1. Olho por olho

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"É uma verdade universalmente reconhecida que o UCLA Bruins e o USC Trojans são os maiores rivais que a liga de vôlei universitário da Califórnia já viu. E é ainda mais reconhecido que Florence Parker e Jeniffer Nakamura são as responsáveis pela briga há pelo menos cinco anos. Antes mesmo de as duas sonharem que iriam para os respectivos times depois de se formarem juntas no colégio, apesar de ninguém saber o que deu origem à rivalidade. Então não espero nada menos que sangue derramado na quadra dos Bruins hoje pelo primeiro jogo das classificatórias da NCAA."

Flora

– Beleza, eu quero a maior ofensiva que você pode dar, Flora. Não importa quantas bolas vá pra você, quero todas no chão – O treinador Connor estava com sangue nos olhos porque há alguns meses atrás nós perdemos o campeonato para as Trojans no Tie Break em casa, e agora é nossa chance de começar com o pé direito.

– Eu vou fazer a Nakamura limpar o chão com aquele uniforme – Passei a língua pelos lábios e dei uma espiada no outro lado da quadra, onde Jeniffer ajeitava os manguitos de proteção nos braços.

– Vai com calma, Flora, não queremos repetir o que aconteceu no último jogo contra as Trojans – Leah, nossa levantadora e capitã, disse depois de tomar mais um gole de água e coloca as mãos nos meus ombros, me sacudindo de leve – A gente precisa ganhar, e isso não vai acontecer se você for expulsa.

No nosso último jogo, cometi uma falta ao responder um comentário que Jeniffer tinha feito baixinho às suas colegas depois de um ponto e o juiz teve que parar a partida para me dar cartão amarelo quando começamos a brigar. Porque entenda uma coisa, não importa o quão pesado estejam os ânimos em um jogo de vôlei, é uma ofensa terrível afrontar a outra equipe durante uma comemoração.

Há uma vantagem em jogar a primeira partida em casa, pois a torcida do Bruins está em peso no ginásio, e cartazes com escritas mais variadas tomam conta da arquibancada. Os que mais me deixam com o ego elevado são aqueles com o número da minha camisa estampado em canetões da cor do time. O número 04 seguido de uma hashtag e os gritos, reverberam pelos meus ossos.

Dou mais uma olhada em Jeniffer, ela já está entrando em quadra, pulando para bater nas mãos da colega de time já que é a líbero.

– Um, dois, três, Bruins!

Tenho certeza que me preparei como nunca nessa pré temporada enquanto estávamos de férias. Peguei apenas aulas fáceis para ter mais tempo de vir à quadra e bater bola na parede por horas. A maioria do time aproveita esse período para entrar nas turmas que exigem mais já que com a temporada a todo vapor ninguém tem energia pra estudar.

Segundo a formação, começo no saque, o que me tira as chances de atacar nos primeiros minutos pois a bola de segurança de Leah é quando estou na frente, e quando estou nos fundos, ela prefere usar as centrais. Uma tática nova que estamos testando já que as Trojans pegaram as manhas da distribuição de bolas na metade do campeonato ano passado.

O problema é que Leah me conhece bem demais, e quando a bola volta para o nosso lado da quadra depois do saque, eu faço a recepção e ela levanta uma bola de ataque atrás da linha dos três, eu me adianto, dou três passadas largas, pulo bem alto com os braços em posição de flecha e coloco a bola no chão, bem ao lado de Jeniffer, que está parada sem entender o que aconteceu. E é assim que faço o primeiro ponto da temporada. É assim que o ginásio vai a loucura, e é assim que tenho a primeira troca de olhares com Jeniffer Nakamura da noite, antes de me juntar às minhas amigas no centro da quadra para comemorar o ponto.

Ao final de quatro sets suados, nós ganhamos de três a um, e quando o meu time se posicionou perto da rede para cumprimentar as Trojans, Jeniffer apertou bem forte a minha mão, estreitou ainda mais os olhos asiáticos e sussurrou na minha direção:

Tudo ou nada (Romance Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora