- capítulo vinte e quatro.

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Meu pai havia me ligado todos os dias dessa semana, ele estava se culpando por não poder estar aqui, e eu, bom, eu só queria que meu aniversário acabasse logo. Juro que em todos os meus aniversários fico emotiva e não curto muito esse lance porque eu sei que ciclos vão se encerrar, e dessa vez eu me formaria e a Monse iria embora no final do ano. Eu odeio mudanças.

Acordo no meio da madrugada com o coração acelerado, parecia que havia algo de errado, olho para o lado e vejo que Oscar ainda estava aqui na minha cama, engulo seco e pego o meu celular que vibrava. Jamal e Ruby haviam postado vídeos horrendos e vergonhosos, em um deles eu estava dormindo de boca aberta e no outro eu ria freneticamente como uma hiena. Idiotas... Sorrio ao ler os pequenos textos, respondo cada mensagem que eles e o Cesar me enviou. Bom era o meu aniversário, dezoito anos, eu tinha que estar feliz, só que meu corpo me avisava que algo estava errado.

- Que foi? - pergunta ainda de olhos fechados.

- Nada, só estou respondendo as mensagens dos meninos.

Ele concorda e fica em silêncio.

- É meu aniversário, idiota.

- Eu sei chica, você não quer que te dê os parabéns agora? Ou quer?

- Não, eu não quero - me aconchego no travesseiro.

- Vem cá - me chama com a sua voz rouca. Me aproximo dele e deito em seu peitoral nu, ele envolve seus braços pelo meu corpo e eu respiro fundo.

- Oscar? - o chamo baixinho - Tá acordado?

- Sim, ou não também, o que você quer?

A delicadeza dele é algo magnífico.

- Eu não tô legal...

- Está atrasado? - me solta do aperto e parece que ele despertou.

- Eu não estou grávida, babaca - me sento novamente.

- Aleluia...

- Palhaço - balanço a cabeça em negação - Eu não estou bem, em outro sentindo.

- Em qual sentido? - levanta e anda pelo quarto a procura de seu cigarro.

Observo cada gesto daquele homem e vejo ele abrir minha janela para que a fumaça não fique dentro do cômodo. Penso em como começar a falar, só que sou interrompida por uma chamada em meu celular, encaro a tela e o número estranho, sinto uma dor de barriga esquisita, talvez eu já soubesse o que estava por vim.

- Alô? - a voz masculina soa abafada do outro lado da linha - Você conhece ou é parente de Monty, Monty Finnie?

Arregalo os olhos e pulo da cama, sinto um nó no estômago.

- Quem está falando?! - pergunto já andando de um lado para o outro.

- Senhorita eu sei que o momento é difícil, mas o protocolo é simples, só preciso que você me confirme... - a pessoa começa a falar e falar, eu simplesmente mando ele calar a boca e pergunto o que aconteceu, se não era engano ou até alguma brincadeira sem graça. Sinto que a qualquer momento eu vou cair, jogo meu celular no colchão e Oscar que já estava a muito tempo me perguntando quem era pega o aparelho e conversa com a pessoa.

Minha visão fica turva e parecia que meu coração a qualquer momento pularia para fora, corro até o quanto da Monse e começo a gritar com desespero, tudo aconteceu muito rápido e era como se fosse vários flashs um atrás do outro, minha irmã totalmente desequilibrada chorando igualmente a mim, a falta de ar era algo comum entre nós também, Oscar se manteve calmo e deu as respostas que a pessoa queria. Eu e a Mon já estávamos no sofá da sala abraçadas e chorando baixinho, Spooky se vestiu e só saiu quando o Cesar chegou. Tudo era caos e hoje, era o meu aniversário...

[...]

Nós não dormimos mais, era impossível, meu pai estava em uma cidade próxima e levou algumas horas até que o corpo chegasse para autópsia. É tão estranho pensar que de uma hora para outra tudo pode mudar, pelo o que disseram, um homem que estava sobre efeito de entorpecentes atravessou o farol aberto com a velocidade alta, meu pai não o viu e, aconteceu.

Minha mente está em estado de negação, eu já sabia que algo estava errado, só não podia imaginar que isso aconteceria.

A pior parte foi ter que me manter forte ou pelos menos demonstrar que era. Minha irmã precisa de mim. O dia passou muito rápido, já era noite e nós precisamos comparecer ao velório.

- Querida, saiba que vocês não estam só - a senhora Martínez acaricia minha bochecha.

- Obrigada tia... - tento sorrir, eu não conseguiria ficar aqui por mais tempo.

- Ei gatinha - escuto a voz de Jamal atrás de mim, não consigo responder e apenas o abraço com toda a força.

- James, ele morreu...

- Eu sei amiga, eu estou aqui.

- Esme? - anda de vagar pelo salão.

- Oi Ruby - limpo as lágrimas que estavam na minha bochecha e abraço ele também.

- A Mon está lá fora, ela não consegue entrar.

- Eu sei... Eu só estou aqui para receber as pessoas.

Os meninos ficaram ao meu lado o tempo todo, eu falava com todo mundo e ainda tinha que me manter em pé, no fim de tudo meu pai foi enterrado e a minha irmã nem viu.

Chegamos em casa e eu implorei para que deixassem a gente só, eu e minha irmã tomamos banho para tirar as energias ruins que haviam naquele lugar, ela não disse uma palavra se quer, e eu fiz o mesmo. Ela se trancou em seu quarto, já que ela queria ficar só eu não podia fazer nada. Sento no sofá e olho pro teto, por que será que o cara lá de cima deixou isso acontecer?

Algumas batidas na porta me tira dos meus pensamentos.

- Entra - minha voz sai rouca por conta do choro.

Oscar Diaz abre a porta e depois a fecha, ele senta ao meu lado em silêncio.

- Oscar, eu não sei se eu sou uma boa companhia agora.

- Eu sei que você disse que queria ficar sozinha, só que eu não vou deixar.

Encaro o seu rosto com o semblante confuso.

- Você tem certeza? - fungo baixinho.

- Tenho sim, não quero que você se isole, já passei por isso.

As palavras me faltam, talvez ele estivesse com dó, isso não era bom.

- Não precisa ficar aqui por dó.

- Não é dó, estou aqui porque eu quero, posso cuidar disso e até cuidar de você...

- Eu não sei o que dizer.

- Então a gente fica em silêncio.

En control - Óscar Diaz. Onde histórias criam vida. Descubra agora