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VIRGÍNIA FERRARI



Não adiantava negar para mim mesma, eu não parava de pensar na noite anterior, no beijo, em Henrico.

Mas também não podia simplesmente ignorar suas palavras cruéis e sua indiferença durante o café da manhã, alegando que não era como se fosse morrer se eu decidisse ir embora, ele não se importava e eu não conseguia entender porque mesmo sabendo daquilo, eu ainda queria que ele se importasse, que até mesmo... ele me pedisse para ficar.

O plano no início, nunca foi voltar para a Itália. Eu ficaria alguns dias com a Nonno e depois voltaria para casa, para os meus pais. No entanto, eu estava demorando mais do que gostaria e estava presa na bagunça de Henrico, sem saber o propósito real da minha presença em sua vida, no seu espaço.

Ele diz que é porquê podem me usar para atacá-lo, mas como o atacaria se ele não se importa? Como ele se sentiria afetado? Às vezes ele faz parecer que ainda é o mesmo, o meu velho amigo, que ainda sente consideração que seja por mim, mas então...ele estraga tudo com a sua frieza e jeito rude.

Mas ainda havia o fato de que tínhamos nos beijado, e ele claramente quis aquilo. Ele foi quem me puxou para perto, ele não me afastou, suas mãos tocaram o meu corpo. Se ele realmente não se importasse, ele não teria feito, não é?

Mas eu me lembrava dele dizer que eu não o atraía.

Henrico me deixava confusa, era difícil saber no que ele estava pensando ou até mesmo o que ele realmente queria.

— Virgínia, eu posso entrar? — ouvi a voz de Alice do outro lado da porta me tirando de meus pensamentos.

— Pode...! — respondi rapidamente negando com a cabeça enquanto levava as mãos às próprias bochechas as sentindo quentes. Idiota.

A porta se abriu, e Alice passou por ela com um sorriso contido nos lábios.

— Como você está? — ela perguntou meio sem jeito. — Me desculpa, eu não devia ter falado nada mais cedo.

— Estou bem. — respondi suspirando. — É, você não devia. Pode passar a impressão errada para os seus irmãos!

— Eu sei, mas é que eu fiquei tão animada em ver vocês e...

— Alice, seu irmão e eu não temos nada. — disse séria.— O que você viu, foi um erro. Algo que fugiu do nosso controle, uma irresponsabilidade, não vai mais acontecer.

— Mas, eu acho que vocês deveriam tentar, sabe? — disse com um bico nos lábios, se aproximando. — Ele se faz de difícil, mas eu sei que ele ainda gosta de você, e você? Gosta dele?

Engoli em seco a encarando, podia sentir meu coração acelerado, batendo feito um louco dentro do peito. As lembranças de toda a nossa infância e pré adolescência invadindo minha cabeça, as lágrimas se formando no canto dos olhos.

Eu gostava dele?

Eu queria não gostar.

— Não podemos, Alice. Seu irmão é um capo, tem suas responsabilidades agora, suas prioridades, eu não sou uma delas. — disse sentindo meu coração doer. — E além disso, eu vou voltar para casa de qualquer maneira! Vou falar com Henrico sobre isso.

— Virgínia... — Alice tinha os olhos marejados enquanto me encarava. — Por favor, não vá embora...de novo...

— Alice, eu...preciso...— disse segurando suas mãos.— Olha nós não podemos agir como se o tempo não tivesse passado, eu...pensei que poderíamos mas-

— Oi, desculpa interromper... — Demétria disse parada na porta. — Mas eu acho melhor vocês descerem.

— O que houve? — Alice perguntou confusa se levantando.

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