Paro diante da porta da pessoa que criei coragem para encarar, eles ainda não sabem. Eles ainda não sentiram a dor, eles vão sentir. A porta diante de mim é aberta e um homem alto, bonito, aparece carregando um bebê que parece ter alguns dias de nascido...
-- Quem é você? -- Ele me olha confuso
-- Me chamo Nicova
-- Nicova Davis? Irmã do Otto?
-- Sim, preciso conversar com Oliver
-- Sou eu mesmo -- O bebê em seu colo começa a chorar -- Pode entrar, vou entregá-lo a mãe e já volto -- Ele sai com o bebê em seus braços
Entro na casa e olho tudo ao redor, tudo arrumado, passo meu olhar pelas fotos na parede e vejo uma do Oliver com sua mulher, outra dos dois no hospital segurando seu filho, até que chego em uma que fez meu coração disparar. Oliver, Winter e Otto, a foto dos três juntos sorrindo. Pego a foto e derramo uma lágrima que logo seco ao ouvir o Oliver voltando.
-- Pode se sentar -- Ele indica um lugar em seu sofá
-- Então... Não queria vim aqui para te contar isso, mas infelizmente o Otto morreu -- Aperto minhas mãos tentando achar uma forma de me controlar
-- Brincadeira sem graça a sua -- Oliver rir mas logo seu sorriso morre ao perceber que eu não estava mentindo -- Quando? -- Ele pergunta encarando o chão
-- A seis meses atrás -- Seu olhar era cravado no chão
-- Ele sentiu dor?
-- Sentiu
-- Me conta tudo o que aconteceu -- E foi o que fiz, contei todos os detalhes -- Era para eu ter salvo ele, é sempre eu que salvo todo mundo, do que adianta colocar fogo no mundo pelas pessoas que amo e elas morrerem? Eu não estava lá, eu não o salvei
-- Calma -- Me aproximo
-- Ele não ouviu minha ligação -- Oliver deixa uma única lágrima solitária cair -- Aquele filho da puta me deixou aqui sozinho, ele é um desgraçado que me abandonou, e sabe o que é pior? Ele deixou um sobrinho que não tem nem uma semana de nascido -- Ele rir em meio as lágrimas -- Já tinha tudo planejado, nossa família, meus filhos e os seus
-- Me desculpe -- Digo ao Oliver
-- Desculpe? Foi você quem perdeu seu irmão
-- Sim! Mas você perdeu sua outra metade - Oliver me abraça com toda a força do seu corpo, suas lágrimas caem constantemente
-- Minha mulher -- Ele chora mais -- Minha mulher, ela... Ela -- Simplesmente o abraço e deixo que ele chore
-- Calma, eu te ajudo a contar -- Seguro seu rosto -- Vamos lá?
Caminho com ele para o quarto, Winter estava sentada dando de mamar para seu filho...
-- Olha filho, seu papai voltou -- Ela brinca com a criança
-- Ratinha -- Ela o encara
-- Oi amor-- Ela acena para mim -- Quem é você?
-- Ela é irmã do Otto -- Oliver diz -- Da aqui meu filho
-- Por que estão com essa cara? -- Ela pergunta se levantando -- Cadê o Otto?
Silêncio, silêncio, silêncio
-- Cadê o Otto? -- Ela encarava nós dois, abaixo a cabeça -- Não, não... É mentira
-- Sinto muito -- Digo a ela
-- Diz que ele vai passar por aquela porta e vai fazer aquelas brincadeiras idiota que ele tem? Oliver, cadê ele? -- Ela andava desesperadamente
-- Ele não vai voltar -- A voz do Oliver sai como um sussurro
Ela vem em minha direção e suas pernas enfraquece, a seguro e olho em seus olhos.
-- Eu falei para ele não ir, insistir várias vezes -- A dor estava estampada no rosto dela -- Demos o sobrenome dele ao nosso filho -- Seu rosto vermelho e molhado
-- Como ele se chama?
-- Dylan Grayson Davis Jones -- Ela suspira indo pegar seu filho -- Nosso pequeno probleminha, era assim que ele o chamava, todas as noites eu ligava para falar com ele, até que ele parou de atender -- Ela trás o bebê até a mim
-- Posso pegar?
Eu me aproximei, admirando o menino de olhos verdes e cílios longos como os da mãe, com sobrancelhas escuras iguais às do pai, e senti meu queixo tremer com as lágrimas embargadas, porque ele era fofo demais.
Ele deveria ter estado aqui quando seu filho nasceu.
-- Vou te levar para colher doces ou travessuras ano que vem, tá bom? — sussurrei para ele. — Vou levar você todos os anos a partir de agora. Vou comprar minha própria casa e estarei ao seu lado todos os dias. Ah, também vou te dar os maiores presentes de aniversário. — Apoiei a bochecha em sua testa por um longo tempo. — E quando seus pais te deixarem comigo, para sair em um encontro sozinhos, vou deixar você acordado além do seu horário de dormir.
Eu o coloquei de volta no cercadinho e pressionei os lábios em sua cabeça. Em seguida, ajeitei a cobra de pelúcia entre seus bracinhos.
-- Vou te proteger como ele faria
A dor de perder alguém é destruidora, em um momento você tá bem e na outra hora sentindo uma dor absurda em seu peito, as lágrimas por um tempo seca mas logo depois você tá lá, chorando outra vez. Ontem eu sorrir, cantei, dancei, fui feliz... Hoje eu peguei um livro que estava a meses em minha estante parado, abrir e comecei a lê, deu meu horário de ir trabalhar, tomei um banho e vestir minha roupa, estava na cozinha quando recebi a pior ligação da minha vida " Ela morreu" minha perna vacilou, meu coração acelerou, minhas mãos começaram a tremer, ontem eu estava escrevendo a morte de um personagem fictício e hoje eu escrevo sobre a morte de uma pessoa real, quando a frase " Essa dor vai passar " fará efeito? Por que até agora tá doendo, tá doendo muito 😔
VOCÊ ESTÁ LENDO
Libertado
FanfictionOtto foi mandado para o internato logo após ter quase matado sua irmã adotiva por acidente, deixando ela cega... Sua família o mandou como forma de castigo, mas o que eles não sabiam é que Otto voltaria para reencontrar seus pais... Traumatizado com...