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Prólogo

Meng Yao


Lanling - China

No dia seguinte do seu décimo sexto aniversário

Tento me concentrar no som das ondas do mar quebrando abaixo de nós, mas a voz dele não me permite aproveitar a paz que preciso nesse momento.

- Meng Yao você só pode estar brincando. Isso nunca vai dar certo - Zanjin diz.

Sinto meu cabelo molhado pingando em minhas costas. Eu fiquei quase vinte minutos no banho antes de juntar algumas peças de roupa em uma mochila e vir encontrá-lo. Agora, me pergunto se não deveria ter me esfregado um pouco mais. Só que eu sei que não importa o quanto de sabão use, nunca me sentirei completamente limpo outra vez.

Olho para meu amigo, o único que tenho. Ele é filho de um dos nossos empregados.

Minha mãe tentou a todo custo impedir que uma amizade crescesse entre nós, mas sempre nos demos bem.

Não quero envolvê-lo além do necessário, então tento fingir que estou calmo.

Zanjin não pode descobrir. Ninguém pode saber.

- Eu não tenho outra saída. Por favor, Zanjin. Não posso ficar aqui ou minha vida estará acabada. Eles nunca me deixarão partir e eu quero ser livre - minto.

- Como não deixarão? Você é inteligente e tem que estudar, como todo mundo. Não falou que sua mãe estava pensando em enviá-lo para a Suíça?

Aperto os punhos ao lado do corpo.

- Por favor - insisto, sem saber quais outros argumentos usar para convencê-la. Amara não tem ideia de que preciso fugir imediatamente.

Sinto um pouco de remorso por estar enganando meu amigo. Na verdade, eu iria embora da ilha dentro de pouco mais de um mês, mas isso foi antes do que aconteceu. Se eles descobrirem, vou para a prisão.

Outra prisão. Agora uma de verdade e não tendo mais somente minha mãe e meu padrasto como carcereiros.

Zanjin segura minha mão, entrelaçando nossos dedos. Eu resisto à tentação de pedir um abraço. Se eu fizer, não conseguirei seguir adiante com isso.

- Mas todos vão notar - argumenta. - E o que vou dizer para os meus pais?

Doutor Rouhan poderia se voltar contra eles se descobrisse. Meu pai morre de medo do homem. Além do mais, se eu aceitar o que está me propondo, quem ficará preso nesse lugar para sempre serei eu.

- Eu tenho dinheiro guardado - me apresso a garantir. - Posso dividi-lo com você. Não me disse que sonhava em conhecer o mundo? Faça isso. Seja dono do seu próprio destino. Você já é quase maior de idade.

Zanjin, ao contrário de mim que só tenho dezesseis, tem quase dezoito anos e sempre quis ir embora.

Essa é a ironia da vida. Até o que aconteceu hoje de madrugada, de nós dois, ele era aquela que tinha pressa de viver. Lindo e corajoso. O ômega que eu sempre quis ser. Eu bebia suas histórias de como era divertido sair com seus namorados, o que eles faziam e até sua experiência em provar álcool. Eu vivi muito tempo através dele, fantasiando estar em seu lugar.

- Você vai ter dinheiro para começar uma boa vida - garanto. - Disse-me que seus pais não ligariam se continuasse estudando ou não e que só aceitaram a bolsa de estudos para agradar o tal doutor Wen Rouhan.

Então, que diferença faz? Eu vou fingir que sou você apenas por um par de dias. Só o suficiente para procurar um lugar para morar em Yunmeng.

O que eu não falo, é que provavelmente terei que atravessar a fronteira e ir para outro país.

𝕺 𝖒𝖆𝖋𝖎𝖔𝖘𝖔 𝖊 𝖘𝖚𝖆 𝖔𝖇𝖘𝖊𝖘𝖘ã𝖔Onde histórias criam vida. Descubra agora