Clara. - Disfarce.

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Estar perto de alguém que você ama já é algo enlouquecedor. Agora, imagine estar perto de uma pessoa que você ama, que está se recuperando em cima de uma cama hospitalar? É claro que eu me sentia cada vez mais desamparada por isso, mas não deixei isso me abalar. Uma enfermeira chegou logo atrás de mim, rapidamente indo até as ataduras de Pâmela com uma pequena maleta que continha kits de reparos e medicamentos, enquanto eu já ia me sentando e largando a mochila por ali por perto. A moça retirou a gaze antiga que estava com Pâmela e que estava com o sangue escuro e começou a limpeza, sempre dizendo com detalhes como deveria ser feito para que eu possa tentar ajudar minha querida Pâmela. Apesar do meu estado emocional decair um pouco, eu já não estava tão pior quanto antes, porque pelo menos Pâmela já estava se recuperando ligeiramente. Os pais dela entraram em contato com ela e deixou bem claro que, independente de sua melhora emocional durante esses dias no hospital, ela estaria internada em uma clinica de reabilitação para melhorar de verdade. Eu concordei com isso, embora Pâmela tenha ficado receosa por saber que em breve será um dos maiores assuntos de fofoca no colégio. Enfim, após finalmente a enfermeira ter feito tudo e me ensinado, ela guardou suas coisas e medicamentos dentro de sua maleta e todo o lixinho que tinha, havia juntado tudo e colocado dentro de um saquinho plástico. Provavelmente, assim que ela se retirou, estaria indo jogar fora. Por fim, só havia eu e Pâmela em um silêncio constrangedor que durou uns 10 minutos. Pâmela não sabia se olhava para meus olhos, meus lábios ou mãos. Fico pensando no que ela pensa quando me olha... Parece estar captando detalhes e até os meus defeitos com aqueles seus olhos que costumam enxergar apenas qualidades quando se trata de mim. Ela suspirou fundo antes de melhorar sua postura. Estava com os movimentos meio duros por ter acabado de passar aqueles remedios que faziam suas feridas arderem. Ela dizia que doíam e que era melhor se movimentar o minimo possivel, por isso me apressei para ajudar ela a melhorar a posição do seu travesseiro e vagar meus olhos para as feridas dela enquanto dizia:
— Você tá bem? 
— Tenho que estar. Mas você sabe que tudo se torna melhor com sua presença.— Pâmela fez um toque delicado na minha mão, que estava apoiada na sua coxa involuntariamente.
—  Pam, eu te entendo e até sinto o mesmo por você, só que você tem que entender que, as vezes, eu fico cansada de tudo isso. — Clara franziu as sobrancelhas e retribuiu o carinho de Pâmela tocando sua bochecha.
— Não entendo do que está falando. — Ela cruzou os braços e manteve um semblante desconfiado.
— Eu disse que estou cansada. Disso. De saber que depois que você sair do hospital, você vai se internar porque um dos motivos da sua tentativa de suicidio é um mimado de merda. Você sabe melhor do que ninguém dos meus problemas, Pâmela, e eu não posso dedicar todo o meu tempo para você. Eu vou ter que parar de visitar o hospital por enquanto porque meu namorado vive me fazendo perguntas escrotas e que muitas vezes nem sei dar uma resposta... — Eu me levantei da cadeira que estava sentada e peguei minha mochila que havia deixado no chão para me acomodar melhor. Na mochila, tinha apenas coisinhas de escola. Coloquei a mochila nas costas e fui até a porta, logo girando a maçaneta. Assim que abri a porta, ouvi a voz de Pam: "espera!". Me mantive de costas porque não tive coragem de olhar para ela, pois eu sabia que não iria suportar e que largaria minha mochila no chão de forma bruta e me ajoelharia para ela segurando sua mão dizendo "eu fico, por favor, eu fico..."
— Eu amo você. Amo, de verdade. — Nesse momento, eu me virei com a expressão surpresa e com os olhos arregalados. Pude presenciar Pâmela com os lábios trêmulos e os olhos se preparando para derramar lágrimas. — Mas eu não posso suportar isso. — E foi aí que eu respirei fundo o suficiente para segurar o choro e desviei o meu olhar para a porta, quase correndo para fora do quarto do hospital. 


Era 22h da noite. O céu já estava estrelado com uma brisa fria o suficiente para ser um ótimo momento para se deitar e se enrolar com um cobertor para se esconder do frio, mas é claro que eu não estava fazendo isso. Utilizei minha bicicleta para me locomover o mais rápido possível até o barzinho mais próximo que eu havia visto na ida para o hospital. Estacionei minha bicicleta e procurei uma mesa num local perfeito para me sentar, logo me sentando e pedindo uma bela de uma cervejinha com o dinheiro que tinha roubado da carteira do seu namorado.


Sem rumo.Onde histórias criam vida. Descubra agora