Prólogo

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SEM REVISÃO

Vinte anos antes.


Carmo se olhava no espelho a sua frente, franziu suas sobrancelhas, mordeu o lábio inferior e semicerrou os olhos. Tentava a exatos dois minutos fechar o botão da camisa social em seu pulso direito. Já fora um custo colocar aquela calça social que sempre causava coceira em seu corpo. Por mais que tivesse sido acostumado a usar roupas daquele estilo, ainda não tinha a habilidade com aqueles pequenos botões.

Parou por um momento, fechou as mãos com força e respirou fundo, acalmou seu corpo e se concentrou mais uma vez. Ergueu os olhos ao ouvir barulho na porta de seu quarto seguidos de passos, avistou seu pai o encarando e segurando uma risada. Enquanto o homem caminhava em sua direção o observou atentamente. Usava um terno azul marinho com riscas brancas, o colete muito bem ajustado ao peito e até mesmo a camisa social combinava com o terno.

Todos o respeitavam...na realidade Carmo sabia que ia além de respeito e sim medo. A alguns anos que começava a tomar consciência das atitudes de seu pai e em poucos anos seria ele a seguir e escolher as mesma que seu pai. Não fora fácil quando começara o acompanha-lo em execuções.

Na sua primeira participação, sentiu sua bile subir a todo momento, mas precisou se manter firme e não demonstrar nada. Ainda se lembrava com precisão quando sentiu uma gota de suor escorrer por seu pescoço no momento que seu pai parou a frente de um homem imobilizado e começou a tortura-lo.

Mas na segunda oportunidade já fora mais diferente, não tirara os olhos de seu pai um momento se quer. Sabia que precisaria ser melhor em tudo quando ficasse em seu lugar.

— Venha cá.

— Por que preciso me vestir assim? — indagou ao se aproximar e parar em frente a seu pai que se sentava em sua cama.

— Já conversamos sobre isso, bambino mio. Mas irei refrescar sua mente juvenil, daqui a alguns anos, será um homem importante. — Seu pai fechou facilmente o botão — Terá responsabilidades para com sua família, Carmo.

— Eu sei. — Murmurou baixo e sentou-se ao lado de seu pai.

Ergueu os olhos para o espelho a sua frente e ficou observando seu pai que também o encarava. Era confuso toda aquela situação, afinal fora de casa, aquele mesmo homem que lhe encarava era rude, frio e sanguinário, mas ali ao seu lado era apenas o seu pai. O homem a quem admirava, respeitava e sempre estava disposto a ensinar algo tanto a ele quanto a seus irmãos mais novos.

— Eu só queria poder brincar para fora da vila, como os outros garotos fazem. — Voltou seu rosto para janela de seu quarto.

Se levantou e se encaminhou e observou a vista que já se acostumara. Seu quarto tinha uma vista privilegiada para toda a vila Santorinni. Dali que muitas das vezes via seus irmãos mais novos correndo e brincando com os outros meninos que moravam na parte baixa da vila. Quando completara sete anos, precisou parar de brincar com seus irmãos e começou a ser educado para seguir os passos de seu pai.

Não podia sair de casa sem proteção. Fora difícil, muitas vezes escapou do cerco dos seguranças para brincar com os outros meninos e em todas que fora pego, precisou ouvir sermões grandiosos de sua mãe. Mas com seu pai era diferente, ele entendia o que ele vivia naquele momento, afinal ele também passara pela mesma situação.

Virou o rosto e observou a mão de seu pai em seu ombro direito. Encarou o anel com o brasão da família que era composto por um dragão adormecido. Seu pai sempre alegara que o dragão fingia seu sono, mas estava bem alerta com a aproximação dos inimigos.

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