013

109 25 2
                                    

Capítulo 13

Zanjin

Em algum lugar na Suíça

Na mesma noite

— Por que tivemos que vir tão depressa? Não estou reclamando, antes que você imagine isso
— falo e ele solta nossas malas perto da escada.

Estamos nas montanhas agora e juro por Deus que não aguento mais voar. Saímos de helicóptero da ilha, tomamos um avião particular para um aeroporto na Suíça onde descobri que agora eu tenho documentos, embora não faça a menor ideia de como ele conseguiu isso, depois novamente pegamos outro helicóptero para as montanhas.

O chalé é no meio do nada e começo a achar que a minha vida será sempre preenchida com lugares isolados.

— Não está reclamando, hein? — Ele pergunta e sei que está me empurrando de propósito. É como se ele amasse me ver explodir.

— Não — confirmo e ando até a geladeira para pegar uma garrafa de água.

A casa não é nem de perto do tamanho da mansão na ilha, mas é uma graça. Haiukan  me disse que pertence a ZhuoCheng, um dos homens que trabalham para Yibo.

Quando me volto para encará-lo, ele está parado muito próximo, totalmente invadindo meu espaço pessoal. De surpresa, ele me ergue e me senta no balcão, se encaixando entre as minhas pernas.

— O que você está fazendo? — Pergunto, encabulado. Não tenho a escuridão do meu quarto para me proteger.

— No momento? Cheirando você — diz, roçando o nariz no meu pescoço — mas daqui a dois segundos vou comer sua boca.

Não consigo processar o que ele falou rápido o bastante porque meu alfa cumpre sua promessa. Com um simples tocar dos nossos lábios já estou rendido. Nossas bocas se consomem com tanta fome que os dentes chegam a bater.

O contato é íntimo, intenso e de repente, uma onda de pânico me atinge ao perceber que estou começando a sentir mais do que desejo ou necessidade de proteção por ele.

Seria muita estupidez que o meu primeiro amor fosse um homem como Haiukan . Com toda a minha bagagem e sendo ele quem é, eu sei que quando tudo acabar, estarei destruído.

Empurro seu peito suavemente, mas com determinação.

Ele permite que eu o afaste, mas sua testa franze, como se não estivesse entendendo. Nos encaramos em silêncio e se eu for sincero, o desejo de puxá-lo de volta é muito grande, mas antes que eu possa me decidir, ele dá alguns passos para trás.

— Nós tivemos que sair da ilha porque talvez a segurança estivesse comprometida — ele finalmente responde o que eu perguntei há uma vida atrás.

— Tudo bem. — Devolvo, tentando colocar o mesmo tom sem emoção.  — Como eu disse antes, eu só queria entender.

Dois dias depois

Quase não nos falamos nas últimas quarenta e oito horas. Depois da cena da cozinha, parece que uma barreira se ergueu entre nós.

Estou triste e sem saber como quebrar o gelo, porque quando ele fica sério assim, é intimidante para caramba.

Passei as duas noites praticamente em claro com medo de adormecer e ter pesadelos. Não quero que ele se sinta obrigado a ficar comigo.

Ontem foi o aniversário de Xiao Zhan e conversamos por vídeo pela primeira vez. Eu fingi que  estava tudo bem porque era o dia de comemoração dele e não queria entristecê-lo, mas depois quase chorei de saudade quando fui tomar banho.

Eu estava acostumado a reprimir as emoções, mas agora elas surgem como uma avalanche, atropelando tudo pelo caminho. Também havia feito as pazes com a solidão, mas depois que comecei a conviver com ele, percebi que não quero mais ser sozinho.

— Você está muito quieto, Zanjin — Haiukan  fala com cuidado, se sentando ao meu lado nos degraus de pedra do lado de fora do chalé.

Ele não me perguntou sobre os pesadelos. É como se as nossas noites compartilhadas nunca tivessem existido.

Fico calado e continuo usando o graveto em minha mão para fazer desenhos no solo.

— Achei que ficaria mais feliz depois de falar com a seu amigo. — Complementa ao ver que meu silêncio persiste.

— Eu fiquei, claro. Xiao Zhan estava tão lindo. Nem sei há quanto tempo ele não comemorava um aniversário.

— Vocês têm a mesma idade? — Ele pergunta, mas aquilo soa mais como uma afirmação.

Acho que sabe a resposta, então só sacudo a cabeça, concordando. — Que dia você nasceu?

Dou de ombros, porque realmente não me importo. Minha última celebração de aniversário foi a dos meus dezesseis anos. O início do fim da minha inocência.

— Fiz aniversário na semana passada.

Ele se levanta e me olha, parecendo chocado.

— O quê? Está me dizendo que estávamos na ilha no seu aniversário?

A boca se comprime em uma linha fina e parece chateado.

— Sim, mas não tem importância. Nunca gostei de festas, mesmo antes de tudo… acontecer.

Ele não fala nada. Se afasta, me deixando sozinho nos degraus.

O que foi que eu fiz dessa vez?

Naquela noite

— Haiukan , acho que eu escutei um carro lá fora, mas eu estava tomando banho — digo, descendo as escadas com o coração um pouco acelerado.

Esse chalé é muito isolado e para chegar até a cidade são pelo menos trinta minutos dirigindo em uma estrada sinuosa, segundo ele me falou.

Assim que piso na cozinha, minha boca se abre. As luzes estão apagadas e há um bolo cheio de velinhas em cima da mesa.

Depois de tudo, de anos de dor física e psicológica, é justo isso o que faz minhas lágrimas finalmente descerem.

Cubro o rosto com as mãos e choro. E quando eu começo, não consigo mais parar.

— Zanjin …

Sei que estou dando um show, mas não me importo.

Ele me pega no colo e fecho as pernas em volta de sua cintura, tentando ao mesmo tempo me aconchegar em seus braços.

— Baby, eu sinto muito.

— Não se desculpe. Obrigado.

Escondo o rosto em seu peito.

— Pelo quê? Por fazê-lo chorar? Eu fui um idiota insensível, aparentemente.

— Não, Haiukan , você não foi. Eu não vou mentir. Aniversários não me trazem boas lembranças, mas o que me emocionou foi você ter se importado ao ponto de fazer algum pobre coitado dirigir meia hora para trazer um bolo para mim.

— Você merecia comemorar seu aniversário e eu não sei cozinhar. — Ele se justifica e eu sorrio.

— Você tem outras qualidades.

— Como o quê, por exemplo?

— Você é um ótimo colchão.

Ele ri.

— Eu quero bolo. Eu adoro bolo de chocolate — digo.

— Graças a Deus! Só havia um na cafeteria da cidade e eu tive que convencer a dona a cancelar a venda anterior e trazê-lo para nós.

— Haiukan ! — Falo horrorizado, mas sorrindo. — Como pôde se apossar do bolo de outra pessoa? Você não joga limpo.

Seu sorriso morre e sei que o tom da conversa mudou.

— Isso você vai aprender bem rápido sobre mim, Zanjin . Nada me separa do que eu quero.

(...)

𝕺 𝖒𝖆𝖋𝖎𝖔𝖘𝖔 𝖊 𝖘𝖚𝖆 𝖔𝖇𝖘𝖊𝖘𝖘ã𝖔Onde histórias criam vida. Descubra agora