Capítulo sete - Olhos cor de céu

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A observo dormindo, o que será que ela quer aqui? Não acredito que venha visitar a amiguinha, porque vir para cá? Porque mudar de escola? Tenho que descobrir a verdadeira intenção dela. Tenho a impressão que essa visita tem um proposito muito maior do que só me ver, ela me odiava mais do que eu imaginava?

— Vamos acorde! - A sacudo

— Que horas são? - Ela levanta a cabeça, abrindo só um dos olhos.

— Ande! São 20 horas da noite! – Saio do quarto que ela esta dormindo.

— E isso significa o que? Dormimos muito. – Ela levanta bocejando enquanto se enrola na coberta.

Ando até a sala, Phil está sentado no sofá como sempre: sujo e cheirando a bebidas.

— Aonde vai? – Ele olha em minha direção com desprezo.

— Isso te interessa? - Vou em direção à cozinha e nem ouço o que ele diz

Na cozinha pego uma garrafa de vodca, e algumas agulhas hospitalares. Pois é a vantagem de ter um pai como Phil é que ele sempre traz coisas de hospitais e eu não preciso me envolver diretamente.

— Ei, como estou? - Cristina coloca a mão no balcão e boceja.

— Parece você! - A olho sério. — Se você fosse um pouco menos cruel eu te beijaria aqui mesmo.

— Ou ou, a onde vamos? - Ela se aproxima - Pra que essas coisas? — Parece que estamos evoluindo nosso relacionamento não é?

— Relacionamento? – Tento evitar uma risada sarcástica mas é mais forte que eu.

— Você vai saber quando chegar lá. Vamos brincar! - Faço um sorriso falso.

- Ok, mamãe! - Ela se afasta e vai até o quarto.

Algum tempo depois ela volta, com uma blusa preta e calça jeans preta. Saímos pela porta sem trocar nenhuma palavra com Phil, vejo se tem tudo que vamos usar e dou a bolsa para ela carregar.

— Você poderia dizer para onde vamos

— Não teria graça. - Olha fixamente para frente. — A questão é: você prefere matar ou morrer?

Caminhamos e pegamos um ônibus. Viemos até uma parte afastada de minha cidade, considerada muito perigosa. Sempre achei coisas perigosas muito mais belas e interessantes, por que gostar do que é fácil e sem mistérios? Isso seria totalmente sem graça. E o que tem graça é o medo...

— Mas que lugar é esse? – Ela me olha intrigada.

— Diversão para você!

— Hã? Por que?

– Use apenas suas próprias agulhas. — Respiro fundo. — Vamos lá.

Entramos no lugar que estava todo destruído e pichado. Pichação é para gente estupida, tantas outras coisas para fazer, mas acham que vão mudar o mundo com uma pichação... Isso chega a ser patético. Entretanto, o lugar é tão bonito e, tão... abandonado. Um lugar perfeito para uma morte perfeita.

Caminhamos por um corredor destruído e cheio de cacos de vidro pelo chão, algumas pessoas com aparência singular caminhando pra lá e pra cá.

— Mas afinal, que lugar é esse?

— Achei que ia gostar. – Caminho mais rápido, — É uma escola abandonada no meio do nada, bem quase do nada, mas mesmo assim é tão... peculiar.

— Bem, drogas. Parece divertido. — Vou ver se encontro pessoas bem animadas por ai.

Enquanto ela vai olhar o local, eu caminho até uma sala com fumaça. Adolescentes e jovens problemáticos sabem como fazer uma construção abandonada parecer super interessante.

Pego a garrafa de vodca e sento ao lado de um casal se amassando, tanto que não sei mais quantas mãos cada um tem.

Algum tempo depois um cara senta ao meu lado, ele me parece bem drogado. A essa altura eu já tinha bebido a vodca inteira e olha que a garrafa era bem grande, me sinto um pouco menos viva e gosto dessa sensação no momento, gosto de fugir um pouco da vida e contemplar como minha respiração parece tão... bem, não sei.

— Olá garota, lindos cabelos azuis! Aceita um cigarro? – Ele me oferece com um sorriso

— Ah bom, acho que não. – Ele não fala mais nada durante uns 15 minutos.

— Você é muito bonita sabia? – ele ri e coloca a mão em minha perna.

Sorrio.

Sua mão começa a subir. — Você pode tirar a mão seu idiota?

— Eu beijaria seu corpo todinho.

Isso me irrita bastante, respiro muito fundo, sou mais uma tragada no cigarro e queimo sua mão o melhor que posso.

— Você é louca! – Ele grita e se afasta.

Não me incomodo, já deve ser tarde da madruga. Resolvo ir embora, mas não encontro Cristina em lugar nenhum, ela já não é bem grandinha? Vou embora sem ela mesmo.

Saio dali, já está bem escuro. Caminho algum tempo, a rua está bem escura e deserta e o ponto de ônibus é um pouco longe do local.

Penso colocando a mão em meu rosto.

E então sinto um forte pancada na cabeça com o que me faz cair para frente, minha visão está toda embaçada.

— Você é louca e eu vou conseguir o que quero de você! - Alguém puxa meu pé.

Dou um chute no rosto da pessoa e me arrasto um pouco a frente, olho de lado e vejo que ele tem um taco de beisebol, e então sinto outra pancada na cabeça dessa vez mais leve. Minha visão começa a ficar mais embaçada. Meu corpo se debate em mão frias e perversas, não consigo ver a minha frente só sinto um forte cheiro de bebida. Sinto minha roupa sendo rasgada...

Dê repente tudo para, tudo fica calmo e o silencio vai ao infinito. Meu corpo se relaxa, minha visão ainda embaçada, me sento tentando entender o que estava acontecendo. Um homem caído ao meu lado?

— Você está bem? – A voz me deixa calma, é de algum garoto. Parece uma melodia infantil sendo cantada por uma mãe carinhosa. Ah! Péssimo exemplo.

Sinto ele me pegar no colo, só vejo os seus olhos azuis, tão lindos. Parece o céu, me sinto mais calma. Eu já vi esse garoto, mas onde? Será... será que, sim, eu já vi ele. Acho que foi naquele lugar, esperando o táxi. E... em algum outro lugar, não consigo me lembrar. Tudo escurece...

– Você mora onde? – Indaga ele.

— Ônibus 27. – Sinto uma imensurável vontade de dormir...

– Ei, mocinha! - Ouço uma voz, de quem?

– O que aconteceu? - Falo e tento me levantar.

Estou em um ônibus, onde está aquela voz? Tem uma mulher idosa falando comigo.

— Um garoto te embarcou aqui e me pediu para que te acordasse. Está tudo bem?

— Hã? – Olho ao redor. — Ah! Sim... eu acho.

Me levanto, um pouco tonta ainda. Um tempo depois chego em casa. Longe para caramba!

As coisas acontecem automaticamente: chego em casa, todo banho, deito. Olho o teto.

Aqueles olhos, aqueles malditos olhos me encarando. Quem era ele? Meus pensamentos até parecem ter vindo de uma fanfic patética de romance escrito por alguma adolescente.






Apaixonada Pela TorturaOnde histórias criam vida. Descubra agora