O Teste

Capítulo 1

Era frio em Jacobsen, à noite principalmente, e como sempre, havia esquecido o casaco.
Toda noite eu ia para o parque perto de casa olhar as casas, as ruas, as árvores, o céu , queria apenas olhar alguma coisa, algo que quando voltasse para minha cama iria lembrar . Não me importava de ficar sozinha, era até melhor, gostava de sentir o ar gelado - mas com meu casaco - , pensar na minha vida, no meu país, no modo em que ele era governado, no modo em que éramos governados.
O meu país era os Estados Unidos, mas só em nome, o modo de vida, as leis, as pessoas, tudo tinha mudado.

Minha mãe dissera anos atrás para mim que quando ela era mais nova, o país era diferente, tinha presidente e prefeitos, perguntei à ela o que eram essas pessoas e ela disse que os prefeitos governavam as cidades de um país, já os presidentes governavam o próprio país . Fiquei curiosa, pensei em como seria se ainda fosse assim, se não fosse o rei a comandar um país e sim o presidente . Mas isso era há muito tempo atrás, no século XX, estavámos no século XXVII, não tinha nenhuma chance de essa democracia voltar de modo que a monarquia fosse extinta . Mas adoraria, odeio o jeito como o rei Harry governa o país, tão limitado e egoísta , divididido em duas classes sociais, pobres e ricos, e eu era a parte pobre, na verdade a maioria do país era a parte pobre, a não ser as pessoas que trabalhavam diretamente para o o rei, ou as que tinham nascido na cidade do rei, Neron, mas de resto todos do país passavam por dificuldades, e o que mais me impressionava era a falta de compaixão, de generosidade ou até de dever que o rei tinha por nós.

Lebro-me do dia em que ele veio visitar a nossa cidade, seu olhar para as pessoas era de superioridade, todos da cidade se reuniram à sua espera bem no parque onde estou agora, tenho certeza que elas não viam o olhar de desprezo que ele tinha por nós, mas eu vi, até presenciei : uma mulher estendeu a mão em sua direção e com a agitação do público acabou sendo empurrada de modo que sua mão pegou em seu rosto, seu nojo era tão evidente, mas ele se segurou, não por muito tempo, vi quando ele pegou um lenço minutos depois e limpou o rosto bem no lugar onde a mão da mulher encostou, pensei que fosse explodir de tanta raiva. Mas sua esposa, rainha Merelyn, era fantástica, elegante e dava para perceber, era boa. Ela acompanhou o rei na sua visita à Jacobsen, mas acho que não viu o que aconteceu com a mulher que passou a mão sem querer em seu rosto. Infelizmente ela morrera 2 anos depois daquela visita, de câncer, toda a cidade ficou em luto, inconsolável, e eu bem triste, já que além de ser muito querida por mim, era uma esperança de que o país não ficaria totalmente em mãos erradas.

Estava tarde precisava voltar para casa, antes que minha mãe percebesse, era única responsável por mim, já que meu pai morrera, alguns anos depois de eu ter nascido, não lembro nada dele, nem sei como é seu rosto, mas seria bom ter crescido com um pai ao meu lado, mas tinha minha mãe e precisava voltar antes que ela percebesse.
Estava caminhando pelas ruas desertas quando ouvi pessoas caminhando, fiquei com medo de ser ladrões e corri para um lugar onde pudesse me esconder.

- Anda logo sua lesma! - gritava um homem, que aparentemente era um dos guardas do palácio, já que estava com o uniforme - Estou perdendo a paciência, ande!

O homem com quem o guarda estava gritando eu conhecia bem, era um dos ladrões mais ativos da cidade, não chegava a machucar ninguém, mas enfim era um ladrão.

- O que o senhor irá fazer comigo?- disse o ladrão quase aos prantos. - Eu só roubei comida, estava com fome!

- Vou fazer o que você está merecendo há tempos, mas só agora o rei achou o momento certo!

Sem pestanejar o guarda tirou a arma de sua cintura e atirou no ladrão, sem nenhuma chance de defesa. Sai correndo torcendo para que o guarda não me visse, entrei em meu quarto e me atirei na cama, chorando. Como o rei teve coragem de fazer isso? Ele só estava com fome! , pensei enquanto o meu sono não chegava. Não sei que horas dormi, mas dormi com uma frase em minha cabeça: O rei era pior que eu pensava.