Prologo

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Anos atrás

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Anos atrás

Nem conseguia parar de sorrir. E tinha um monte de borboletas na minha barriga. Corremos pelo jardim, nossas roupas úmidas e frias, e assim que chegamos perto das árvores, eu vi. Olhei para cima e vi uma porção de tábuas de madeira que formavam uma espécie de escadinha. No topo, havia uma casa da árvore escondida por trás dos galhos e folhas.

— Você sobe primeiro — Otto diz . — Se escorregar, vou estar bem atrás de você.

— Acho que nossos pais vão ficar bravos — comentei. -- Nunca subi em nada tão alto antes. -- Seu rosto mostrou um pouco de decepção e, depois de um segundo, ele assentiu

— Tá bom.

— Você não vai me deixar cair? — perguntei para ter certeza. Ele olhou para mim, sorrindo e animado outra vez. Então segurou minha mão e corremos em direção à escada. Ele me deixou ir na frente, as tábuas ainda parecendo novinhas em folha. Meu coração começou a acelerar, porque se eu escorregasse ou soltasse a mão, poderia cair. — Estou com medo — disse a ele. — É muito alto.

Ele escalou mais ainda atrás de mim, colocou um pé ao lado do meu e as mãos na tábua em que estava agarrada.

— Está tudo bem. Eu te seguro — ele disse. — Eu prometo.

Meu aperto se firmou outra vez e comecei a me afastar do tronco um pouquinho. Olhei por cima do meu ombro e encontrei seu olhar, e ele estava bem ali, encarando-me, quase encostando o nariz no meu. Alguma coisa encheu meu peito, e ele estava tão perto, que me fez sentir meio esquisita. Como se alguma coisa estivesse me puxando. Não consegui desviar o olhar, nem ele, e era como se eu não conseguisse parar. A atração. Seus lábios tocaram os meus, e sentir como se estivesse em uma montanha russa.

— Por que você fez isso?

— Eu não fiz nada. Você fez — ele acusou.

— Não fiz, não. -- Meu Deus, que vergonha. Olhei de relance para ele, tentando descobrir se ele estava com raiva, mas ele parecia tão envergonhado quanto eu. Eu não o beijei. Beijei? Foi ele que fez isso. Ou talvez nós dois... Arghhh... Ele me incentivou a continuar

— Rápido, vamos lá.

Assim que fiquei em pé, senti o vento soprar contra o meu rosto, sacudindo as folhas ao redor.

— Nooossa! — disse, admirada.

Olhei para cima e vi que ele estava me encarando, os olhos percorrendo todo o meu rosto. A pele por baixo do meu figurino começou a esquentar. Ele virou a cabeça e suspirou enquanto encarava adiante.

— Talvez eu beije você de novo quando formos mais velhos — ele disse. — Só para você saber.

-- Somos irmãos, isso é errado.

-- Mas parece tão certo -- Ele se aproxima de mim mais uma vez, meu coração dispara e meu estômago da cambalhotas

— NICOVA! -- Um grito estridente irrompeu, e dei um pulo.

Quando olhei lá embaixo, vi meu pai e minha mãe correndo na direção da casa da árvore, seus olhares fixos em nós dois.

— Por que vocês fugiram sem dizer à sua mãe onde estavam indo? — ele esbravejou.

— Pai... — ofeguei, com medo de ter feito alguma coisa errada. Por que ele estava aqui? Ele não estava mais cedo, e agora parecia chateado.

— Desça, querida — minha mãe gritou, ajeitando as roupas. — Está na hora de irmos embora.

— Cale-se — meu pai disse a ela.

— O que está acontecendo? — Olhei para Otto. --  A gente fez alguma coisa errada? -- Ele balançou a cabeça, chegando para trás e me puxando junto com ele.

— Não sei.

Saímos um pouco da vista deles e ficamos de pé, sentindo o chão vibrar abaixo de nós, como se alguém estivesse subindo pela escada. Nosso pai apareceu pela portinha no chão, os lábios franzidos, o terno todo amarrotado.

— Saia de perto dela — ordenou a Otto. Otto e eu nos entreolhamos, assustados. Nosso pai avançou e Otto parou na minha frente. — Ele te machucou? — papai perguntou. Mas foi Otto quem respondeu, acenando com a cabeça.

— Não machuquei. -- Sua resposta parecia uma súplica. Por que meu pai estava tão preocupado?

— Saia da frente. — Empurrou Otto para fora do caminho. Meu pai agarrou minha mão e me puxou. Eu tropecei e dei um grito. — Nunca mais fale com ele. Você nunca mais vai ver ele  — ele rosnou. — Se sua mãe te levar para encontra-lo  você me dirá. Entendeu?

— Mas eu quero que ela fique — Otto disse. — Por favor.

— O que a gente fez? — perguntei ao meu pai. Ele me ignorou, contraiu a mandíbula e apertou minha mão quando me puxou em direção à porta. Olhei para trás, para Otto, mas tropecei quando meu pai me empurrou pelo buraco no chão. Eu cambaleei, olhando para baixo, para o gramado distante e balancei a cabeça. Meus joelhos tremiam, e senti que estava perto de fazer xixi na roupa. — Estou com medo.  -- Comecei a chorar. Não conseguia ver os degraus da escada do jeito que via quando estava subindo.

— Agora! — ele disse, ríspido. Dei um pulo de susto. Tremendo toda e com as lágrimas descendo pelo rosto, eu me agachei perto do buraco, sabendo que escorregaria. Meu pé escorregaria. Eu sabia disso. Não conseguiria ver os degraus abaixo de mim. Mas Otto avançou e segurou minha mão, puxando-me para longe do buraco e colocou-se na minha frente de novo, como um escudo.

— Deixe-a em paz! — ele brigou.

— Eu vou ajudá-la a descer! -- Otto diz

-- Eu faço isso! -- Meu pai partiu para cima dele, Otto  recuou, pisando no meu pé e dei um grito.

— Só dê o fora daqui! — ele berrou com nosso pai. — Eu vou levá-la lá para baixo! -- Ele recuou um pouco mais, assustado, e eu tropecei, passo a passo, e estávamos caindo para trás, e não conseguia me segurar.

— Seu merdinha... — meu pai rosnou.

— Deixe-a em paz! — Otto berrou de volta. Olhei para trás, vendo que estávamos muito perto do corrimão, e ele não estava prestando atenção. Ele esbarrou em mim, nosso peso arrebentou a pequena proteção de madeira, e comecei a cair para trás, gritando e tentando me agarrar em qualquer coisa.

— Ahhhh, meu Deus, meu Deus! — Ouvi o grito da minha mãe lá embaixo.

Consegui segurar na beirada do piso, minha mão começou a escorregar, mas uma mão se agarrou à minha, e inspirei, sentindo o vômito subir na garganta enquanto minhas pernas balançavam no ar. Olhei para cima, com lágrimas escorrendo, e vi Otto deitado de barriga para baixo, sentindo dificuldade para me segurar, mas me senti tão pesada, como se estivesse sendo puxada para baixo. Nosso pai chegou perto e tentou me pegar, mas Otto e eu não conseguimos mais manter as mãos unidas, e então me agitei, meus dedos escorregando dos dele. Seu olhar encontrou o meu, o tempo congelou por uma fração de segundo enquanto nos encaramos, sabendo que não tinha mais jeito. Eu escorreguei, gritei e caí, sendo seu rosto a última coisa que vi antes de não conseguir enxergar nada mais.






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