•Culpada •

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Ray ainda estava calada, eu juro que podia ouvir o som dos
seus dentes rangendo na boca. Ela estava sentada na minha cama enquanto eu trocava de roupa, seus olhos estavam vidrados nas próprias mãos.

–Ei –segurei seu rosto –Que foi?

–Nada.

–Me fala, o que você tem? –me ajoelhei a sua frente descansando minhas mãos em suas coxas.

–Promete que vocês não fizeram nada naquele banheiro –ela disse pondo suas mãos sobre as minhas.

–Eu juro, a gente não fez nada –menti sentindo minha boca secar rapidamente.

Okay, eu estou muito idiota agora.

A dor nos muda? Muda, nos faz ficar horríveis.

Eu não consigo sentir remorso, ou culpa, ou medo, ou qualquer coisa. A única coisa que eu quero é que o que aconteceu naquele banheiro se repita mais e mais vezes.

Seus olhos escuros pela noite pareciam tristes, como se ela soubesse a verdade.

–Por favor, acredita em mim –beijei seus lábios delicadamente segurando seu rosto sem pressão –Ela só foi pegar toalhas e me pedir desculpas.

–Acredito em você –ela sorriu sem mostrar seus dentes e retribuiu com mais alguns beijos –Será que tem problema se eu dormir aqui?

–Acho que não, acho que a Billie não se importa –falei.

–Sei lá, acho que ela não gosta muito de mim ainda..

Encarei ela confusa.

–Isso aqui –ela mostrou a cicatriz no interior do lábio –Foi ela quem fez.

–Mas ela não apanhou sozinha.

–Eu só me defendi –ela se explicou –Do nada eu levei um soco e queria que eu fizesse o que?

–Não mandasse ela pro hospital.

–Tá, admito, eu exagerei –ela ergueu as mãos –Mas ela quase quebra meu aparelho, o que foi ponto positivo pra ela.

–Tá bom –gargalhei dela –Vocês duas bateram e apanharam muito.

Ela sorriu novamente e selou nossos lábios num beijo quente, sua mão envolveu meu cabelo nos dedos e lentamente ela me fez levantar para subir em seu colo. Ray mordiscou meus lábios, e com carência apertou minha cintura me fazendo arrepiar.

Encarei seus olhos lindos, eu mal conseguia encarar ela por muito tempo. Talvez eu fosse a maior culpada por eu me sentir assim, mas sabe, eu faria igual.

Não vou justificar meu erro falando que sou uma pessoa horrível, ou que tive uma vida horrível, ou que estava bêbada. Mas eu simplesmente não consigo me sentir culpada. Talvez eu realmente seja uma pessoa horrível e isso não culpa dela, ou da Billie.

Eu não sinto nada!

E quando aquele sentimento ruim voltar, por que ele sempre volta. Não se esqueça de como se sentiu, às vezes você cultiva essa dor por que é muito melhor sentir alguma coisa, do que não senti nada.

Eu queria tanto me sentir culpada.

–Ei –ela segurou meu rosto.

Voltei a encarar seus olhos.

–Você parou do nada, tá tudo bem?

–Tô sim –segurei seu rosto novamente beijando seus lábios, suas mãos foram as minhas coxas me arracando arrepios. Desci meus beijos mordiscando sua orelha, seu pescoço tinha um cheiro único.

Amor, eu vejo você na minha janelaOnde histórias criam vida. Descubra agora