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Capítulo 50

Haiukan

Por um instante, eles apenas se encaram. É uma situação estranha porque não sei o que acontecerá em seguida. Então, vejo Yao dar um passo à frente.

— Você sabia? — Pergunta para Zanjin  e estou atento ao rosto do meu ômega. Ao menor sinal de que aquilo é demais para ele, iremos embora.

— Sobre Mao, sim. — O outro pelo menos tem a decência de admitir na frente do amigo o que já havia me confessado há alguns meses. — Sobre o seu… sequestro, o boato só surgiu um tempo depois.

— E em nenhuma das duas vezes você fez algo.

Não é uma pergunta, mas uma afirmação que acredito que, apesar de ter sido dita em voz alta, foi para ele mesmo.

— O que queria que eu fizesse?

— Me defendesse em minha ausência. Você sabia o que ele tinha feito e deixou que todos pensassem que eu era um garoto fugitivo que largou a família para trás sem qualquer motivo.

— Você foi um fugitivo por um tempo — o descarado ainda tem coragem de argumentar.

— Por algumas horas, você quer dizer. — Yao cospe as palavras.

— Mais do que ninguém, você sabe que mamãe jamais teria acreditado em mim se eu tivesse contado o que ele fez comigo.

Somente depois, eu aprendi que o que fiz, mesmo que o tivesse de fato matado, seria considerado legítima defesa. Mas naquela madrugada, eu estava muito assustado. Não tinha ninguém que olhasse por mim.

Não o culpo por tudo, Zanjin , mas pelas duas vezes em que escolheu fazer de conta que eu não existia.

— O que você quer? Que eu peça perdão?

Yao sacode a cabeça de um lado para o outro.

— Eu não preciso do seu perdão. Eu só queria olhar para você mais uma vez. A pessoa que achei que era meu único amigo no mundo depois que meu pai morreu. Aquele com quem dividi meus segredos e sonhos de menino, para confirmar como estive enganado ao seu respeito. Depois de tudo o que eu passei, fiz amigos reais. Agora sei como é uma verdadeira amizade. Tenha uma boa vida, Zanjin . .

Yao vem para perto e pega a minha mão. Começamos a nos afastar quando a voz do homem nos alcança.

— Perdoe-me.

Ele olha para trás.

— Para perdoá-lo, teria que sentir alguma coisa por você: ódio, rancor, mágoa. Qualquer coisa. E eu não sinto nada. Você é um nada para mim, Zanjin .

Eu nunca pensei que pudesse me sentir emocionalmente esgotado, achei que não havia emoções o suficiente dentro de mim para isso, mas antes de chegarmos a nossa segunda parada, tudo o que eu quero é ir embora e esquecer essa ilha maldita.

Yao, no entanto, parece sereno. Não consigo ter certeza se está somente esperando para explodir depois ou se não o abalou tanto reencontrar aquela cobra.

— Eu prometo que não vou demorar. Só preciso dizer algo a ela — fala, se referindo à mãe.

— Por que, lindo?

— Você disse que Shi perdeu todo o dinheiro e também seu papel de dama da alta sociedade.

Aceno com a cabeça, confirmando.

— Não é o bastante, Haiukan . Ela precisa saber o que eu passei. Pode ser que ela não perca sequer uma noite de sono por isso, mas vai ouvir o que aconteceu comigo.

𝕺 𝖒𝖆𝖋𝖎𝖔𝖘𝖔 𝖊 𝖘𝖚𝖆 𝖔𝖇𝖘𝖊𝖘𝖘ã𝖔Onde histórias criam vida. Descubra agora