CAPÍTULO 14|Acordo selado

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Eduardo quase riu com a afirmativa da mulher, mas se manteve sério para não transparecer o quanto aquilo havia caído como uma luva.

— Espero que saiba o que está querendo, Romano. — começou ele — Vai ser um casamento de fachada, mas ainda será de verdade. Teremos que morar na mesma casa, conviver todos os dias, fingir que nos amamos...

Realmente parecia impossível, difícil tomar essa decisão, mas havia somente uma coisa que a faria suportar tudo: — Vou ser sua esposa modelo, mas vai ter que me ajudar a encontrar meu pai. Aliás, acho que isso não vai precisar durar tanto tempo assim. Acha que sua nonna precisa de quanto tempo para acreditar? Seis meses?

— Hm... — murmurou, levantando-se e caminhando pensativo pela sala. Seis meses ainda era muito pouco para ela pagar por todos os traumas causados — Nonna é muito astuta, qualquer deslize mínimo pode nos entregar, então... — parou, escorado em sua mesa, de frente para a platinada — Um ano será suficiente.

Por Deus! Não acreditava ser capaz de ficar um ano casada com ele, o aturando, fingindo, convivendo sob o mesmo teto, porém deveria ponderar. Passou anos se colocando em segundo lugar por Perséfone, largou tudo para estar com ela e agora que finalmente estava com tempo para focar em si, teria que outra vez se deixar de lado? A foto em suas mãos mostrava o quanto seus pais realmente se gostavam e embora sua mãe já tivesse se casado outra vez, tinha certeza de que ao menos seu pai tinha interesse em conhecê-la.

— Um ano, então. — respondeu, por fim — Um ano casados, você me ajuda a encontrar meu pai, paga minha pós graduação e tem uma esposa dedicada e fiel até conseguir seu hotel e sua casa definitivamente.

Despina estendeu sua mão a fim de selar o acordo e Eduardo, mesmo relutante, apertou. Estava decidido, iriam se casar.

— E minha irmã não pode saber.

— E por qual motivo?

— Não é óbvio? Vou me casar com o cara de quem ela gosta, se souber vai me odiar.

— Se gostasse tanto assim não teria partido.

Ele tinha um ponto.

— Mesmo assim, ela não pode sequer desconfiar, ok? Promete.

Exaurido e entediado, ele apenas revirou os olhos e concordou.

⋆⋆⋆⋆

Jamais se imaginou usando um vestido daqueles. Jamais se imaginou usando um vestido, para ser mais exata, mas sentiu-se estranhamente confortável ao usá-lo; era exageradamente curto, porém brilhante e delicado ao mesmo tempo, com bordados florais brancos. Eduardo jurou que sua avó adoraria, mas ela tinha suas dúvidas. Felizmente era apenas um almoço de noivado e pela primeira vez iria conhecer a enorme mansão onde viveria pelos próximos 365 dias.

Uma das empregadas de seu noivo estava finalizando um penteado impecável em seus cabelos curtos, que estavam presos em um pequeno coque na base da nuca e enfeitados com uma fina trança lateral. Pela primeira vez após muitos anos se sentiu realmente bonita e arrumada, com joias enfeitando seu colo e suas orelhas, uma maquiagem perfeita e roupas elegantes. Talvez não fosse tão difícil assim ser uma esposa troféu.

Descendo as escadas com aqueles saltos ridiculamente altos, ela notou seu acompanhante a esperando, também muito bem vestido com uma camisa branca lisa e um blazer preto simples até demais para a ocasião.

Era o início da primavera, então havia flores por todos os lados das mais variadas espécies, deixando o ambiente decorado e com um aroma delicioso.

— Olha só se não é o amor da minha vida... — debochou ele, estendendo sua mão para apoiá-la — Uh, eu sou mesmo um homem de muita sorte.

