7- E cedo ou tarde isso acabará

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  KIM TAEHYUNG

   Desde que deixamos o chalé de nossos amigos, eu tenho pensado sobre o que disse a Min Yoongi, e o que falei mais cedo com minha irmã. Meus pensamentos mais profundos estão se acumulando em minha mente como uma grande bola de neve.

Sinto-me exausto em relação a tudo.

  Minhas mãos estão segurando firmemente na cintura de Jungkook, enquanto ele levá-nos de volta para a sua residência, e naquele momento, nem mesmo a velocidade que estamos indo me importa. Estou tão focado em meus pensamentos que sequer consigo sentir medo de cair.

Tentei desvencilhar-me das mil coisas que estavam em minha mente, e passei a olhar o caminho por onde passávamos. Foi então que, com um lapso de memória, pedi para que Jungkook parasse.

── Podemos ir mais para frente, se quiser ── sabia o motivo de estar sugerindo isso. ── Este lugar traz para mim péssimas lembranças

── Está tudo bem, Jun. Eu ficarei ao seu lado ── garanti quando descemos do Ártico.

Ele prendeu o cavalo em um tronco de árvore, e caminhou até mim, se pondo ao meu lado. Estávamos diante da causa do nosso afastamento por quase nove anos, a árvore de onde eu caí quando ainda era um garotinho.

Jungkook parecia tenso ao meu lado. Deslizei meu braço para o lado e segurei-lhe a mão, passando confiança.

Nos guiei para mais perto da árvore, e sentei-me no chão, trazendo-o para que fizesse o mesmo. Nos escoramos no tronco, e permanecemos ali, em silêncio, enfrentando um demônio do passado que ainda nos assombrava.

── Perdoe-me ── proferiu. ── Perdoe-me por dilapidar parte do seu ano. Se eu não tivesse os trago, jamais teriam subido na árvore ──

Virei-me para ele e segurei em suas mãos, tentando fazer com que olhasse em meus olhos, mas ele não o fazia.

── Não se culpe, Jungkook, todos quisemos e éramos apenas crianças ── repeti o que já havia lhe dito.

── Não consigo olhar em seu rosto, ver as cicatrizes e sentir que não foi minha culpa ── sua voz vacilou. ── Se não por mim, jamais teria adquirido essas cicatrizes ──

Engoli seco, sentindo-me intalado por segurar o choro.

── Olhe para mim, Jungkook ── pedi, mas não o fez. Segurei-lhe as mãos e as coloquei em meu rosto. ── Jun...

Ele levantou seu rosto, e me olhou finalmente. Seus olhos estavam vermelhos. Eu jamais seria capaz de perdoar quem o fez acreditar que era culpado por tantos anos, olhe só o mal que isso lhe causara.

── Acha-me feio por minha cicatrizes? ── perguntei-lhe, olhando-o nos olhos.

── Nunca. És o garoto mais belo que já vi em terra ── seu polegar acariciou meu rosto. ── Não me entenda mal, não foi o que eu quis dizer. Você é o mais próximo da perfeição que eu conheço

── Então por que está a se culpar tanto se eu estou bem? ── coloquei minha mão sobre a sua que estava em meu rosto. ── Lembra-se do que eu disse quando foi me visitar?

Ele retirou a sua mão do meu rosto e abaixou o seu olhar, assentindo brevemente. Então diga-me. Quero lhe ouvir dizer. Pensei.

── Disse-me para não esquecer que...── se interrompeu, olhando-me novamente.

── Para não esquecer que eu o amo ── terminei por ele. Segurei uma de suas mãos, e a levei até o meu peito, onde meu coração batia tão rápido quanto um trem se move. ── Ainda o amo

Lançou-me um sorriso sorrateiro, e piscou algumas vezes, afastando a sua mão novamente.

Costumo importar-me bastante com as consequências dos meus atos. Sempre analiso se valerá a pena arriscar-me tanto por algo que não tenho certeza. Sei que logo mais me tornarei rei, meu pai está velho, e não irá permanecer muito tempo no trono. Responsabilidades cairão como uma tempestade sobre mim, e tenho de estar preparado para quando isso acontecer.

Também sei que faço algo arriscado, mas vendo os meus amigos, sinto como se tudo me fosse possível. Não posso retornar a Tailândia com esses sentimentos apenas para mim. Não novamente.

── Posso lhe perguntar algo? ── olhou-me e maneou a cabeça positivamente. ── O que me diria se eu contasse que sou igual aos nossos amigos? ──

Seus lábios entreabriram-se, mas ele não disse nem mesmo uma palavra. Não soube decifrar a sua reação, nem mesmo distingui-la como algo bom ou ruim.

── Você é? ── perguntou-me depois de três torturantes minutos.

── Me sinto igual

── Tae, eu...── sua boca se abria e fechava, e nem mesmo um ruído de som era emitido. ── Estou bem com isso, jamais o condenaria. Mas, como sabe?

Foi minha vez de desviar o olhar de seu rosto e focar-me na vista em minha frente. Estávamos a vários metros de um desfiladeiro, mas ainda sim era possível vê-lo. As árvores que nos cercavam tornavam o lugar parecido com uma pequena floresta.

── Sinto-me bem quando estou com alguém. Como se eu pudesse contar-lhe todos os meus desejos, e esse alguém jamais me julgaria ── comecei a falar, ainda olhando para frente. ── É um sentimento imoral e incerto, mas avassalador e genuíno. Tão puro que não entendo porquê o odeiam. Por que condenam um amor que é verdadeiro apenas porque é diferente?

Maneei negativamente mais para mim mesmo.

── Cresci sentindo-me sujo, como se estivesse sido amaldiçoado por forças maiores ── prossegui, sentindo minha voz embargar. ── Mas eu não sou uma fera, sou?

Foi a sua vez de segurar-me nas mãos. Seus dedões as acariciaram por vários minutos em que ele se manteve em silêncio, e depois de um tempo, eu arrisquei olhá-lo. Estava chorando sem fazer barulho algum.

Soltou uma de minhas mãos, e usou o dorso da sua para enxugar as lágrimas. Ele já estava se recompondo.

── Queria poder protegê-lo de todo o mal, mas estaria lhe contando uma mentira se dissesse que posso ── proferiu. ── Quem sabe um dia no futuro você possa se libertar dessas correntes que o mantém preso

Assenti, querendo prosseguir para que me entendesse melhor. Creio que não tenha compreendido inteiramente o que eu lhe quis dizer, mas então, ele continuou.

── E não pense que é uma fera ── ele sentou-se em minha frente, mais próximo do que antes. ── Pois se for...eu também serei

Inclinou-se para frente, e juntou seus lábios nos meus. Foi rápido, mas pude sentir-me completo pelos segundos que durou. Seus lábios eram tão macios quanto seu rosto, e o seu perfume ficou mais forte quando estava próximo. Ele havia usado minhas pernas para apoio das suas mãos, e quando as afastou, senti um vazio.

Eu beijei um garoto. Pensei repetidamente. Foi tão errado, mas me pareceu tão certo.

A Fera e a Fera || TAEKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora