— Alô? Ah, oi, mãe. Eu estou saindo da escola agora. Oh, vai fazer hora extra hoje? Sem problemas, mas o John vai estar lá? Certo. Não tem problema não, eu só fiquei curiosa. Tchau, mãe. Bom trabalho. — Desliguei o celular e guardei no meu bolso. Girei a maçaneta da porta, abri a mesma e fui para dentro de casa. Aparentava estar vazia, tipo, sem esse idiota desse John. Talvez ele esteja na garagem com suas revistas pornográficas ou sabe-se lá o que esse homem faz trancado lá. Subi as escadas correndo para me prevenir de John diretamente até o meu quarto. Fechei a porta, mas não tranquei. Minha mãe não me dava essa permissão, inclusive retirou a fechadura. Larguei minhas coisas na cama e comecei a retirar minhas roupas, descartando no chão, assim indo no banheiro para tomar um belo de um banho. Liguei o chuveiro e comecei a esfregar meu corpo com a mesma delicadeza de sempre com o sabonete líquido que tinha um cheiro adocicado de morango. Estava perdida nos meus pensamentos, até ouvir um barulho esquisito da minha porta rangendo, como se alguém tivesse aberto a mesma. A porta do banheiro estava aberta, então abri o box para ver se tinha alguém por ali por perto. Decidi ignorar minhas paranóias e voltar ao meu banho, voltando a fechar o box e continuar me esfregando. Pensei em Pâmela. Eu contei a Thiago as coisas mais importantes que não deveria ter dito. Eu contei...
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— Por Deus, Emilly, você não pode contar pra ninguém, ouviu? NINGUÉM!! — Pâmela me disse. Ela estava extasiante por conta da cocaína que havia cheirado pouco antes de invadir a minha casa plena madrugada. Suas pupilas dilatadas e seus olhos arregalados me assustavam, o seu jeito hiperativo era esquisito e ela parecia estar trêmula.
— Não vou, Pam. Só... Me explica. Por que está fazendo isso com você? Você já não está bem, teve uma depressão severa, tentou se... — Não consegui terminar minha frase. Minha visão chorosa e minha respiração ofegante entregavam o meu nervosismo. Pâmela expressou a pena que teve por mim colocando a mão na minha bochecha com carinho, arqueando as sobrancelhas.
— Shhh, não chore. Eu estou bem, tá bom? Emi, eu só preciso... Eu só quero... Eu só preciso dela. Eu preciso. Eu quero ver ela, entendeu? Emilly, eu tenho que ver ela.
— Pam, isso não vai dar certo. Você nem mesmo sabe onde a Clara mora.
— Mas você sabe, meu bem! Você sabe, minha Emilly. Minha pequena Emilly. Minha pequena meia calça rosa. Por favor, eu imploro. — Ela juntou as mãos, literalmente me implorando. Ambas estávamos sentadas na minha cama, mas ela dobrou os joelhos sobre a cama e começou a me encarar profundamente.****
— Emilly? — Ouvi uma voz grave. Era John. Meu corpo se sobressaltou, o que caralhos ele queria no meu banheiro?
— Sim, John? — Eu disse, com a voz meio atordoada pelo susto.
— Eu estava lhe chamando na cozinha, não me ouviu? Achei que não havia chegado ainda, mas ouvi o barulho do chuveiro e vim verificar. Perdão por atrapalhar o seu banho.
— Tudo bem, John. — eu estava tendo apenas a visão embaçada do corpo de John perto da porta através do meu box molhado. Por algum motivo, ele continuava parado na porta.
— Mais alguma coisa?
— Eu gostaria que você fosse jantar comigo. Nunca tivemos a oportunidade de ter um jantar entre só nós dois, sabe? Como pai e filha.
— Eu vou jantar. Não se preocupe.****
Cá estava eu. Sentada na mesa com John. Estava com talheres na mão, jantando, claro. John estava igual a mim, mas a única diferença é que ele não estava comendo tanto quanto eu. Tocou três vezes na comida, e nada mais. Eu não disse uma palavra sequer durante a comilança.
— Sua mãe queria que eu e você tivesse uma conversa mais íntima. — Ele me encarava de um jeito esquisito.
— Mas eu e ela já conversamos sobre prevenir DST, o que mais vamos conversar?
— Emilly, você se masturba?Soltei meus talheres na mesma hora, em choque com aquilo. Comecei a olhar nos olhos dele incrédula, mas depois desviei o olhar para o meu prato. Não tinha coragem de olhar nos olhos dele.
— O que? Por que isso?
— Porque sua mãe não deixa nem mesmo você encostar em garotos. Você deve bater uma pensando neles, certo? — Ele estava estralando os dedos.
— John, eu não...
— Vamos lá, Emi. Você pode ser sincera comigo, sim? Garotas também são safadas na sua idade.
— Eu estou satisfeita. — Me levanto da cadeira, arrastando ela com brutalidade, e saio com passos curtos e rápidos dali. Não. Eu não saí. Ele me puxou. Puxou meu pulso. Deixou uma marca vermelha no meu pulso. Eu perguntei o que estava acontecendo, ele não me disse nada. Ele apenas me puxou. Aproximamos nossos corpos um do outro, e ele me abraçou. E, merda, depois disso, tudo ficou preto. Minha visão ficou preta, a cabeça pesada... Eu não conseguiria ficar consciente por muito tempo.
— Você é preciosa, Emilly. Você vale uma grana muito boa. — Ele sussurrou no meu ouvido.
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Sem rumo.
RandomNesse livro, teremos a história de alguns adolescentes enfrentando seus problemas que os adultos sempre vêem como "bobagem".