Sacudi o volante de um lado ao outro, nervosa, mas ele não tirou o pé do freio… ou pisou em qualquer outro pedal, logo, não havíamos nos movido ainda, e eu relaxei outra vez, sentindo-me uma idiota. Ele não riu de mim, apesar disso. Ele pisou um pouco mais e comecei a sentir os pneus passando sobre os cascalhos. Agarrei o volante com força para me assegurar de que minhas mãos não escapulissem. O pneu dianteiro esquerdo passou por cima de uma lombada e virei o volante naquela posição até sentir a estrutura inteira atingir a pista. Sorri, um misto de risada e arquejo, e assim que o carro começou a subir a estrada, girei o volante para a direita, certa de que agora estava em linha reta. No entanto, o carro saiu da estrada e voltou a passar pelo cascalho de novo e a grama, passando pela lombada que dividia a estrada do acostamento com um solavanco.
— Ai, droga! — Virei o volante para a esquerda, de volta à estrada. Mas temia pegar a pista contrária e virei à direita outra vez, sem conseguir sair de onde estava. Eu não consigo fazer isso. Balancei a cabeça, respirando com dificuldade enquanto tentava me controlar. — Sinto muito. Sinto muito…
— Sshhh… — ele me tranquilizou, a mão esquerda apoiada no meu quadril. — Nós temos todo o tempo do mundo.
Meu queixo começou a tremer, porque estava com vergonha e frustrada, e não queria mais fazer isso, porque só estaria fazendo papel de boba. Eu falharia, com certeza! Por que ele estava tentando me envergonhar? Meus olhos marejaram, o carro desacelerou e eu fechei os olhos, respirando profundamente para que pudesse colocar a cabeça no lugar.
Está tudo bem.
Nós temos todo o tempo do mundo.
Temos todo o tempo do mundo.Exalei o ar com força. Está tudo bem. Está tudo bem. Ele não estava me apressando. Não estava zombando de mim. Funguei um pouco e mesmo que ele não pudesse ver meu rosto, provavelmente já sabia que eu estava chorando, mas alonguei os dedos e agarrei o volante de novo.
— Tá bom — respondi. Ele acelerou o carro, e eu voltei à estrada, movendo o volante mais devagar dessa vez, desviando o carro de um lado ao outro em busca das marcações na pista, meio que do mesmo jeito que eu fazia quando dançava. Tentando medir o perímetro e o tempo até sentir a sinalização no chão. Os pneus esquerdos passaram pelas lombadas de tempo em tempo, e percebi que eram os sinais refletores que ficavam no meio da pista, de forma que os motoristas conseguissem enxergar a pista durante a noite. Era daquele jeito que eu poderia identificar se havia saído da minha pista ou não. Senti meus ombros relaxando um pouco, e sentei-me mais ereta. Okay.
— Você está conseguindo — sussurrou.
Um sorriso iluminou meu rosto, meus olhos ainda marejados, mas agora eu me sentia bem melhor do que minutos antes. Ele não me ensinou nada também. Não avisou sobre os refletores ou como deveria virar o volante. Ele só esperou que eu aprendesse por mim mesma. Aquilo foi legal e tirou a pressão de cima. Era bom não ter que me sentir preocupada.
— Nós vamos mais rápido agora — ele disse. Mais rápido? E lá se foram a tranquilidade e confiança que eu estava começando a sentir. — Vou te avisar para que lado virar o volante, beleza?
— Okay — respondi. Fazia sentido. Nós iríamos mais rápido e eu teria menos tempo para corrigir a posição do carro por conta própria. Suas pernas se moveram um pouco abaixo de mim, ele trocou as marchas e o carro acelerou, fazendo meu corpo esbarrar contra o dele. Por instinto, agarrei o volante com mais força e mal pisquei em uma tentativa de me concentrar. O motor rugia e eu podia sentir a vibração do carro abaixo das coxas à medida que seguíamos pela noite, onde qualquer coisa poderia aparecer do nada, sem me dar tempo de pensar rápido. Um animal, um carro, uma pessoa… Meu Deus. Estava rápido. Rápido demais. O carro ronronava abaixo dos meus pés, fazendo meu coração disparar.
— O volante está ao meio-dia — ele disse. — Quando eu disser “vai”, devagar e suavemente vire à esquerda, como se fosse colocá-lo às dez horas. — Vai — ele orientou.
Fiz conforme ele instruiu, e gentilmente virei um pouquinho o volante, sentindo os pneus passarem por cima dos refletores no asfalto, mas ao invés de virar na outra direção para me corrigir, mantive o carro na mesma posição, me guiando pelas bordas das marcações. Provavelmente seria tenso com o trânsito se aproximando cada vez mais, porém eu era capaz de lidar com as curvas por conta própria.
— Okay, vai ter uma curva à direita em…
— Shh…. — eu o silenciei. Eu precisava ouvir. E então, como ele havia alertado, os refletores tomaram a direita, e precisei corrigir o volante para acompanhá-los, surpreendentemente não saindo da pista como imaginei que faria.
— Jesus Cristo. — Ele riu, parecendo impressionado. — Tudo bem, vou tirar um cochilo aqui. Divirta-se.
— Não se atreva! — ralhei. De vez em quando passávamos por um cruzamento, um poste de iluminação ou faixa de pedestres. Além disso, ele controlava a velocidade. — Podemos ir mais rápido? — perguntei.
Estive tão tensa e concentrada que, tudo o que queria naquele momento, era sentir a adrenalina. Ele mudou a marcha e pisou no acelerador, e se as minhas contas estavam certas, agora estávamos na quarta ou na quinta marcha.
— É uma linha reta pelos próximos minutos — ele disse. — Você quer ouvir música? Pensei no assunto, percebendo que eu poderia sentir o carro passando sobre os blocos de sinalização na estrada, e não precisaria, necessariamente, ouvi-los.
— Okay.
Vota e comenta, tô ficando desanimada 😢
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Libertado
FanfictionOtto foi mandado para o internato logo após ter quase matado sua irmã adotiva por acidente, deixando ela cega... Sua família o mandou como forma de castigo, mas o que eles não sabiam é que Otto voltaria para reencontrar seus pais... Traumatizado com...