Capítulo Dezesseis

198 18 115
                                    

Cético

adjetivo ou substantivo masculino

1. que ou aquele que não confia, duvida; descrente.

2. diz-se de ou o partidário do ceticismo.

3. pertencente ou relativo ao ceticismo

"Are you going to Scarborough Fair? (Você está indo á feira de Scarborough?)"  Ouvi a voz da filha de Apolo, Aurora, ressoar por todo o salão enquanto era dado o início á competição anual de valsa

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

"Are you going to Scarborough Fair? (Você está indo á feira de Scarborough?)"  Ouvi a voz da filha de Apolo, Aurora, ressoar por todo o salão enquanto era dado o início á competição anual de valsa.

Encarei de canto por de trás da minha máscara cravejada de esmeraldas com detalhes em ouro amarelo a silhueta do meu parceiro de dança com uma certa repulsa, enquanto formava a fila de casais que era inicialmente guiada por mim e pelo próprio.

Ele usava um smoking creme, com a camisa verde musgo, no mesmo tom do meu vestido, e utilizava de joias amarelas.

Quem nos visse de longe saberia certamente quem éramos, e provavelmente pensaria que haveria sido combinada essa "paleta de cores"

Bom, posso afirmar que, o que esse deus tem de estúpido, ele tem de gostoso.

Porque, céus, que deus

Essa roupa havia caído perfeitamente bem em seu corpo divino, marcando todas as áreas que deveriam ser valorizadas (não que tivesse alguma que não deveria), e o tom destacava o azul de seus olhos. Ah, esses olhos.

Olhos que reluzem feito diamantes.

Se fosse em outro momento da minha vida, toda essa beldade em carne e osso na minha frente quase me faria esquecer a raiva que eu estou sentindo dele. Quase.

Mas o olhar que eu sentia queimar em minhas costas por parte da água de salsicha, e a recente memória do beijo que eu dei na minha secretária maravilhosa ainda se faziam bem presentes em minha mente, só me restando a raiva.

Por outro lado, o pedaço de mal caminho que agora andava lado a lado comigo assim como nas danças mais antigas, me encarava com volúpia, luxúria, posse, amor, e uma série de sentimentos intensos, um mais perigoso que o outro.

"Tell him to make me a cambric shirt" Fiquei frente a frente com o loiro, e levantei meu braço até na altura do meu ombro, cruzando levemente minha mão com a dele enquanto rodava lentamente com ele sem sequer por um momento quebrar o contato visual com o a minha frente.

"Você está mais bonita que o comum, Hera. Esse vestido ficou....ótimo, em você." Ouvi a voz dele soar levemente rouca, em uma altura que somente eu conseguiria ouvir, enquanto me devorava com os olhos e trocava a ordem dos movimentos assim como eu de forma monótona, com movimentos já pré estabelecidos em nossos pensamentos.

- Eu sempre estou ótima, querido. - sorrio levemente irônica, olhando de soslaio para a semideusa que parecia querer me matar com os olhos.

Aí aí, coitadinha.

Se eu quisesse mesmo esse tribufu na minha frente, eu o teria sem nem pedir.

Desviei meus olhos tanto de Zeus quanto da laranja amassada, para na direção da deusa de vestido rosado que me olhava corada, abrindo um sincero sorriso na direção dela, vendo-a corar e desviar levemente os olhos para os próprios pés.

Fofa.

Quando ela corava dessa forma, a vontade que me dava era a de agarrar a própria e arrastar ela para a cama mais próxima.

Não que eu seja uma tarada, longe disso.

Mas a inocência dela era uma das coisas que mais de fato me deixava atraída nela.

Senti meu corpo se chocar com o armário que eu dançava, fazendo eu sair do meu breve estupor e fechar minha expressão novamente ao voltar meus olhos para o deus que segurava minha cintura agora.

"Por qual razão você está sorrindo para Íris, Hera?" Ouvi a voz levemente rouca do meu marido soar em meu ouvido, conforme eu e ele dançavamos no automático o ritmo da dança.

- .... - Resolvi ignorar ele, revirando os olhos enquanto descansava minha mão no ombro dele e me deixava ser guiada

"Você não me respondeu." Senti um ligeiro aperto na minha cintura, algo que me fez desviar meus olhos na direção do rosto de meu marido.

Eu não devia resposta alguma pra ele, afinal.

Mas se responder o próprio, garantiria brevemente a segurança da doce deusa pela qual eu estava encantada.

Então eu faria esse sacrifício.

-Eu não sou sua acompanhante para que você cobre satisfações, Zeus. - Senti ele me rodar.

A essa altura, eu nem estava me importando com a música mais, estava tão absorta no diálogo com ele que não fazia ideia de quantos casais haviam sido eliminados ou quais. Nem fazia questão de ganhar essa porcaria novamente.

"Você sabe muito bem que é mais que qualquer acompanhante que eu esteja me divertido, amor." Ouvi uma leve risada da parte dele, e o corpo do próprio roçando contra o meu assim como a respiração dele contra meu rosto "Você é minha." Como ele ousava?

Logo uma salva de palmas foi ouvida em todo o ambiente e eu senti os lábios hábeis do meu marido se chocarem contra os meus, me fazendo franzir a testa e interromper o xingamento que eu certamente iria proferir para ele.

Antes que eu pudesse raciocinar de fato o que estava acontecendo, vi de soslaio Íris se afastar correndo em meio a multidão, assim como a mexerica podre começar a chorar.

Antes que eu pudesse segurar qualquer impulso, o som da minha mão se chocar contra o rosto do meu marido foi ouvido ecoando por todo o ambiente, quebrando assim o beijo e todas as palmas ao redor.

-Não. Me. Toque - sibilei em direção a Zeus, sentindo meus olhos arderem levemente. - Você não tem mais esse direito.

Antes que ele pudesse me dizer qualquer outra coisa que me faça tomar alguma atitude precipitada, passei meus olhos na multidão ao redor que estava com a boca aberta em um perfeito "o", indo em passos largos e rápidos na direção de onde Íris anteriormente estava.

"Hera." Ouvi Zeus murmurar baixo, não sabia dizer exatamente naquele momento se o tom que ele usou era perigoso ou chateado, não sei.

Sei que não me importei.

Ele já havia acabado com a minha noite.

Zeus não estragaria minha felicidade mais uma vez.

Atravessei a multidão que não exitava em abrir passagem pra mim, com um único pensamento em mente.

Procurar Íris, e explicar essa situação pra ela.

Pouco me importava Zeus, ou o reino agora.

Que tudo explodisse.

Eu só queria a minha garota, eu não poderia perder a única chance de felicidade que surgiu pra mim em tantos éons.

Eu sacrificaria tudo pra ser feliz com ela.

Ou melhor, isso é o que eu achava que faria por ela.

O que eu não sabia é que estava sendo observada já, por aquela que viria cobrar sua dívida.




Qual É O Preço Da Coroa? Onde histórias criam vida. Descubra agora