culpa, a tristeza, e o medo. Arrisquei-me a fazer algo que comprometeu uma amizade de longa data, e não encontrava-me pronto para arcar com as consequências.
Senti meu peito afundar-se em desânimo, e dos meus olhos caírem lágrimas gordas. Meu corpo inteiro entrava em agonia, e eu nem mesmo conseguia manter as minhas mãos paradas, elas estavam tremendo como se estivessem expostas a um frio de um dia de nevasca.
Dedos quentes tocaram meu rosto, enxugando as lágrimas que o banhavam, e os mesmos dedos levantaram meu rosto. Ele também chorava. Talvez chorasse de desdém, de raiva, por achar que um dia me olharia como sempre o olhei. Seus olhinhos estavam ainda mais pequenos, e os seus lábios tremelicavam.
── Perdoe-me, Tae. E-eu não deveria ── disse entre soluços. ── Não me deixe por um erro meu, eu imploro. Eu não estava a pensar direito e...── os seus lábios me calaram.
E por um momento fui tomado pelo espanto. Estava embasbacado e demorei para retribuir. Sua mão acariciava meu rosto e vez ou outra meu cabelo.
Ele não me odeia. Pensei.
Taehyung afastou-se lentamente, demorando a abrir os seus olhos.
── Jamais diga que foi um erro ── sussurrou audível o bastante para que eu o ouvisse. ── Acha-me um erro? ── neguei rapidamente.
── É a coisa mais certa que já fiz ── toquei as suas mãos.
Senti os seus braços serem jogados por cima dos meus ombros, e o recebi em um abraço quente e acolhedor. E então, todo o meu corpo acalmou-se. Meu coração batia normalmente, minhas mãos pararam de tremer e as lágrimas não mais caíam. Taehyung mandou embora todas as coisas ruins que eu senti por um tempo.
Minhas mãos desciam e subiam pelas suas costas, enquanto meus braços o prendia naquele abraço, cheio de sentimentos verdadeiros.
── Amo-te, Jun ── ele disse ao se afastar.
── Também o amo, Tae. O amo mais do que seria capaz de dizer durante uma vida inteira ── ele sorriu. Um sorriso tão verdadeiro que senti meu coração exultante.
Permanecemos juntos o restante daquele dia. Corremos, cantamos, conversamos, nos beijamos. Não é como se eu estivesse disposto a beijar os lábios de Taehyung durante toda a minha vida, mas eles eram como um caramelo de chocolate, tão doces e viciantes que me entorpecia.
No começo da noite, retornamos para o castelo. Tae foi o caminho inteiro de volta segurando firmemente em meu corpo. Em parte acho que seja pela velocidade, ou apenas estava tentando dizer que jamais se soltaria de mim.
Passamos os próximos dois dias saindo juntos. Eu o levei até a vila, em tendas de cartomantes, joalheiros e até para experimentar roupas. Muitos plebeus ficaram embasbacados com a nossa presença, o meu pai jamais pisara o pé em um local como este.
Taehyung comprou um cordão para mim e um para ele, exatamente iguais, ambos eram decorados por uma pedra da lua. Ele colocou o cordão em volta do meu pescoço, e me pediu para que eu jamais o tirasse. Repeti o processo e lhe disse as mesmas palavras.
No nosso último dia juntos, antes de sua família voltar para a Tailândia, eu o levei para ver o pôr do sol do alto de um desfiladeiro. Sentamos-nos ao chão, e ficamos a observar em silêncio. E enquanto o sol sumia, dando lugar ao mais belo astro, Taehyung dormia com a cabeça apoiada em meu colo.
Fiquei a observar sua face tranquila e serena por quase vinte minutos. Não entendia como algo tão puro poderia ser tão condenado. Somos humanos, mas nos tratam como se fossemos de outra espécie, como se fossemos animais. Estamos apenas nos amando, o que pode ser tão ruim nisso?
E eu chorei novamente. Chorei por saber que jamais poderíamos ficar juntos. Chorei por amá-lo tanto. Chorei por aquela ser a nossa despedida. Aproveitei também para chorar por outros motivos.
Ao retornarmos, nossos pais nos esperavam ao lado de fora do castelo. Sabia que aquele era o momento pelo qual rezei tanto para que não acontecesse.
Estavam indo embora...
Descemos do Ártico, e eu fui rapidamente colocá-lo de volta no celeiro. Quando voltei, ainda estavam lá. Mi-suk fora a primeira, veio em minha direção e me estendeu a sua mão.
── Venha nos visitar mais vezes, senhorita Kim ── proferi, beijando o dorso de sua mão. ── Foi um prazer recebê-los ──
── Voltaremos logo, Jeon ── me respondeu, sorrindo em seguida. ── Agradeço por nos receber. E vá nos visitar também, adoraremos tê-lo em nossa casa.
Assenti como quem diz que vai analisar a proposta.
Em seguida, fiz uma breve reverência ao senhor e a senhora Kim, desviando-me os olhos para o garoto que se aproximava. Taehyung parecia não querer partir, e eu senti ele me dizer isso através do abraço apertado que me deu, suspirando próximo ao meu ouvido.
── Até breve, Tae ── murmurei para que apenas ele me ouvisse. ── Prometa que vai me escrever
── Te escreverei em breve ── sussurrou de volta para mim, se afastando lentamente. ── Irei sentir a sua falta, assim como da primeira vez
── Também sentirei sua falta, Hyung ── ele sorriu para mim e me abraçou novamente, dessa vez mais rápido. ── Por favor, não se esqueça de mim
── Não seria capaz de tal atrocidade
Ouvi seu pai pigarrear, e nos afastamos mais um pouco. Seus olhos encontraram-se com os meus, e eu vi que estava segurando-se para não derramar lágrimas, assim como eu.
── Chan rak khun¹, Jun...── disse apenas para mim, fazendo-me corar. Sua voz falando tailandês era a minha nova coisa favorita.
── Saranghaeyo², Hyung...── disse de volta, em coreano.
E ele se foi, mais uma vez...
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Olá, vossas graças!
¹ "eu te amo" em tailandês
² "eu te amo" em coreanoBeijinhos do Theo<3
Vejo vocês no coração da floresta!
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A Fera e a Fera || TAEKOOK
FanfictionJeon Jungkook e Kim Taehyung, não tem uma pessoa que conheça esses nomes e não sinta um arrepio percorrer pela espinha ao ouvi-los. Jeon e Kim são príncipes herdeiros, e se conhecem desde crianças. Eles crescem até determinado momento da vida juntos...