Dina franziu o cenho, se perguntando porque ele estava sendo tão ridículo sendo que não havia ninguém ali para impressionar: — Não exagera, Fiorino, senão podem achar que você é um emocionado — alertou, parando a sua frente apenas para ser girada por ele. Ela não gostou nada — Tem certeza que não é muito exagerado? É lindo, mas-

— Exagerado? Minha noiva e futura esposa troféu ama coisas exageradas — sorriu — Agora pareça feliz e vamos até o jardim.

Ao ar livre a decoração estava ainda mais exagerada; mesas extremamente enfeitadas com arranjos grandes demais, garçons com roupas floridas e o pior de tudo, convidados com roupas em preto e branco, destoando totalmente do restante da festa. Apenas ela estava vestida como alguém prestes a desfilar em uma passarela.

— Di Fiori? — chamou, tendo um 'sim, querida?', como resposta — O que significa isso?

— Não gostou da decoração que você mesma planejou, meu bem?

Ela riu, incrédula, ainda assimilando toda aquela bagunça: — Você me paga.

Horas e horas batendo papo com colegas e sócios de seu noivo a deixaram exausta, mas aquele tormento ainda estava longe de ter um fim. Pode ver sua tia aproximar-se com uma cara não muito boa e já estava até esperando a bronca.

— Então agora está noiva do homem que sua irmã ama — Abilia parecia menos furiosa do que Dina pensou que estaria — E tudo isso para que ele não tenha que se casar com uma estranha e possa continuar tocando o hotel! Ah, cara mia... — a mais velha deu um abraço apertado em sua sobrinha, que não soube fazer outra coisa senão rir e concordar.

— Pois é — sorriu, sem graça — a vida é mesmo uma loucura.

— Sí! — riu Abilia — Mas não se sinta culpada caso se apaixone pelo rapaz, bela. O amor surge nos lugares mais improváveis.

Despina, que bebia um gole de champanhe em sua taça, quase engasgou-se com o líquido ao ouvir tal absurdo, sendo obrigada a seguir para um lugar mais afastado do jardim para tossir em paz.

Eduardo passou o tempo todo empurrando pessoas para importuná-la com assuntos aleatórios, mas quase se impressionou ao ver a desenvoltura de sua noiva, que para seu azar estava conseguindo lidar com todos muito bem. Ao vê-la se afastar dos convidados, tratou de segui-la para, talvez, irritá-la um pouco.

— Já se cansou, noivinha? — seu tom era de puro deboche. Despina odiava. — Já quer desistir?

Ele só podia estar de brincadeira. Não passou horas estressantes falando com gente chata para desistir. Além do mais, não estava fazendo aquilo por ele ou por Perséfone, mas sim por ela.

— Eu quero deixar uma coisa bem clara aqui, di Fiori — aproximou-se do homem, ficando cara a cara com a ajuda dos saltos desconfortáveis — Se acha que uma festa cafona, pessoas entediantes e um salto machucando meu pé vão me fazer desistir você não poderia estar mais errado — confiante ela sustentou o olhar desdenhoso dele, que foi sumindo aos poucos — Não entrei nesse acordo para perder e eu sei que já te disse isso uma vez, mas vou repetir: Não tente arrumar briga com uma Romano ou vai sair perdendo e com o olho roxo.

Eduardo não gostava de ser contrariado, mas tinha de admitir que esperava ser mais fácil tortura-la. Felizmente ainda tinha muito tempo para tornar a vida dela um inferno.

— Que seja. Vou terminar com essa festa e, por hoje, sua parte está feita.

Dito isso, o homem deu as costas a noiva, caminhando rumo ao palco, onde usou do microfone para encerrar as festividades.

Despina apenas entrou sem ser vista e seguiu para o que agora seria seu quarto, tirou o salto ridículo, as joias pesadas, desamarrou o cabelo, quase arrancou o vestido a força de seu corpo e jogou-se na cama macia. Estava exausta e, embora tivesse dito tudo aquilo a ele, não tinha certeza se aguentaria muito mais daquilo. 

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