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Capítulo 29

Yao

Horas mais tarde

Enquanto caminho pelas ruas do meu bairro, fico atento a cada movimento à minha volta.

Haiukan  uma vez me falou que estou sempre em estado de alerta, e quando fiquei chateado, ele disse que era um elogio.

Acho que nunca conseguirei relaxar. Sempre pronto para fugir ao menor sinal de perigo, mas hoje, a sensação de estar sendo observado está deixando meu estômago embrulhado.

Das outras vezes, pensei que era alguém enviado por ele — a tal expressão sobre me monitorar, seja lá o que isso signifique. De tudo o que converso com Xiao Zhan, tanto Yibo quanto Haiukan  têm a tendência a elevar a preocupação a um outro nível.

Confio em meus instintos e eles nunca me trouxeram uma sensação de perigo, mas essa noite, algo me manda tomar cuidado.

Não há mais ninguém na rua e fico tentando decidir se devo correr os metros que faltam até a entrada da minha casa.

Estou quase em pânico, o coração batendo tão depressa que sinto a pulsação no ouvido.

E se houver alguém atrás de mim? E se ele tentar me forçar para dentro de casa?

Meus pensamentos nesse instante são os mais loucos então, quando ao virar uma esquina dou de cara com Fanxing, meu vizinho adolescente, quase choro de alívio.

Ele carrega uma quantidade absurda de livros. Me contou outro dia que está de castigo por ter batido o carro que usa junto com a mãe e desde então, ela o obriga a usar transporte público.

— Fanxing, oi. Deixa eu te ajudar.

Apesar de estar exausto, sua casa é perto da minha e se realmente houver alguém me seguindo, talvez me ver com outra pessoa o desestimule.

Ele olha espantado e eu sei a razão. Nunca sou eu a puxar assunto. Ele sempre tenta se aproximar e eu recuo, ainda que sutilmente.

— Oi, vizinho Yao sem sobrenome. Tem certeza disso? Eles estão pesados.

Ele não faz ideia de que só por ter companhia para chegar em casa eu seria capaz de me oferecer para carregar o dobro daquilo.

— Eu consigo, me dê alguns.

Assim que ele me passa uns livros, eu quase afundo no chão.

— Jesus Cristo! Isso pesa uma tonelada.

— Eu avisei. Sinto muito por isso, mas não sou cavalheiro o suficiente para recusar ajuda. Eu estava quase dando um jeito na coluna antes de encontrá-lo.

— Que livros são esses?

— Você está muito falante hoje, Yao. Cuidado que vai perder o primeiro lugar no time dos antissociais.

— Engraçadinho.

— São livros de medicina — responde.

— É a faculdade que eu quero cursar.

Mesmo sustentando tanto peso, olho para o lado e o encaro. Fanxing é a maior prova de que não se deve julgar um livro pela capa — com o perdão do trocadilho.

— Desculpe se estou sendo rude, mas nunca o imaginaria fazendo medicina. Você parece um cantor de rock adolescente.

— Menino, você foi quase perfeito no elogio, só escorregou na parte do adolescente.

Reviro os olhos.

— Você é adolescente.

— Por pouco tempo. Daqui a dois meses faço dezoito.

Olho para o rapaz que caminha ao meu lado. Somente dois anos nos separam, mas por dentro, eu me sinto um idoso.

Afasto o pensamento rapidamente. Não é um bom momento para ficar triste.

Quando chegamos na porta da casa dele, eu deixo os livros nos degraus.

— Obrigado pela ajuda. Se eu tivesse que carregar esse peso sozinho, talvez tivesse que me especializar em medicina ortopédica para consertar minha própria coluna.

— Nada de carro ainda?

— Não. Minha mãe disse que ainda não está convencida de que serei responsável na próxima vez que usar o carro dela. .

— Ela deve ter suas razões.

— Hey, pensei que éramos amigos.

Essa é a hora em que você deveria me dizer que mães são horríveis, sabe? Aquela coisa de ser solidário com o próximo e tal?

Sorrio e me despeço.

— Boa noite, Fanxing. Foi um prazer falar com você.

— Sabe de uma coisa, Yao? Quando você se dá uma chance, é um garoto muito legal.

Enquanto cada um de nós pega a própria chave, eu olho para trás disfarçadamente para confirmar se não há alguém nos observando. Parece que não, mas ainda assim, um arrepio de medo atravessa meu corpo enquanto destranco a porta.

Mal coloco o pé dentro de casa e mesmo na escuridão, percebo que não estou sozinho.

— Esse lugar não é seguro — uma voz fala.

Sabe aquele momento, apenas uma fração de segundo, onde o pânico ameaça se instalar porque acreditamos estar em perigo? Ele me acomete agora, tão rápido quanto um tiro de revólver me atingiria.

Mas em seguida, eu volto a respirar. No meu coração, sei que estou seguro. Em casa.

Não tem nada a ver com o espaço físico, mas com quem está aqui comigo.

Haiukan .

Enquanto observo, congelado no lugar, a sombra do homem que me fez voltar a desejar uma segunda chance de ser feliz, minha reação a ele me diz que não só estou apaixonado, mas que não haverá outro para mim.

Estico a mão para o interruptor e a claridade permite que nos encaremos.

Ele não se move, me observando com aqueles olhos castanhos, que para mim sempre foram irresistíveis.

Jogo a mochila no chão e me aproximo, dando os passos que faltam para chegar até onde está.

Colando a testa em seu peito, aspiro seu cheiro de homem, minha mãos puxando-o para mim.

Como diabos pensei que poderia apenas ir embora? Eu não quero desistir dele, de nós, do que sou quando estamos juntos.

— Eu deveria brigar com você por me assustar desse jeito, mas estou com muita saudade.

Minha confissão parece romper algo dentro dele, o mesmo tipo de loucura que sempre nos atinge quando estamos próximos.

Ele me pega em seus braços e fecho as pernas em volta de sua cintura. As bocas se buscando com desespero.

Estamos perdidos um no outro.

Paixão, carinho, necessidade, tudo misturado em um pacote explosivo.

Minhas mãos trabalham para livrá-lo do blazer do terno e camisa, enquanto ele puxa minha camiseta por cima da cabeça.

Agarro seus cabelos e trago sua boca para mim, mordendo, sugando, chupando, matando a fome que sinto dele. Me separo apenas alguns segundos para deixar o aviso.

— Você é meu, alfa.

(....)

𝕺 𝖒𝖆𝖋𝖎𝖔𝖘𝖔 𝖊 𝖘𝖚𝖆 𝖔𝖇𝖘𝖊𝖘𝖘ã𝖔Onde histórias criam vida. Descubra agora