1 - UMA ORGIA DE SANGUE

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— Mulher, qual o problema do seu filho? — O homem careca, corpulento, suando bicas e que pesa mais de cento e trinta quilos, acaba de gritar com sua esposa. O olhar dela para ele não é nada amigável, mas, uma tapa dele a fará dormir novamente por dois dias seguidos e sem interrupções. O nome dele é Louis Pierre Sorrento.

— Não esqueça de que este pária também é seu filho! — Reclama a mulher loira com cabelos cacheados, plus size, deitada seminua numa cama retangular em um cubículo no centro de Paris que parece mais uma masmorra.

— Marie! Chame-o logo para a cama! — Lembrando que os dois estão deitados na mesma cama, porém, o grito do abusador sai assim mesmo. — Senão terei que trazê-lo à força. E se isso acontecer, não será nada bom para ele ou para você, minha querida esposa linda. — A última frase é dita com total sarcasmo.

— Venha meu amor — A voz da mulher sai infantilizada. —, a vida não é fácil para ninguém e você precisa aprender a ganhar dinheiro para ajudar a mamãe a colocar comida em casa. — A inércia do menino pregado com as costas na parede, cheio de asco, medo e com desespero crescente, deixa-o com vontade de se jogar janela a baixo. Porém, o nojo que sente de si mesmo, o faz ficar parado igual a um jarro de plantas falsas.

A atitude do pobre menino, de ficar parado, só aumenta a fúria que cresce no coração da sua mãe... e ela grita... e como grita mais alto com ele:

— Venha logo! Seu excremento humano! Não fique aí parado, embaixo da janela! — O menino começa a chorar em desespero. Ele não quer passar por tudo aquilo novamente. — Deus não existe para você ficar choramingando como uma menininha ou pedindo ajuda para uma divindade qualquer.

— Eu vou matar esse filho da puta se tiver que me levantar da cama. — É a vez de Louis Pierre Sorrento começar a gritar.

— Se fizer isso perderemos muito dinheiro, seu merda. Lembre-se que o rosto e o corpinho dele são sagrados! — Retruca a esposa. — Sem marcas, nunca esqueça disso! Como iremos ganhar dinheiro com ele, seu idiota? — Conclui Marie quase sussurrando.

Marie, sai da cama e vai na direção do filho ainda sentado no chão. Fala-lhe algo no ouvido do garoto que o faz se levantar cabisbaixo.

Antes que o bizarro novamente aconteça, um vento frio abre a janela do quarto. A família percebe uma presença escondida nas sombras... A figura esguia parece fazer parte da parede ou uma extensão da cortina vermelha encardida.

O ataque é animalesco.

Brutal!

Não existe dó ou piedade. Uma total ausência de misericórdia inunda aquele aposento, naquele prédio velho, construído no centro de uma paris decadente do século XIX.

O homem gordo, suado, de peito peludo e dentes amarelados, é arremessado violentamente contra a parede. O impacto é tão grande que todo o reboco cai juntamente com o corpo de Louis.

Os olhos vermelhos e cheios de ira ensandecida, acompanham com alegria eufórica o homem de quarenta e dois anos que grita de dor, se contorcendo no chão. A mulher tenta correr para fora do quarto, quando é segurada pelos cabelos encaracolados e, como se flutuando, Marie é levada até diante da face do vampiro, no alto dos seus quase dois metros de altura. Sua pele sardenta fica pálida com a ferocidade daquele olhar injetado numa mistura de ódio e prazer.

O vampiro de cabelos longos e brancos como a neve, enfia a sua mão direita no tórax da mulher e puxa-lhe o coração para fora do corpo.

Ainda com o coração da mulher fechado dentro da sua mão esquerda, o ser da noite morde o músculo recheado de sangue como se fosse uma maçã.

O prazer do sangue suculento o deixa num frenesi orgásmico.  Sim, matar a repugnância o enche de vida.

O menino de cabelos pretos, magrelo, que tem doze anos de idade, puxa seu corpo para trás buscando força nas trações das pernas dobradas em cima do assoalho, e segue recuando até topar suas costas na parede.

O vampiro parece não ter notado o jovenzinho que move-se de costas na direção da parede do quarto e fica estático como se fosse uma mobília.

Louis agarra o tornozelo do vampiro, mas, recebe um "tiro-de-meta" no meio da cara. O chute faz o homenzarrão chocar-se novamente contra a parede, parecendo que o estranho chutou um saco de batatas.

Enquanto Louis tenta sintonizar-se em qual momento da vida ele se encontra, o vampiro começa a sugar sua esposa pelo buraco no peito esquerdo, que tem a circunferência de uma mão grande.

E para ser sincero, a mulher morta, suspensa pelo vampiro parece ter a leveza de uma pluma. Não demora muito para que o ser da noite despreze o corpo de Marie para o lado e se volte para o marido caído.

Os olhos vermelhos do vampiro parecem transcender e movimenta-se como se fosse uma fumaça que logo se dissipa ao vento ou igual a dança do fogo que consome uma vela.

O vampiro sorri depois que levanta o corpo de Louis, lambendo sua face encharcada de sangue.

O som dos ossos quebrados traz um sabor especial ao sangue.

A criatura ainda está saboreando o sangue fresco quando se prende ao corpo de Louis por causa do frenesi vampírico. Parece um Kraken abraçado a uma baleia que se afoga na ausência do ar nos pulmões, esmagada pelos doze tentáculos da criatura mítica.

"O sangue dos homens maus têm um sabor mais que delicioso... talvez seja o tempero da maldade."

Pensa o Lord Drake, enquanto degusta sua presa.

O jovem? O pobre rapaz já há muito tempo não consegue mais ter controle sobre o seu corpo,  que treme convulsionando de medo.

SENHOR DA NOITE - Lançamento dia 04 de Abril de 2024Onde histórias criam vida. Descubra agora