20. É você

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Flora

Florence (8:12)

Acabei de deixar a minha mãe no hospital. Onde te encontro?

Jeniffer (8:12)
Estou no nosso café.

Quando Jenn entra no carro, sorrio ao perceber o cheiro do mocha que amo e um croissant de chocolate no saquinho. E eu nem precisei pedir. É o que me faz perceber, quase todos os dias, que eu posso não merecê-la.

– Alguém já disse como você é meio incrível? – Pego o copo de isopor que ela me entrega enquanto procura um jeito de ficar mais fácil para eu comer o croissant ao volante.

Meio? – Jenn se ajeita no banco e apoia as costas na porta, ficando de frente para mim – O que está dizendo, Parker?

– Estou dizendo que eu escolheria você, Jenn – Viro o rosto quando paro em um sinal vermelho, quase saindo do centro de Los Angeles – Em qualquer versão da realidade. Eu acharia você e te escolheria. Se eu soubesse... não tinha nada no mundo que não me fizesse escolher você. Tinha que ter me contado.

– Não escolheria nada – Ela ri – Você estava apaixonada. Tá tudo bem.

– Você não sabe. Nunca me disse.

– Eu não queria que você se machucasse, eu só queria que você abrisse os olhos pra babaca que ela era. E ao invés de conversar com você, eu parti seu coração. Eu me arrependo, mas tivemos muitos anos pra superar isso.

– A gente pode não falar sobre ela? – Eu ri, sem graça.

Falar sobre como Jenn estava arrependida por ter mentido pra mim só me lembrava que eu estava mentindo para ela todos os dias. Eu não contaria do real motivo pelo qual me aproximei dela em primeiro lugar, ela seguiria achando que estou a fim dela há meses e que eu dei o primeiro passo sincero. Então nos beijaríamos, dormiríamos juntas, eu mentiria bem na cara dela.

– Alice sabe que estamos indo?

– Sim.

– E a sua mãe?

– Não tive coragem de contar. Vamos ver o que vai acontecer hoje.

A viagem dura quase duas horas, e passamos esse tempo todo conversando, ouvido música, e aguentando Jeniffer me falando quase toda hora que eu estava dirigindo rápido demais. Éramos o completo oposto quando se tratava de volante. Eu era sempre urgente e costurava entre os carros, enquanto Jenn checava tudo antes de sair e sempre respeitava os limites de velocidade.

Eu chequei o endereço várias vezes durante a noite, para não correr o risco de bater na casa errada. Mas quando parei o carro na rua e observei a fachada branca e o jardim bem cuidado na frente, entrei em pânico.

Meu coração bate descontroladamente em meu peito quando saio do carro, ao passo que minha boca fica seca.

– Vamos, chegou a hora – Jenn toca meu braço com uma suavidade que me assusta, então encontra a minha mão e abre um sorriso encorajador.

– Só preciso de um segundo.

– Leve o tempo que precisar.

Eu verifico brevemente meu reflexo no retrovisor do carro, ajeitando meu cabelo pela terceira vez.

– Esse é um momento estranhamente importante pra mim, não posso apressa-lo.

– Eu sei, Flora – Ela beija meu rosto – Eu sou a favor de saborear o momento, mas às vezes você tem que pular de vez.

Tudo ou nada (Romance Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora