CAPÍTULO 34| Memória

25 7 1
                                    

Perséfone se recusou a sair do lado de Jonas, esperando pelo momento em que ele abriria os olhos. Foram quase três dias de ansiedade, mas suas esperanças estavam altas. Ela sabia que ele acordaria.

— Por favor, Jonas, não desiste agora. A gente não aguenta mais ficar sem você... — suas mãos seguravam a dele em uma carícia leve e a levaram até seu rosto. Estava sentada na beirada da lateral da cama, sabendo que a expulsaram dali se a vissem daquele jeito, porém ela não ligava. Precisava estar ao lado dele.

— Nada ainda, meu bem? — perguntou Marta, mãe de Jonas, adentrando o ambiente — Nosso menino sempre foi teimoso demais, mas não desista.

Nos quatro últimos anos, ambas tiveram que aprender a lidar uma com a outra. Marta não gostou nada da ideia de ter uma estranha tomando conta de seu neto, mas ao perceber o carinho que tinham um pelo outro não teve dúvidas de que foi a decisão certa. Além de que Perséfone era uma jovem muito esforçada aos seus olhos, cuidava também de seu filho nas horas vagas.

— Ele vai acordar, eu sei que vai... — desceu da cama, dando espaço para a mais velha — Fica com ele um pouco, vou beber uma água.

Teve certeza de que não demorou nem dez minutos para pegar sua água, mas quando retornou ao quarto estavam ali os pais de Jonas, seu filho e... ele. Acordado, sentado na cama e... rindo?

— Jonas... — murmurou. O único som que saiu de sua boca antes das lágrimas rolarem por sua bochecha.

Ele a encarou, confuso: — Você tá bem? Procura por alguém? Ahn, pai, acho que ela tá perdida...

Todos ali o olharam com confusão. Do que ele estava falando?

— Filho, é a Perséfone — começou Marta — Não se lembra dela? Vocês dois...

— Mamãe, o papai não tá mais preso! — comentou Adrian, recebendo em seguida um olhar confuso do homem — Vem ver o papai!

A mulher se aproximou devagar, olhando para todos ali em busca de respostas.

— Eu... sou a Perséfone, nós dois...

— "Mamãe"? Que história é essa? Adrian, sua mãe não é ela.

O baque atingiu os quatro como um soco no estômago. Seria possível ele não lembrar-se da moça?

Percebendo que estavam com um problema ali, Nicolas interveio rapidamente: — Jonas, acho que precisamos conversar sozinhos — interrompeu Nick — Adrian, leva sua mãe e sua avó pra comer alguma coisa na cantina. O papai precisa descansar um pouquinho.

Após contar a ele tudo o que havia se passado nos últimos anos, Nick esperou pela reação do filho que não foi muito diferente do que imaginou.

— Porra, quatro anos! — indignado, Jonas levou as mãos à cabeça — Eu dormi por quatro anos! Isso... isso tá certo?

— Infelizmente sim. — suspirou o mais velho — Foram anos difíceis para todos nós, até sua irmã ficou preocupada.

— Tá falando da Despina di Fiori? Ela... se preocupou comigo?

— Não só ela, Jonas. Perséfone é irmã mais nova de Despina. Vocês dois tinham algo juntos. Ela cuidou do Adrian como se fosse dela, eles são extremamente apegados.

Jonas estava com dor de cabeça após tanta informação nova. Perdeu tanto tempo.

— Eu não me lembro dela, pai... E o Adrian tá tão grande, tão esperto e falante. — bufou, esfregando o rosto — Quero ficar um pouco sozinho pra colocar a cabeça no lugar.

Na cantina, as duas mulheres e o adolescente estavam sentados à mesa, em silêncio. Adrian com seu celular, Marta de frente para Perséfone a observando, e a mais nova fitando o vidro da mesa com as mãos entrelaçadas em frente aos lábios.

— Ele vai se lembrar, meu bem. Precisa só de tempo.

— E se não for algo passageiro? E se ele esquecer de mim pra sempre? — Não queria nem imaginar essa possibilidade, mas olhando nos olhos de Marta ela buscava uma solução que não sabia se viria.

— Faremos de tudo pra ele lembrar.

Per permaneceu quieta por mais alguns segundos, negando com a cabeça: — Não importa. Ele está vivo e acordado, é o que basta. Não me importo que ele me esqueça, desde que fique bem e... desde que Adrian esteja bem, também.

— Ah, Perséfone...

— Vocês tem seu filho de volta e o Adrian tem o pai. Posso viver com um coração partido.

[...]

Após mais alguns dias sendo observado, Jonas finalmente foi liberado para voltar a sua casa e a sua rotina. Claro, ainda não poderia voltar a trabalhar, mas todos esperavam que retornasse logo já com a memória restabelecida.

Com Nick trabalhando e Marta ocupada com a casa de campo, acabou sobrando para Perséfone levá-lo de volta ao apartamento.
Imaginou que ele não fosse querer uma estranha por perto, então tirou todas as suas coisas de lá e levou para a mansão de seu cunhado, onde moraria daquele dia em diante.

— Tem comida na geladeira, o apartamento está limpo e tem roupas limpas no seu closet — informou ela, entregando a chave para ele em seguida.

— Isso é ótimo — comentou Jonas — Obrigado por cuidar de tudo nesses... anos. Está melhor do que eu me lembrava.

— É, passamos muito tempo esperando você voltar, então... — suspirou.

O clima ficou tenso por alguns instantes, até Jonas resolver se pronunciar: — Olha, eu juro que queria me lembrar, mas...

— Não se preocupe com isso. Você está acordado, só isso importa. Adrian sentiu saudade, ele não parava de chamar por você.

O garoto estava sentado no sofá, observando os dois adultos com atenção.

— É, eu perdi muita coisa.

Ele não sabia mais o que dizer, queria apenas ficar sozinho com seu filho e não sabia como pedir para ela sair.

— Obrigado por tudo, eu...

— Eu vou indo. Meu telefone está anotado no celular do Adrian, caso precise.

RomanoOnde histórias criam vida. Descubra agora