Amicas

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Sicília, Itália — SEGUNDA-FEIRA 10:00 A.M

Estava frio, apesar de um sol branco ocupar um pedacinho do céu, não estava quente o suficiente para aquecer e o vento gélido entrava pela fresta da janela, bagunçando meu cabelo e arrepiando a minha pele. Talvez fosse melhor se eu nem tirasse o pijama, e acrescentasse mais um casaco ao meu "look". Do quarto, sentia o cheiro das clássicas torradas da vovó sendo preparadas e eu mal podia esperar para devorá-las.

Quando cheguei a cozinha, vovó já estava sentada a mesa lendo o jornal, enquanto bebericava uma grande caneca de café com leite. Sorri e me sentei ao seu lado, deixando um breve selar em sua testa.

— Bom dia Nonno. — disse me servindo. — Havia me esquecido que estávamos prestes a entrar no inverno, sorte minha ter trago bons casacos!

— Pois é querida. — disse erguendo seu rosto e me encarando. — Depois do almoço, preciso dar uma saída. Você vem comigo ?

— Ah claro... vai ser bom me distrair... — respondo animadamente.

— Bom, sirva-se. Tem café e chá, tome o que preferir. — disse e repousou o jornal em cima da mesa, com uma expressão pensativa em seu rosto. — Avevo dimenticato che è il mese della dannata festa (Havia me esquecido que estamos no mês da maldita festa).

festa? Qual festa Nonno? — pergunto curiosa enquanto encho uma xícara de chá verde.

— Nada querida, esqueça. — suspirou negando com um aceno e se levantou. — preciso ir à feira buscar alguns legumes, você vem?

— Acho melhor ficar vovó, vou aproveitar para ligar para a mamãe e tranquilizá-la. — sorri e ela assentiu saindo do cômodo. Fiquei a pensar em tudo, em Henrico, e o fato de ele ser um Capo agora.

Será que ele havia ficado tão ruim ao ponto de não querer me ver? De não me considerar como sua amiga?

Fui cortada de meus pensamentos com a campainha a tocar, não podia ser vovó já que ela era a dona da casa, e não precisava de permissão para entrar. Mas eu também, não estava esperando por visitas, ainda que eu tenha postado uma foto com a vovó no Instagram. Talvez alguns velhos conhecidos tenham visto, mas quando olhei pelo olho mágico dei um grito um tanto quanto agudo, abrindo a porta às pressas.

— ALICE !! — gritei e a garota alta e magrela se jogou contra o meu corpo fazendo com que ambas caíssemos no chão. — Ai, sua louquinha! — resmunguei com uma careta enquanto ria.

— Amiga, nem acredito que é mesmo você! — sorriu animada enquanto apertava minhas bochechas gordinhas e me enchia de beijos na testa. — Que linda, que saudade!!! É real? Nossa você tá tão diferente...

— Amiga, já se passaram anos, claro que eu mudei, você também. — disse igualmente animada e dei espaço para que ela entrasse. — Veio só você ?

Sí. Mio fratello non sa che sono venuto, ho chiesto il permesso ma non me lo ha concesso, quindi sono entrato nascosto. (Sim, meu irmão não sabe que vim, eu pedi mas ele não me deu permissão, então vim escondido). — disse caminhando em direção ao sofá. — Ah amica, que bom te ver.

— Digo o mesmo.— sorri. Não sabíamos se falávamos em italiano, ou inglês, talvez um pouco dos dois e estava até engraçado. —  Você disse sobre o seu irmão, e como ele está ? — questionei curiosa.

— Está bem. — ela desviou o olhar. — Suponho que já saiba que ele...

— É o capo, sei. Nonno me contou. — suspirei. — E disse que não é mais o garoto que eu conheci.

— Ela tem razão. — Alice disse segurando a minha mão. — Henrico mudou bastante desde que assumiu o posto amiga, substituindo o vovô. Papai fugiu como um covarde e ele foi obrigado a assumir tudo. Então claro que isso ia mexer com as estruturas dele não é? — sorriu sem jeito.

— Imagino. Mas, eu sinto falta dele. — suspirei a encarando. — Não há nenhuma maneira de vê-lo?

— Amica, o problema é se ele vai querer vê-la. Henrico não recebe visitas a menos que seja mercado e de extrema importância. Eu entendo que vocês eram próximos antes mas, as coisas mudaram. — ela diz sem jeito, e é impossível esconder meu desapontamento. — Eu sinto muito.

— Tudo bem, você só está sendo sincera. — sorri triste.

— Mas mudando de assunto, quanto tempo vai ficar por aqui? Na Itália... você voltou para ficar ou... — questionou curiosa.

— Vou ficar alguns dias com a Nonno, ainda não sei quanto tempo, mas eu não pretendo voltar a morar aqui só estou, a visita. — digo e me levanto caminhando até a cozinha. — Vem, tem chá.

Ofereço pois sabia que chá verde era uma das bebidas favoritas dela já que sempre via ela postando no Instagram que fazia parte de sua manutenção de peso e dietas malucas. Como se ela precisasse.

— Sabe, se você ficar até o fim do mês, você pode ir à festa. — sorriu animada. — Cada um de nós irmãos, temos o direito de levar um convidado ou convidada, você pode ser a minha. Henrico não poderá se opor, e você ainda poderá ver ele, já que quer tanto. — sorriu.

— Festa, qual festa? — questiono confusa lhe entregando a xícara.

— Meu irmãos sempre dão uma festa, não tem nenhum motivo especifo, é apenas para diversão. É um baile de gala. Vai algumas pessoas importantes, algumas eu nunca vi em toda a minha vida, outras são conhecidas, de máfias aliadas, outra são da família, enfim... é uma boa festa. — diz dando de ombros. — Você vai?

Penso um pouco a respeito. Eu deveria ir? Ela mesma disse que as coisas mudaram, vovó também havia dito que Henrico não era mais o mesmo e também não éramos mais amigos. Talvez, não fosse uma boa ideia eu comparecer a essa festa.

— Acho melhor não, Alice. — suspiro. — Eu nem sei se ele vai aprovar minha presença e tenho medo de lhe causar problemas.

— Amiga, eu não tem que aprovar nada, é uma festa em nome dele, do Aron e do Ashton, e você é minha convidada. Não vai estar lá por causa dele, bom, não totalmente. — ela dá uma risadinha. — Acho que deveria ir.

— Eu com certeza ficaria horrível em roupas de gala, ganhei tanto peso. — murmurei sem jeito.

— Como se fosse possível você ficar feia. — ela rolou os olhos. — Você é linda, e quanto a roupa, não se preocupe. Eu vou cuidar disso, você só precisa me dar certeza se realmente vai.

— Tá, eu acho que posso...ir. — digo com muito custo e vejo seus olhos brilharem.

Mas isso foi só questão de tempo, até seu sorriso murchar e seus olhos se tornarem aflitos ao olhar o celular. E então ela o vira em minha direção para que eu pudesse ler o nome que brilhava na tela. Engoli em seco, e pude ver que sua mão estava trêmula ao atender e colocar no viva voz.

— Você ainda que consegue me enrolar Fratella ?! Eu sei que está com Virgínia. E é melhor que esteja em casa para o jantar, e ah... como eu estou de bom humor hoje, traga sua amiga como convidada, meus homens dão um jeito de levá-la depois.

Ela arregala os olhos e me encara apreensiva. Ele estava mesmo pedindo que ela me levasse até Roma? Suspirei e neguei rapidamente, mas não era como se fosse adiantar muito já que ela apenas disse...

— Claro Fratello mio, estaremos aí para o jantar. Obrigada pela compreensão.

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