CAPÍTULO 6| Tarantela

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Com sua irmã a evitando todos os dias, Despina não teve outra saída senão ir até ela se desculpar, mas acabou tendo uma surpresa.

Era muito jovem quando deixou a Itália, não tinha mais que 7 anos de idade, mas jamais esqueceria de Lúcia, sua amiga e amor de infância, a mesma que estava atrás do balcão sorrindo e sendo gentil com um hóspede. Seu coração quase saiu pela boca quando a viu, tanto que teve de se esconder atrás de um vaso de planta do saguão.

Para seu azar Perséfone estava ali perto e viu toda a cena: — O que cê tá fazendo ai, sua esquisita?

A platinada deu um salto para trás, quase sendo vista pela mulher.

— Caralho, avisa antes. Porra — resmungou, voltando a se colocar abaixada para vigiar mais um pouco sua amor de infância e ignorando totalmente a pergunta de sua irmã.

— Sério, que merda cê-

— Shh!

Ok, novamente ela estava agindo estranho, então só lhe restou buscar por ali o motivo. Foi quando viu sua superior e entendeu tudo.

— Tá stalkeando a Lúcia?

Imediatamente Despina a encarou: — Sabe quem ela é? E não me contou por quê?

— Esqueci? Você encheu meu saco na outra noite, achei que não merecia saber dela.

— Cuzona.

A mais nova riu, levantando e estendendo a mão à irmã: — Vem logo falar com ela e parar de bancar a sociopata.

⋆⋆⋆⋆

Eduardo, em seu escritório, matutava como revelaria a Perséfone quem realmente era. Não achava ser uma boa ideia, já haviam se passado anos, mas Lúcia tentava o convencer.

— Oi, Perséfone, lembra de mim? Sou eu, Elias! — Péssimo — Argh, que idiota! Então, lembra do Elias, da sua escola? Meio que sou eu!

Seria impossível. Talvez devesse mesmo apenas deixar isso de lado, ele próprio havia mudado e até seu nome já não era mais o mesmo.

— Isso vai ser difícil...

— Vai. Coitada. — comentou a grávida, o observando — Deve gostar mesmo dela, nunca te vi sendo casual... ou tentando.

— Tenho um hotel para dirigir, hóspedes para agradar e salários para pagar, mas é a garota que destruiu minha vida que eu quero impressionar.

Seu coração faltava saltar do peito desde o dia em que a viu na frente do hotel. Teve de usar tudo o que tinha para disfarçar e quase acabou sendo odiado mais uma vez.

— Você precisa mudar de tática! Tenta chamar ela pra sair, dar uma volta... a garota está aqui há dias e não conhece nada. Você pode ser o chefe legal e levá-la num passeio.

— Nem ferrando. Só quero que ela saiba quem eu sou e diga de uma vez por todas a verdade na minha cara, nada além. — Falou sério. — Agora vai preparar todo mundo pra Tarantela.

⋆⋆⋆⋆

No saguão, onde alguns hóspedes já se reuniam perto da lareira, uma música típica da região começou a tocar nos alto-falantes. Perséfone, que estava ocupada com o sistema, logo ergueu o olhar para entender o que acontecia: — Mas o que...?

Eduardo estava agora chamando todos para a dança, inclusive funcionários, o que significou que Per não ficou de fora. Todos formaram um círculo no saguão e, juntos, iam de um lado para o outro, erguendo as pernas conforme as batidas da canção.

Ed e Per ficaram de lados opostos do círculo, mas acabaram por ficar cara a cara quando este se fechou. Foi nesse momento em que a jovem pode olhar bem nos olhos do homem, sentindo um arrepio percorrer sua espinha. O sorriso que iluminava seu rosto aos poucos foi dando lugar a uma feição de confusão e neste momento ele soube que ela o reconheceu.

Para o alívio da moça todos se acalmaram quando a música cessou e voltaram a sentar-se. Exceto ele, que a encarava como se esperasse alguma reação, alguma palavra. O que dizer quando se descobre que seu melhor amigo desaparecido na verdade é seu chefe em um país distante? Nada.
Precisava pensar, digerir, entender o que estava acontecendo ali, por isso se recusou a fazer qualquer coisa que não fosse sair dali e ir para qualquer lugar.

RomanoOnde histórias criam vida. Descubra agora