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-Qual o seu problema?Eu já te disse um milhão de vezes, eu não gosto dessa menina com você, ela é uma má influência, com certeza o espírito do maligno usa ela para te desviar dos caminhos de Cristo.

Minha mãe gritava enquanto fechava a porta do meu quarto, eu sabia o que vinha a seguir, eu não conseguia chorar.

-Você não pode ser uma aberração igual a ela, eu nunca, ouve bem! Nunca vou aceitar uma sapatão endemoninhada na minha casa ouviu bem?

Concordei encarando seus olhos negros.

-Você vai aprender a nunca mais trazer essa menina diabólica pra minha casa -ela veio pra cima de mim com sua mão fechada, ela ia me socar, minha mãe nunca tinha feito isso.

Ela não batia no meu rosto, ou nas minhas pernas. Ela batia na minha costela, na minha barriga, nos meus braços. Minha mãe estava lutando comigo, mas eu não lutava de volta, apenas me defendia como podia.

-Você nunca mais vai fazer isso S/n, ouviu bem?

-Para mãe..

Ela não era minha mãe.

Eu estava morrendo de medo, sentia minha boca salivar e minha garganta trancar, a respiração não subia para os meus pulmões e eu mal conseguia respirar, eu mal conseguia sentir meu corpo, eu mal conseguia sentir alguma coisa.

Eu sentia medo, muito medo.

-Você é um desgosto para sua família, seu pai tem sorte de estar morto, agora vá rezar para Deus perdoar seus pecados.

Minha mãe deixou meu quarto batendo com força a porta, eu tinha acabado de apanhar tanto que mal sentia meus olhos quase se fechando. Eu odeio esses episódios, quando ela surta e me bate.

Pela primeira vez não citou Deus ou Jesus para justificar seu ato criminoso, ela só fez o que faz de melhor, ser babaca e uma péssima mãe comigo. Eu me sentia pior do que das outras vezes.

Miau..

A gata pulou minha janela se aconchegante nas minhas cobertas sobre a cama, ela estava cheirosa e estava dengosa hoje. Ela grunhia se esfregando em mim.

As lágrimas quentes finalmente ficaram a vontade para descer por meu rosto vermelho. Ela ela havia me dado alguns tapas no rosto, mas nada que me marcasse, não como na minha barriga. Eu ainda não aprendi a reagir depois que acontece, acho que nunca vou conseguir aprender.

-O que você faz aqui? -falei com a gata manhosa entre soluços .

Deixei seu corpinho sobre minha cama e caminhei com dificuldade até o banheiro, eu queria vomitar, mas não conseguia. Enfiei meus dedos em minhas garganta sentindo bater fundo e forçar meu corpo a eliminar tudo em meu estômago.

Forcei mais meus dedos e logo todo meu suco gástrico estava na privada, e todo meu choro de tristeza se transformou em desespero. Eu quero morrer.

Senti meu peito apertado e minhas mãos trêmulas, meus dedos mal conseguia equilíbrio o copo de água nas minhas mãos.

O relógio marcava 03:33, o tempo sempre passava mais rápido pra mim quando eu estou a beira de um colapso mental, fazia frio e eu com certeza não sentiria tanto se colocasse mais camadas de roupas, mas eu não queria e nem podia me levantar da cama.

O drama de estar novamente nessa situação é horrível, é sempre igual, uma melancolia sem fim, um tumulto de emoções que uma garota da minha idade não deveria sentir.

...

O dia amanheceu rápido demais, eu não tinha a mínima vontade de ir para escola, mas se ir pra lá significa ficar algumas horas longe da minha mãe, eu já estava pronta descendo as escadas com dificuldade. Usando meu uniforme e um moletom, sentia meus órgãos com sérios problemas para funcionar, eles provavelmente iriam parar se eu não comesse nada e eu não comi.

Amor, eu vejo você na minha janelaOnde histórias criam vida. Descubra agora