Afundar... Afundar... Afundar...
Posso ver meus dedos almejando chegar ao ar, mas não consigo. Vejo o céu límpido, parece tão distante... Meus olhos já não aguentam e se deixam levar pelo sono, tudo vai se escurecendo. Não me sinto mais sufocada é como se eu fizesse parte da imensidão, como se ali fosse meu lugar.
Então eu sinto um puxão, algo me arrancando das garras da escuridão. Estou alegre? Eu não sei, não consigo respirar, mas sinto o sol aquecer minha face. Fui puxada por um anjo? Não seja boba, Alexia! A dor só é menor, mas eu ainda não consigo ver, não consigo me mexer. Onde estou?
Sinto uma dor profunda, algo saindo de minha alma, mas ainda sim não consigo abrir os olhos. Melhor eu descansar um pouco, meu corpo está muito pesado...
[...]
— Alexia? - Que voz doce, que voz profunda. — Ale?
Abro os olhos lentamente e minha visão é inundada por um clarão, meus olhos chegam a lacrimejar.
— Bryan? - Minha voz sai fraca. — O-o que? Você me salvou? Mas... Mas você estava tão longe.
— Sh! Eu vou estar sempre por perto, de agora em diante. Você ficou bastante tempo desacordada. – Ele sorriu virando seu olhar para a janela ao lado da cama. — O médico disse que está tudo bem, você só terá que descansar um pouco. Mas bem, o que aconteceu?
— Nada. – Olho para o teto. — Eu cai. Quero ir embora.
— Mas...
— Eu quero ir embora! – Quase grito, sinto meus pulmões arderem.
— Tudo bem, mas descanse por enquanto. Iremos embora pela manhã.
As horas não passavam, Bryan roncava na poltrona ao meu lado. Me sento na cama e fico observando ele dormir, parece tão bem, tão feliz. Como ele consegue dormir tão bem assim.
Vou em sua direção, me aproximo o máximo que posso. Seu perfume tem um cheiro tão agradável, me inclino um pouco e dou-lhe um beijo na testa. Por que eu fiz isso? Af! Afasto-me o mais rápido que posso.
Aliás, quem colocou essas roupas em mim? Bem, não importa.
Vou em direção a cozinha, não sei por que mas estou morta de fome. Abro a geladeira tiro um pedaço de torta de limão, a minha preferida, aliás, a única que eu comi em toda a minha vida e foi com minha mãe.
Ouço passos.
— Alezinha. – Encaro a silhueta toda de dourado me chamando.
— Ah... É você. – Encaro-a friamente. — O que quer?
— Conversar um pouco, venha. Sente-se. – Sorri enquanto se senta.
— Eu acho que já conversamos o suficiente hoje.
— Eu só queria agradecer-lhe por não ter contado da minha escorregadela que acabou fazendo você tropeçar e cair. – Sorri.
— Ah... – Sinto meu sangue ferver, mas permaneço calma. Passo minha mão pelo balcão enquanto vou a sua direção. Agarro uma faca que ali estava. — Facas são cortantes não acha?
— O que? – Ela tenta se levantar, porém pressiono seu ombro para baixo o que faz com que sente novamente. Aponto a ponta da faca para seu pescoço.
— Já viu o sangue de alguém escorrer enquanto essa pessoa vai perdendo todo o seu brilho? Bem, eu já. E é pacífico demais para o observador. Cada gota quente que enfeita o chão é mágico. – Me inclino na sua direção. Posso ver um olhar de pavor. — Nunca se sabe quando alguém vai ter um acidente com uma faca.
Solto aquele objeto em seu colo e dou-lhe as costas. — Bem, boa noite. Esse lugar fica desagradável com a sua presença. Ah. E não se esqueça que nunca se sabe quando seu sono será eterno. – Sorrio e vou ao quarto cantarolando.
[...]
Bryan me obrigou a vir no banco de trás do carro deitada. Meu Deus, ele está me tratando como uma criança.
— Ei, papai, posso pular para frente agora?
Ele gargalha. — Não! Você precisa descansar.
Pulo para frente mesmo assim.
— Ah, você não me obedece. – Ele parece feliz.
— Desculpe se não nasci para obedecer. Eu seria uma pessoa muito nojenta. – Sorrio.
Ele para o carro bruscamente.
— Ei! Chegamos?
— Não, bobinha. Mas não é muito longe, porém quero te mostrar um lugar.
Sigo-o em direção a algumas árvores, o lugar é tão calmo e há uma cabana ali.
— Uma cabana? – Olho para ele que continua andando.
— Sim! – Diz todo animado. — Esse é meu lugar secreto, você está tendo o privilégio de vir aqui porque ninguém sabe desse lugar. Bem, tinha outra... Enfim, eu amo essa cabana.
— Deveria me amar...
Ele suspira e não diz nada enquanto empurra a porta que parece não ser aberta a séculos.
— Esse lugar cheira a poeira e velharia... Adorei. – Entro observando a lareira.
Observo Bryan passar os dedos por um móvel empoeirado pegar um quadro que ali estava e guardar na gaveta. Ele está escondendo algo? Bom, não me interessa nenhum pouco quem seria naquele retrato.
— Não é grande coisa, mas até que é bem confortável. – Ele joga na poltrona de frente a lareira.
Aproximo-me e sento ao seu lado, em uma almofada que também estava cheia de poeira. O lugar é bem escuro, tem um clima solitário, me senti tão a vontade aqui.
— Esse lugar me traz lembranças boas que ocasionam ruins... – Suspira.
— Sinceramente Bryan, não me interessa. – Encaro a lareira apagada.
— Você não cansa de ser assim? – Vira o rosto lentamente em minha direção. — O que você ganha sendo fria assim?
— Menos pessoas como você na minha vida. – O encaro de forma mais sombria que consigo.
— Ah... Sua... Vida... – Ele volta seu olhar para o teto, parece perdido em seus pensamentos. — Como sua vida é? Você é feliz?
— Feliz? Defina felicidade para você.
— Ah, sabe, sentir como se sua vida valesse a pena. Ter lembranças boas para se recordar.
— Bryan, minha existência não vale mais que a de qualquer pessoa. Eu não sou uma boa pessoa e sei o que me aguarda... Então me sentir feliz não importa, meu bem estar nunca importou, uma hora eu vou morrer... Lembranças felizes não valem a pena.
Ele sorri, levanta e se ajoelha na minha frente. Sinto sua mão acariciar meus cabelos enquanto ele se aproxima mais, tento recuar, o que ele pensa que está fazendo? Queria poder cortar a garganta dele mas... mas...
Nossos olhos se cruzam e ele se aproxima até nossos lábios se tocarem, a sensação é tão libertadora e ao meu tempo uma tortura cruel, por que? Por quê? Não consigo controlar meu corpo, não consigo resistir a esses lábios tão doces, um veneno para a minha alma. Eu amaldiçoo esse desejo que vem do mais profundo... Seus lábios se afastam dos meus e eu sinto como se algo fosse arrancado de mim. Dói!
— Isso é uma lembrança que valerá a pena?
— Bry... an... Quero ir embora!
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Apaixonada Pela Tortura
Mystery / ThrillerAlexia, a garota anti-social, uma assassina em série que tortura suas vitimas, ela tem sentimentos? Ao conhecer Bryan as coisas começam a mudar, mesmo ela apontando uma faca para seu pescoço ele insiste mas Alexia conseguiria ama-lo? E ele se apaixo...