CAPÍTULO 7| Águas passadas

75 13 2
                                    

A ideia do intercâmbio era simples: conhecer a Europa, ganhar dinheiro e ter liberdade. A realidade é: estar evitando sua irmã e seu ex-melhor amigo a todo custo por dias.
Era impressionante como sua vida nunca ficava sossegada, nunca dava uma trégua.

Após o almoço Perséfone foi se arrumar para assumir a recepção, mas três batidas na porta a impediram. Esperava que fosse Lúcia e não um certo alguém.

— Ei! — chamou a gestante — Tem alguém querendo falar com você na recepção.

— Graças a Deus é você — suspirou — É a minha irmã mais velha super pé no saco? Se for já avisa que vou me trancar aqui.

A mais velha riu: — Ela não pode ser tão terrível. Me pareceu inofensiva no dia em que se escondeu atrás do vaso de planta no saguão — sim, ela tinha visto Despina, apenas omitiu — Além do mais, me lembro dela sendo gentil quando éramos crianças.

Per não se lembrava muito bem de como Dina era antes de ter que ser a super irmã contra o mundo cruel, mas gostaria muito de poder vê-la mais relaxada e  tranquila em relação a tudo.

— Você sabe que ela tem uma quedinha por ti desde a infância, não sabe? Deveria, sei lá, falar com ela, contar que o pai do seu bebê deu no pé igual o pai dela fez com a nossa mãe.

— E me casar com ela? — riu, logo percebendo que a mais nova falava sério — Eu não posso transferir meus problemas pra sua irmã só pra ela largar do seu pé, ragazza! Não nos vemos há mais de dez anos, não é assim que funciona!

— Então você admite que gostaria de sair com ela?

A pergunta deixou a de cabelos castanhos com as bochechas coradas e foi exatamente a resposta que Per precisava antes de descer.

⋆⋆⋆⋆

Cansada de esperar pela caçula, Despina seguiu pelos corredores aleatoriamente sem problema algum com seguranças. Viveu tanto tempo longe dali que esqueceu-se de como todos ali eram amigáveis e corretos.

Em um dos corredores encontrou uma porta entreaberta e resolveu bisbilhotar já que sua irmã sequer se deu ao trabalho de dizer qual era seu quarto. Para sua surpresa não era um quarto, e sim um escritório onde um homem estava focado nos papéis sobre sua mesa. Enquanto se esgueirava para conseguir ver melhor, acabou esbarrando na porta e a abriu mais, fazendo o barulho das dobradiças soarem pelo ambiente, tirando o homem de seu foco.

— Lúcia, eu já falei pra bater antes de-

Eduardo se obrigou a interromper sua fala ao avistar a figura – que certamente não era Lúcia parada na porta.
Ao vê-la tudo o que havia feito, retornou em uma enxurrada de lembranças que trabalhou anos para esquecer.

O mesmo aconteceu com Despina, que bastou um mísero olhar para saber quem ele era e o que havia feito no passado: — Você. O que... o que faz aqui?

Eduardo levantou-se, ajeitando papéis dentro de uma pasta a fim de que ela não os visse.

— Perdão. Nos conhecemos?

Claro que não estava ficando louca. Tinha certeza que ele era sim o garoto enrugado que havia tentado beijar sua irmã anos antes. Estava mais bonito e sem as marcas no rosto, mas ainda era o mesmo idiota desengonçado de sempre.

— Elias. É, eu nunca esqueço um rosto. — foi então que sua ficha caiu — Você é o dono desse hotel?

— Por favor, somente pessoas autorizadas podem entrar.

Mesmo tentando muito, ele não conseguiria esconder por muito tempo. Perséfone já sabia quem era, seria questão de tempo até que a platinada soubesse, então preferiu acabar logo com a farsa: — Merda... o que você quer aqui?

— Eu perguntei primeiro. — retrucou ela, cruzando os braços para deixar claro que não sairia dali sem respostas.

— Ainda a mesma enxerida de sempre — bufou — Sim, eu sou o dono. Satisfeita? Agora cai  fora da minha sala!

"Dina? Como veio parar aqui?", a voz familiar de Perséfone soou, fazendo ambos mudarem totalmente sua postura.

— Hey! Tava falando com seu chefe, dizendo o quanto o hotel é incrível.

— Uhum — murmurou a mais nova, ainda evitando olhar ou até mesmo estar no mesmo ambiente que ele — Queria falar comigo?

— Sim. Me dá dois minutos e eu te encontro na recepção.

Ed tentou evitar de ficar sozinho com a platinada, mas sem sucesso já que sua única salvadora já estava longe. Com isso, apenas a aproximação da mulher o fez suar frio.

— Já contou a ela?

Confuso, ele a encarou: — Contar? Sobre o que, exatamente?

— Não se faz de sonso, sabe muito bem.

— Ah, que você é seus capangas me espancaram? Não se preocupe, ela não quer nem olhar pra mim.

— Bom — disse em um suspiro. — Será que dá pra gente esquecer aquele episódio? Águas passadas?

Na visão de Eduardo, ou ela era cínica, ou sonsa. Pedir para ele simplesmente esquecer o dia em que foi agredido injustamente e teve de mudar toda sua vida? O dia em que se obrigou a partir?

— Claro. Águas passadas.

RomanoOnde histórias criam vida. Descubra agora