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Dᴏᴠᴇ POV
Jᴜʟʜᴏ ᴅᴇ 2023
Mɪᴀᴍɪ, Fʟᴏ́ʀɪᴅᴀ

Por muito tempo, pensei que a minha vida fosse se tornar uma vida de verdade. Mas sempre havia um obstáculo no caminho, algo a ser ultrapassado antes de começar a viver, um trabalho não terminado, uma conta a ser paga. Aí sim a vida de verdade começaria. Por fim, cheguei a conclusão de que esses obstáculos eram a minha vida de verdade. Essa perspectiva tem me ajudado a ver que não existe um caminho para a felicidade.

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer menos erros. Não tentaria ser tão perfeita, seria mais tola ainda do que tenho sido; na verdade, bem poucas coisas levaria a sério. Se eu tivesse que contar hoje minha vida para alguém, poderia fazê-lo de tal maneira que iriam me achar uma mulher independente, corajosa e feliz. Nada disso, estou proibida de mencionar a única palavra que é muito mais importante que os onze minutos: o amor.

Durante toda a minha vida, entendi o amor como uma espécie de escravidão consentida. Mas é mentira, a liberdade só existe quando está presente. Quem se entrega totalmente, quem se sente livre, ama o máximo e quem ama o máximo, sente-se livre. Por causa disso, apesar de tudo que posso viver, fazer, descobrir, nada tem sentido. Espero que este tempo passe rápido, para que eu possa voltar à busca de mim mesma, encontrando alguém que me entenda, que não me faça sofrer.

Mas que bobagem é essa que estou dizendo?

No amor, ninguém pode machucar ninguém; cada um de nós é responsável por aquilo que sente, e não podemos culpar o outro por isso. Já me senti ferida quando perdi as pessoas pelas quais me apaixonei. Hoje estou convencida de que ninguém perde ninguém, porque ninguém possui ninguém.
Acredito que já era madrugada e eu continuava olhando para o teto em uma crise existencial. Por muitas vezes, essa era a pergunta que martela em minha cabeça: o que vou fazer da minha vida? Havia um desejo absurdo de sair de casa, criar asas, distanciar do controle da minha família. Bem, agora eu tenho um emprego de meio período e logo estaria formada. Droga, eu nem sei o quanto irei receber. Eu deveria ter perguntado a Sofia

Eu consigo sobreviver sem eles, certo?

- Eu tenho para onde ir, eu posso me virar – sentei no meio da cama – Não deve ser tão difícil assim! - a verdade é que eu não sou feliz, me sinto presa em uma gaiola e por mais que tente me rebelar, nada muda. Todos me veem como uma perda total de tempo. Eu me acho uma perda de tempo. A quem eu quero enganar. Sou apenas uma mulher de 27 anos, sem perspectivas, sem objetivos, cursando uma área que não ligo a mínima e para que. Quem serei daqui a uns anos? Vou me conformar em um emprego para agradar meus pais, casar e ter uma “linda” família? Me anular e só seguir a correnteza. Alguém bateu na porta, me tirando desse mar de divagações - Pode entrar – minha mãe estava com uma xícara nas mãos.

- Trouxe para você – se aproximou – Erva cidreira

- Obrigada, mãe – provei o líquido morno – Você já teve algum sonho? - franziu o cenho - Assim, algo que não tenha a ver com os negócios da família – sentou na beirada da cama - Algo realmente seu

- Eu queria ser psicóloga – disse – Parece bobo, mas o seu avô, ele sempre forçou a barra e nunca deixou eu sonhar nada além do que você vê agora. Os negócios da família sempre foram a prioridade

- Vovô parece que foi uma pessoa horrível – falei sentindo uma agonia no peito.

- Infelizmente, eu não posso discordar de você, filha – deixei a xícara de lado e fiz o que a muito tempo não fazia, procurei abrigo nos braços da minha mãe - Você continua sendo a minha menina...

We Go Down Together - Dofia (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora