CAPÍTULO 35| Meu filho!

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Jonas não entendia como poderiam ter tido algo importante e ele não se lembrar.  Seu cérebro estava em ótimo estado, tudo funciona perfeitamente, mas havia aquela parte adormecida que só acordava quando ele ia dormir.

Em seus sonhos ele via um belo vestido vermelho, sentia um toque doce em seus lábios e um perfume doce parava no ar.
Enquanto estava em coma lembrou-se de uma voz suave que o pedia para acordar, às vezes até chorava de tristeza e implorava ainda mais. Lembrou-se até de ouvir um "te amo tanto" alguma vez, mas.... Não havia rosto algum.

Ao acordar, resquícios do sonho ainda vagavam por sua mente, mas desapareciam durante o dia.
Era frustrante.

Nos jantares e almoços em família todos sempre perguntavam por ela, por Perséfone. Durante todo aquele mês não havia uma memória sequer que fosse dela. Adrian tentava a todo custo, chamava pela suposta mãe e, mesmo entendendo, ele não gostava.

Na verdade, estava quase farto de tudo que envolvia ela.

— Eu sei que vocês são muito gratos a ela por tudo, só que não vai adiantar ficar batendo na mesma tecla toda vez que forem falar sobre isso. Tá ficando chato.

O silêncio pairou na sala de jantar do palacete. Nick e Marta encaravam o filho com pesar.

— Se ao menos desse a ela a chance de conversar, amore mio, tenho certeza que-

— Mamãe, basta! — interrompeu ele, batendo o punho contra a mesa de madeira — Eu não sei se quero um relacionamento agora. Ainda estou aprendendo a lidar com o fato de que eu apaguei por tanto tempo, de que meu filho tem treze anos, de que eu vou ter que esperar sei lá mais quanto tempo pra voltar a trabalhar!

— Olha como fala com a sua mãe! — ameaçou Nick — Não ouse levantar o tom.

Arrependido o homem soltou um suspiro pesaroso, levantou-se e seguiu até a matriarca. Depositou um beijo no alto de sua cabeça e a abraçou gentilmente: — Mi dispiace, mama. Eu vou subir e ver o Adrian. O jantar está uma delícia.

Enquanto observava seu filho dormir na penumbra do quarto que costumava ser seu na infância, percebeu a tela do aparelho celular iluminar a mesinha de cabeceira, mostrando nas notificações uma mensagem da mulher que todos faziam questão de mencionar.
Não havia nada demais ali, apenas um "boa noite, filhão" seguido de um emoji de coração azul.

Compreendia todos ao seu redor dizer que ela havia sido como uma mãe para Adrian nos últimos anos, e até entendia seu próprio filho a chamando de "mãe", mas ela não era.

No dia seguinte ele foi até o hotel onde sabia que ela trabalhava e o reconheceu de nome. A fachada parecia diferente, mas lembrava bem de já ter estado ali.
Quando Adrian viu Despina não foi bem a tia que fez seus olhos brilharem e sim a barriga saliente que carregava Isabella. Adrian sorria e alisava a pele da região com afeto, o que deixou Jonas emocionado e até intrigado.

— Desculpe, eu não sabia que ele iria ter essa reação.

— Tudo bem! — a mais velha riu — Ele sempre faz isso quando me vê, adora fazer carinho na Bella — Dina afagou os cabelos cacheados do sobrinho — Na real eu só descobri que estava grávida outra vez porque ele não parava de fazer carinho na minha barriga.

— Outra vez? — indagou — Você já é mãe?

A surpresa dele a fez rir outra vez. Havia esquecido dos quatro últimos anos apagados da memória dele: — Os gêmeos. Inclusive neste sábado vamos celebrar os dois anos dos pestinhas. Vocês dois estão mais que convidados, vai ser na mansão.

— Certo... Ahn, Perséfone está aí?

Por um segundo o rosto da platinada brilhou em alegria ao pensar que ele pudesse finalmente ter se lembrado de sua irmã: — Ela está no jardim com o Ed, e estão terminando uma reunião. Vai lá, eu cuido do Adrian.

