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Capítulo 42

Yao

San Diego — Califórnia

Cinco dias depois

Ontem falei com Song Jyang que vou embora no máximo na próxima semana.

Haiukan  ainda não voltou de viagem, mas é provável que assim que estiver nos Estados Unidos, virá me encontrar e então, partiremos.

Estou me sentindo um pouco culpado por não ter contado a ele sobre o pedido do casamento, mas como ainda não disse o sim definitivo, meu remorso é parcial.

O problema é que para revelar isso, teria que explicar também a razão pela qual ocultei nosso relacionamento.

Eu o adoro e por isso mesmo, não quero envolvê-lo em algo perigoso. Contar que me encontro com meu namorado às escondidas levaria a outras questões que não posso responder.

Olho o relógio na mesinha de cabeceira, criando coragem para levantar.

Não sou uma pessoa da manhã, mas como uma espécie de despedida antecipada, convidei Song Jyang para tomar um café completo, que os americanos chamam de brunch.  Eu vi na internet uma cafeteria que parece ser maravilhosa. Cada mesa tem diversos tablets e os clientes podem selecionar itens no menu e desse modo, ter uma refeição personalizada.

Acabamos de fazer nossos pedidos e ele está sorrindo, comentando sobre um filme que assistimos ontem à noite, quando de repente fica branco como uma folha de papel.

— Song Jyang, o que aconteceu? Está se sentindo mal?

Ele segura minha mão por cima da mesa.

— Tem um homem nos encarando. Há algo errado com o olhar dele, Yao. Ele está me assustando — diz.

Eu me viro discretamente para trás e assim que identifico a quem ele se refere, sinto meu estômago revirar. Sentado duas mesas depois de nós, o agente que me abordou na petshop sorri para mim como se dissesse: te peguei.

Ao contrário de Song Jyang, que acha que estamos desprotegidos, sei que meus guarda-costas estão lá fora. Mas mesmo que Haiukan  e seus homens esperassem que mais cedo ou mais tarde o federal me encontrasse, o momento não podia ser pior: com ele ao meu lado e meu namorado fora do país.

Quando volto a olhar para frente, meu rosto está sério, minha mente trabalhando no que preciso fazer.

Eu e Haiukan  já repassamos o plano dezenas de vezes.

Sabíamos que ele só se aproximaria de mim se pensasse que eu estava vulnerável, então a ideia era que eu o mantivesse me seguindo já que os guarda-costas o apanhariam. Dali por diante,

Haiukan  me deixou no escuro. Não tenho certeza de qual seria o destino do homem, embora tivesse uma boa ideia.

Pelo que conheço dos alfas chineses até aqui, ninguém os ameaça e sai impune. Nem mesmo um agente federal.

Discretamente, pego o celular em minha bolsa e mando uma mensagem para Haoxuan , avisando que o agente está dentro da cafeteria. Ele responde segundos depois, me mandando sair pela porta dos fundos.

Olho em volta do estabelecimento. O que Haoxuan  diz faz todo sentido. Se o homem me seguir como imagino, será mais fácil para os guarda-costas o apanharem sem testemunhas.

— Você o conhece? — Pergunta.

Aceno com a cabeça fazendo que sim e ao mesmo tempo encarando-o, rezando para que entenda que estamos com problemas.

— Temos que sair daqui bem rápido e quando eu mandar correr, você vai me obedecer. Fui claro

  Digo.

Posso perceber que ele está à beira de um ataque de pânico, mas não temos tempo para isso.

A vantagem dele ser supostamente um homem da lei, é que não pode fazer nada estúpido em público.

Haiukan  conversou muito comigo.

O FBI não pode abordar as pessoas aleatoriamente nas ruas, sem uma razão aparente.

Ele não tem qualquer alegação contra mim. Ainda mais agora que todos os meus documentos estão corretos.

Mantenho o celular em minha mão e pego a bolsa com movimentos lentos.

Depois de me levantar, seguro o cotovelo de Song Jyang e praticamente o arrasto comigo para os fundos da loja.

— O que está acontecendo? Quem é ele? — Pergunta quase histérico, mas não temos tempo para explicações.

No corredor para os banheiros, sigo na direção oposta, caminhando para a saída dos funcionários. Correndo até o carro ainda sem soltá-lo, toco o botão de emergência programado no celular. Isso completará a ligação para Haiukan .

Se eu ligasse e não falasse nada, esse seria o nosso código para que ele saiba que estou em perigo. Mesmo que esteja fora do país, prometi nunca mais deixá-lo no escuro.

Ele mal coloca o cinto de segurança e eu arranco com o carro, dirigido em uma velocidade perigosamente alta. A adrenalina fazendo o sangue bombear muito forte por todo o meu corpo.

— Ele está nos seguindo? — Song Jiang choraminga.

— Eu não sei, mas nosso tempo aqui em San Diego acabou. Quando chegarmos em casa, você vai recolher o máximo que conseguir e nós vamos sair. Sem perguntas agora, Song Jyang.

Não sei se os seguranças estão atrás de nós, se conseguiram pegar o cara ou até mesmo se o federal nos seguiu, então preciso fazer com que ele entenda que a situação é grave.

Mal paro o carro e Song Jyang entra na casa correndo. Quando me livro do cinto de segurança, um homem em uma moto entra na nossa garagem.

Morrendo de medo, eu corro sem olhar para trás.

Ouço passos e quase tenho um infarto quando sinto uma mão em mim.

Apavorado, grito com todo o ar dos meus pulmões.

— Yao, sou eu, baby. .

Eu continuo me debatendo, o instinto de sobrevivência ativado. Demora um pouco até a voz do homem que eu amo penetrar na minha mente e eu assimilar que é Haiukan  quem está comigo.

— Onde estão seus documentos? — Ele pergunta.

— Na bolsa. Você mandou que eu os carregasse sempre.

— Precisamos ir embora. Eu não sei o que aconteceu quando você saiu da cafeteira e não posso deixar que corra riscos.

— Mas Song Jyang….

— Ele está seguro. O homem que você notou que as seguia é alguém enviado pelo cunhado dele.

— Mesmo assim, Haiukan . Eu quero me despedir.

— Tem dois minutos para fazer isso. Entrarei com você.

Ando tão depressa quanto possível e quando chego à sala e o vejo, corro para seus braços.

Depois de algumas palavras de encorajamento mútuo, dizemos adeus.

Estranhamente, notar o homem ao lado dele me deixou mais tranquilo. Ele tem um ar feroz e sei que o protegerá contra qualquer um que tentar feri-lo.

— Vamos — Haiukan  diz, me arrastando em direção à moto e me entregando um capacete.

— Temos que sair daqui.

Olho mais uma vez para a casa, mas por fim acabo fazendo o que ele manda.

Agora que a adrenalina desencadeada pelo medo baixou, minhas pernas mal me sustentam.

Coloco o capacete e subo na moto. Ainda dou uma última olhada para o lugar que foi meu lar por um curto período, em uma despedida silenciosa.

Mas eu confio em Haiukan . Ele nunca mentiria para mim.

Song Jyang está em segurança.

(...)

𝕺 𝖒𝖆𝖋𝖎𝖔𝖘𝖔 𝖊 𝖘𝖚𝖆 𝖔𝖇𝖘𝖊𝖘𝖘ã𝖔Onde histórias criam vida. Descubra agora