Pleno sábado, aproveitando o final de semana para dar uma festa. Isso é típico da minha pessoa. Eu estava de frente para o espelho, checando meu vestido acima do joelho. Era um vestido preto simples que tinha um brilho chamativo. Parecia comigo: Chamativo equilibradamente. Sentada na minha cama estava a minha irmã, que mesmo que estudasse comigo no corredor do ensino médio, mal nos falávamos. Dizem que ela tem inveja de mim, tanto por ser bonita quanto por ter tantos amigos sem esforço. Eu nunca consegui enxergar minha irmã como uma invejosa, pois, para mim, ela sempre seria a mesma Victória de sempre. A irmãzinha que usava uma fantasia barata da Merida enquanto se lambuzava de sorvete no banco de trás do carro.
— Vic, você vai ficar para a festa? Começa em alguns minutos. — Eu disse, me afastando do espelho, agora me sentando na beirada da minha cama, observando os movimentos grotescos de Victória guardando suas maquiagens na gaveta da penteadeira.
— Não.
— Tá bom.... Que silêncio constrangedor.
— Você vai sair com alguém? — Cruzei minhas pernas. Victória estava apenas retocando o seu batom, se olhando no espelho. Depois que terminou de retocar, fechou ele e guardou o mesmo na gaveta novamente.
— Não.
Respirei fundo, tentando controlar a raiva que tinha do jeito seco que ela me respondia. Engoli o meu ódio e me levantei rápido da cama.
— Que horas volta? A mamãe sabe?
— Você não é a única que é amada, embora pareça ser. — Ela havia dito sem nem mesmo olhar nos meus olhos. Continuava se olhando no espelho, e no fim, Victória saiu do quarto, e na hora de fechar a porta, bateu com tanta força que me estremeci.******
— Oi, PL. — Cumprimentei meu amigo com um abraço, ouvindo ele responder educadamente. Eu já estava cumprimentando o meu sétimo amigo, então já tinha sete pessoas na festa. Parei um pouco de prestar atenção na porta para olhar em volta. Tinham as pessoas, luzes coloridas para dar um clima festeiro, mesa com petiscos e bebidas, plaquinhas dizendo a direção do banheiro... Tudo parecia ótimo. A energia da festa, das pessoas dançando e cantando felizes, daqueles caras se esfregando em algumas garotas que eles nem conheciam... Tudo isso parecia muito festeiro.
— Monique? Você está linda! — Minha atenção que estava voltada para os convidados na "pista de dança" foi desviada para Clara, que por sinal estava radiante... Um tanto quanto tomboy, com calças e uma camiseta larga, um boné e um tênis qualquer no pé. Dei um abraço nela também, agradecendo pelo elogio.
— Obrigada, Clara. Você tem notícias de Emilly? — Desmanchei o abraço, olhando nos olhos dela.
— Sendo bem sincera, Monique, eu tenho evitado todo mundo ultimamente. Eu só vim pra essa festa mesmo porque...
— Eu obriguei. — Amy disse com seu sotaque americano, interrompendo Clara. Eu sobressaltei as sobrancelhas, surpresa com Amy. Eu nunca vi aquela garota na escola, pra começar, eu nem mesmo conhecia a Clara direito... Quem era ela? A namorada dela? Enfim, apenas assenti com a cabeça, forçando um sorriso simpático. Dei espaço para ambas passarem, mas não pude deixar de olhar para Amy de cima a baixo.
— Monique! — Voltei minha atenção para a doce voz que ouvi. É claro que era Emilly. Fiquei surpresa com a presença dela, porque mesmo que eu tenha convidado, ouvi boatos que a mãe dela nunca deixava ela sair de casa para uma festa tão tarde.
— Emilly? Que surpresa foda! Mas vem cá — Puxei Emilly para um canto mais vazio da festa, ignorando totalmente o restante das pessoas que estavam entrando pela porta. A festa estava ficando cada vez mais cheia. Emilly apenas foi junto comigo, confusa com o meu comportamento repentino.
— Clara está namorando com aquela garota? — Apontei discretamente para Clara e Amy dançando juntas em meio a multidão. Emilly franziu as sobrancelhas, como quem estivesse descobrindo agora alguma coisa que outras pessoas já haviam fofocado.]
— Eu... Eu não sei... Isso é...
— Está bem, Emilly. Eu sei que você não sabe. Só fiquei confusa, tipo, ela fica esquisita e evita geral e do nada volta com uma garota americana gostosa?*****
Minha conversa com Emilly durou exatamente 40 minutos. Tentei consolar Emilly, pois a mesma achava que era uma péssima amiga por não ter acreditado nas coisas que todos diziam sobre Clara. Estava meio óbvio que Clara nunca foi hétero, e todos achavam que Emilly, por ser uma amiga próxima dela, já saberia disso. Particularmente, se eu fosse Emi, eu teria ficado puta por Clara ter me escondido tanta coisa nos últimos dias, e não por uma bobagem dessas. Depois disso, olhei para a direção da porta e avistei alguém se aproximando de mim e de Emi, uma pessoa que eu nunca vi antes, completamente ofegante e suada.
— Monique? Você... Você é Monique? — A estranha disse, entre os lábios trêmulos e a respiração cortando.
— Sim, por que? Quem é você? — Eu disse, ainda sentada no sofá. Emilly, que estava ao meu lado, ficou aflita, sem saber se olhava para mim ou para ela.
— A Vic... Ela... Ela tá muito mal. Muito mal mesmo. Eu não sei o que fazer... Você precisa ajudar ela.******
Hospital. Eu estava no hospital. A tal estranha era uma amiga da Victória, e de acordo com a própria, ambas íam para o cinema, mas quando a garota se afastou de Victória para ir buscar os ingressos no andar de cima da sua casa, ela desceu as escadas e não encontrou Victória. Aparentemente Victória havia saído de casa quando a amiga não estava olhando. Depois de algum tempo, a garota foi até a praça que Victória costumava ir, e encontrou a mesma inconsciente no chão da praça. Agora, aqui eu estava, ao lado da cama da minha irmã, vendo a mesma cheia de ataduras e esparadrapos, tomando soro, e com a cara toda inchada e com alguns cortes no rosto. Não vi o restante do seu corpo, mas os médicos afirmaram que estava inteiramente danificada com hematomas, inclusive, quebrou até mesmo sua costela. Infelizmente eu não podia simplesmente perguntar algo a ela, porque ela estava inconsciente.
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Sem rumo.
RandomNesse livro, teremos a história de alguns adolescentes enfrentando seus problemas que os adultos sempre vêem como "bobagem".