Agradecendo com um aceno de cabeça ele seguiu rumo ao jardim. Mesmo sem lembrar do caminho ele apenas caminhou, deixando seu subconsciente guiar como um GPS.

Seus olhos correram entre as flores e arbustos até encontrar ela, com os cabelos negros escorridos caindo sobre os ombros, alguns fios cobrindo seus olhos e os lábios pintados com um vermelho cereja que a deixava incrivelmente irresistível... Não! Não estava ali para admira-la.

Perséfone estava terminando de organizar suas coisas enquanto prestava atenção em mais algumas instruções de Ed e Lúcia para a agência, quando notou uma aproximação diferente e, ao virar-se, deu de cara com Jonas. Seu coração quase saltou do peito, sentiu-se como uma adolescente ao perceber o friozinho crescer na barriga, então sorriu discretamente.

— Oi.

— Oi. A gente pode... conversar em particular?

Novamente sentiu um frio na barriga, mas não soube se era bom ou ruim.

Lucia e Ed os deixaram a sós e logo o jovem casal estava sentado em uma mesa branca de ferro que ficava perfeitamente colocada sob a sombra de uma árvore robusta.

— Sobre o que quer conversar?

Nem ele sabia ao certo.

— Bem, pra começar eu... ainda não me lembrei de você.

Doeu escutar tais palavras? Sim, mas felizmente estava aprendendo a lidar.

— Certo. E o que mais?

Jonas respirou fundo algumas vezes até ter coragem de dizer: — Sei que você e o Adrian criaram um laço forte nos últimos anos, mas... não gosto que o chame de filho ou que ele acredite que você é realmente mãe dele.

Um riso incrédulo escapou dos lábios da mulher ao se dar conta do absurdo que havia acabado de escutar.

— Não está falando sério...

— Eu estou, Perséfone. Você não entende como isso pode ser prejudicial para ele no fut-

— Não. Não fala como se eu não o conhecesse, como se eu não tivesse o criado nesses últimos anos — ela soltou o ar dos pulmões, sentindo como se seu peito fosse rasgar — Você não pode vir aqui me pedir uma coisa dessas...

— Como pai dele eu posso sim. Por favor, não torna isso uma tempestade, é pro bem dele!

— Não é! — esbravejou, tendo a atenção de alguns hóspedes e funcionários em si. Perséfone se levantou, caminhando de um lado para o outro enquanto Jonas seguia quase debruçado sobre a mesa — É pro seu bem, Jonas! Você quer ter certeza de que ele não vai rejeitar qualquer outra mulher que você coloque na sua vida...

—Não! Não é isso, e-

— E acredite, eu não tenho problema nenhum com isso — mentiu — Já aceitei o fato de que você nunca vai lembrar da gente, mas não diga que eu não sou mãe dele. Não me peça pra fingir que eu não o cuidei, não o alimentei, não abdiquei da minha vida pra fazer ele se sentir seguro enquanto você estava em uma cama de hospital! Fui eu quem afastou os pesadelos de madrugada, eu quem secou cada lágrima de tristeza que rolou dos olhos dele nos primeiros meses sem você!

— Eu não escolhi nada disso! — foi sua vez de esbravejar e ficar em pé — Não escolhi sofrer um acidente, não escolhi ficar quatro anos em coma e não escolhi perder a droga da memória que eu nem sei se vou recuperar!

Ambos suspiraram, tentando conter os ânimos e se encarando como se a qualquer momento fossem avançar um no outro.

— Eu sinto muito que se sinta tão impotente, Jonas. Mas eu escolhi cuidar dele, olhar por ele e ser mãe dele. Não pode tirar isso de mim e muito menos do Adrian.

A respiração dele estava pesada, um zumbido chato em seu ouvido o incomodava, mas ainda assim ele deu um passo à frente.

— Não quero tirar... — o zumbido estava mais alto, o impedindo de sequer pensar — Não quero...

Sequer pode concluir a frase. Sua visão ficou escura e seus sentidos falharam. Seus joelhos foram de encontro ao chão e seu rosto quase teve o mesmo destino, não fosse pelo corpo de Perséfone servindo de apoio. Logo ele desmaiou.

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