— O que foi isso? — Eleonor pergunta a si mesma depois do término do capítulo. — Como pode ser isso?
O segundo questionamento é devido o tempo dos acontecimentos. O narrador começa dizendo que matou alguém, como se fosse naquele dia ou no dia anterior, e depois conta a horripilante história da vida dele, numa época onde cita o Jack, o estripador.
A sua cabeça fica a ponto de explodir. Fora que ela fica imaginando todo aquele sangue e como o tempo passa, mas, certas coisas não mudam.
É como se a humanidade não evoluísse e isso é comentado pelo tal Yvi Sorrento, que se dizia ser um vampiro.
Ele dizia ou diz? E o tal do professor existe? Haja vista, o tal homem que parecia com o pai dele tinha um nome secular e não do século XIX.
Eleonor fecha o livro e o abraça. Sente as dores do Yvi Sorrento, mas também lembra-se de todo escárnio, humor negro e desapontamento que foi passado pela leitura.
Seus olhos juntamente com seu cérebro não param quietos. Foi muita informação dentro de uma leitura que Eleonor jugou que seria despretensiosa.
A vontade de ler novamente aquela história vem de forma impetuosa e ao pensar em abrir novamente o livro para lê-lo escuta alguém lhe chamando por um apelido que ela detesta.
— Favo de mel. Boa tarde... perdida por aqui?
Era o Victor Nabuco quem fez a pergunta, parado na frente da mesa que Eleonor está sentada, os dois amigos que estão com ele gargalham com os olhos.
— O que você quer Victor? Vai importunar outra pessoa. Não vê que estou ocupada?
— O que você está lendo?
— Nada que te interessa.
Com a voz provocativamente melosa, porque ele sabia que isso deixava Eleonor irritada, Victor continua o inquérito:
— Você não me suporta não é mesmo, favo de mel?
— É sério que você vai querer continuar falando desse jeito? Não tenho nada contra você só não quero sua amizade. — Eleonor foi taxativa, embora não tenha sido mal-educada.
— Você mija em pé ou sentada?
A pergunta pega Eleonor totalmente despreparada. A jovem fica sem ação. Sua vontade é partir para cima do rapaz e o comentário a deixa presa na cadeira. Como se fossem uma só coisa... Exatamente isso, coisa.
Interiormente Eleonor sabia que o herdeiro da família Nabuco iria sair com alguma pergunta ou comentário nojento... "Por que as pessoas são assim?" Essa era a pergunta que não descolava da sua cabeça naquele exato momento.
Ele sempre faz isso. O rapaz sempre é detestável com Eleonor e faz questão de não passar desapercebido, porém a maldade com a qual ele faz vai além de qualquer outra coisa.
— Não sei o motivo dessa sua cara. — Comenta Victor. — Eu pelo menos mijo em pé ou sentado. Tanto faz. — A dissimulação da resposta sempre quebra qualquer ação jurídica que Eleonor possa vir pensar. Fora que, a maldade disfarçada na ingenuidade faz com que pessoas iguais ao Victor continuem fazendo o que fazem.
— Se você já falou tudo que tinha para falar, pode ir. — Eleonor fala sem alterar o tom da voz. Por dentro, a vontade era de esgana-lo, mas, Victor não merecia que ela o matasse. Suas mãos eram preciosas demais para tocar num lixo igual a ele. — Ou vai querer continuar destilando ódio transfóbico porque tem o pau pequeno ou por qualquer outra desculpa que esse seu mau-caráter deseja usar para machucar as pessoas?
Num rompente de ira controlada, o herdeiro da família Nabuco se debruça sobre a mesa e diz:
— Escolha muito bem suas palavras seu doutor de merda.
— Doutora de merda... não erre o gênero por favor. — Eleonor mesmo moída por dentro defende-se com palavras. — E se vai ficar aí me ofendendo, como é do seu feitio, não perca seu tempo guri. — O "guri" pega Victor de jeito.
Não é o que significa a palavra "guri", no sentido de menino, infantil... mas, em qual contexto o termo é usado em Pernambuco que mexe com o brio daqueles que se acham superiores.
Uma mulher quando deixa a palavra "guri" no final da frase é um tiro a queima-roupa para um "machão".
O rapaz volta vagarosamente à sua postura ereta. Eleonor sente que Victor virou uma chave de maldade dentro do cérebro dele... como se algo terrivelmente tenebroso tivesse entrado pelas suas costas, fazendo-o arquear a postura.
— Eleonor, consegui fazer a matrícula!
A interrupção de Rafael só faz o ambiente ficar com a energia ainda mais carregada.
Não foi por causa do rapaz que falou com alegria de quem passou no ENEM, mas, porque Rafael interrompeu momentaneamente a resposta de Victor para Eleonor.
Victor olhando para Rafael, entende que o rapaz não havia percebido que eles estavam ali.
Sem qualquer expressão na sua face, Victor pede licença para Eleonor e Rafael, vira-se para os dois amigos e faz um gesto com a cabeça para que venham logo em seguida.
Os dois rapazes seguem o herdeiro da Família Nabuco sabendo que o silêncio do rapaz explicou tudo.
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SENHOR DA NOITE - Lançamento dia 04 de Abril de 2024 - Em Andamento
HorrorSENHOR DA NOITE "Yvi Sorrento nasceu numa data qualquer em um mês com nenhuma celebração, no calendário Espúrio." Foram essas frases que Eleonor de Medeiros, estudante de medicina da Universidade Federal de Pernambuco, leu na...