Quando as coisas reviram no meu estômago, eu começo a ficar tonta e com uma puta dor de cabeça. É totalmente deprimente saber que estamos cada vez mais decadentes. Me sinto estragada e destruída, mesmo que isso nem seja sobre mim. Demorei muito para perceber que Pâmela precisava de mais do que uma amiga. Ela precisa de uma defensora. Emilly é muito fraca para isso, as outras amigas dela são todas falsas, os pais dela só lembram dela por interesse em algo ou quando ela está enfiada em algo que pode arruinar a reputação deles. Eu me sinto tão inutil, tão fraca para proteger ela... Mas ao mesmo tempo, sinto que não é isso que ela quer. Não é isso que ela espera de mim.
flashback on
- Tá, então você quer cookies com leite para lembrar a infância...? - cruzei as pernas e abracei um pequeno travesseiro que estava por perto da cama. Pâmela estava ao meu lado, sentada na cama com seus pés em cima das minhas pernas. Uma de suas mãos estavam manuseando um pirulito dentro da sua boca e a outra estava repousando sobre sua barriga.
- Claro, por que não? Aí, se você quiser, podemos dividir.
Desci rapidamente para a cozinha, logo abrindo os armarios a procura de alguns cookies. Havia encontrado alguns com a embalagem ja aberta. Aproveitei e peguei dois copos; abri a geladeira e encontrei o leite, que rapidamente despejei uma pequena quantidade nos nossos copos. Peguei todo esse magnifico banquete e abri a porta. Reparei que Pâmela não estava lá, mas que tinha a minha imagem no seu celular que estava em cima da cama. Me perguntei "que diabos?", e depois ouvi barulho de choro vindo de seu banheiro. Sim, seu quarto era uma suíte, então a porta do banheiro ficava dentro do quarto. Fui até a porta e coloquei meu ouvido mais próximo para ouvir ela com mais facilidade. Para o meu azar (ou não), ela abriu a porta repentinamente com o rosto limpo, como se quisesse disfarçar seu choro. Quando ela notou que eu havia acompanhado seu drama, ela não disse nada. Seus olhos começaram a derramar algumas gotas de lágrimas, seus lábios estavam trêmulas e ela ficou ofegante. Puxei ela para um abraço; mas não era apenas um abraço, era um abraço envolvendo emoções. O tipo de emoções que eu não consegui sentir por mais ninguém além dela. Eu não entendia esse sentimento estranho que vinha de dentro de mim; como se algo ardesse por dentro e quisesse sentir o que ela sente e curar a coitada. Ela retribuiu meu abraço deitando sua cabeça no meu ombro. Coloquei minha mão na sua nuca, logo acariciando a mesma.
- você está bem?
- Não. - ela disse com a voz fungando e mantendo os olhos fechados, suprindo lágrimas.
- Você quer minha companhia? - De repente, ela me puxou com as mãos no meu rosto, aproximando o meu do dela. Estavamos tão próximas que meu rosto corou e eu só consegui reparar nos lábios dela que estavam molhados por causa de suas lágrimas. Foi tão rápido, que a única reação que eu tive para aquilo foi apenas esperar que ela tomasse algum tipo de atitude. Não é como se eu quisesse (só um pouco, talvez), mas é que seria constrangedor parar por ali.
- Eu amo você, Clara. - Pâmela me deu um selinho. Seus lábios eram macios e úmidos; seu beijo tinha um gosto de cereja por causa do seu gloss, além de serem lábios carnudos que eram satisfatórios. Me senti desesperada por mais daquilo. Mas não tive coragem. Ela manteve seus olhos fechados para aproveitar o momento, enquanto eu mantive os meus totalmente abertos com medo do que estava acontecendo. Me deu um frio na barriga misturado com um pequeno calor que percorreu todo meu corpo na hora do beijo. Me arrepiei, e ela notou isso muito bem.
- Você se arrepiou? - ela deu uma curta risadinha quando desgrudou seus lábios dos meus. Suas mãos ainda estavam no meu rosto quando ela disse isso, mas ela rapidamente retirou as mãos para justificar seus atos enquanto me mantive em silêncio com os olhos arregalados e trêmula.
- Vê se não se acostuma, eu ainda tenho um namorado. Isso é só um segredinho nosso, ok? Eu só queria saber como era. - ela se jogou na cama ainda rindo como se tivesse feito uma coisa engraçada e divertida. Tipo, é legal beijar uma garota literalmente do nada depois de chorar horrores por um motivo que até agora não me contou qual? Me senti terrivelmente confusa. Bom, preferi ficar em silencio e engolir a seco tudo isso, retribuindo com um sorriso meio fraco e se deitando na cama com Pâmela ao meu lado. Ela virou sua cabeça para o lado e observou os detalhes do meu rosto sorrindo como uma criança. Eu virei minha cabeça para ver ela melhor e tentei sorrir ainda constrangida com aquela situação.
- o que foi, Pam?
- você parece uma garota virgem que deu seu beijo pela primeira vez.
flashback off.
Tentei mandar inumeras mensagens para Pâmela, mas ela parecia extremamente ocupada ou extremamente culpada. Me estressei tanto que joguei meu celular na cama. Não podia acreditar que Pâmela provavelmente estava me evitando de novo por causa de um playboy mimado que não sabe de porra nenhuma sobre o que é amar. Mas espera, será que eu sei? Será que em algum momento eu parei para pensar sobre amar alguém e ser amada? Me sentei na cama perplexa. Fiquei olhando para a parede com a boca aberta como se tivesse encarado um "choque de realidade". Eu nunca fui amada. Nem pelos meus pais, nem pelo meu namorado, e provavelmente, nem mesmo pelas minhas amigas. Emilly quase sempre estava ocupada estudando ou seja la o que ela estava fazendo, e Pâmela estava sempre com Tiago tentando agradar ele saindo em restaurantes caros e chiques. Mas espera, eu foco tanto na Pâmela que esqueço da Emilly... Será que ela se incomoda com isso? É por isso que ela não conversa direito comigo as vezes? Será que ela se sente mal por estar sendo "excluída" de alguma maneira? Bom, peguei meu celular novamente e mandei uma mensagem para Emilly:
Eu: você tem um tempo livre?
Depois de um curto tempo de espera, Emilly respondeu.
Emilly: sim.
Eu: preciso relaxar.
Emilly: Ah, não. Não, não, não, nem fudendo, Clara.
Eu: cala a boca, vadia. Vamos logo.
Emilly: estarei pronta em alguns minutos.
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Sem rumo.
RandomNesse livro, teremos a história de alguns adolescentes enfrentando seus problemas que os adultos sempre vêem como "bobagem".