CAPÍTULO 21|Minhas decisões!

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Até aquele momento Despina não tinha trocado meia palavra sequer com ele, evitando até olhar em sua direção. Não a culpava por estar o evitando mesmo na frente dos familiares, ela ainda conseguia ser discreta o suficiente para não deixar transparecer que não estava bem. Para tentar amenizar a situação convidou todos para jantar em sua casa ao entardecer, até mesmo Jonas.

— Eduardo, fico no aguardo dos seus termos para alinharmos nossa parceria — dizia Jonas, apertando a mão do possível futuro sócio e cunhado. Logo voltou-se para Dina e sorriu — Até breve, irmãzinha.

Maldito.

Sua mãe ainda não sabia que havia encontrado seu pai, nem que ele tinha um filho de seu casamento. Isabel estava agora a encarando com certo espanto no olhar. Todos estavam, na verdade. Despina apenas fechou os olhos, sentindo a carranca deles a fuzilando pelas costas.

— Eu juro que você me paga.. — murmurou ela, apertando a mão dele com toda a força que tinha e não era pouca.

Mesmo com dor, ele deu a ela um sorriso sarcástico e caminhou até seu Porsche branco, mantendo o ar de superioridade. Ela não podia acreditar que carregava o mesmo sangue que aquele babaca nas veias.

— Dina, que história é essa de "irmãzinha"? — perguntou Isabel, aproximando-se da costa da platinada — Quem é esse rapaz que acabou de sair daqui?

— Isabel, nós podemos conversar em partic-

— Ele é meu irmão, assim como a Perséfone. — irrompeu ela, virando-se para sua mãe — Encontrei ele ontem pela primeira vez, bem como conheci meu pai e a esposa dele.

Seu tom era firme e decidido. Estava cansada de pisar em ovos com todos.

O olhar de sua mãe se entristeceu enquanto se mantinha cravado nela: — Não posso acreditar que fez isso sem me avisar...

— Fui eu quem busquei por ele, Isabel, Despina não fez nada — Eduardo tratou de limpar a barra de sua esposa rapidamente, mas não adiantou de nada. Despina ergueu a canhota, o interrompendo.

— Não precisa disso, eu sei enfrentar meus próprios problemas, ok? — continuou a platinada. Ed afastou-se um pouco, evitando ficar no meio das mulheres ali — Eu pedi pra ele me ajudar a encontrar meu pai, está bem!? Eu precisava saber o motivo de ele ter partido, de ter nos abandonado...

— Eu já te disse o motivo: ele quis! Seu pai não nos amava o suficiente para ficar.

— Pare de mentir, Bel — começou Abília, entrando na conversa — Sabe muito bem que ele foi obrigado a isso. Você sim partiu porque quis, preferiu fugir a enfrentar a vida sem ele aqui, mesmo eu insistindo para que ficasse. Te ofereci abrigo, um trabalho, motivos para não desistir.

— Agora não Abília!

— Quer dizer que tudo bem se ela tivesse ficado, afinal não teria conhecido meu pai — intrometeu-se Perséfone — Só Despina merece o amor de um pai, é claro.

Foi a vez da platinada encarar as três, incrédula com o que ouvia: — Está se ouvindo? Você realmente recebeu o amor de um pai, do seu pai, o homem que nossa mãe escolheu! — sua atenção estava agora na matriarca — Então você pode tomar a decisão de partir, mas eu não posso tomar a decisão de buscar o homem que me deu a vida?

— Eu te dei a vida, Despina! Eu! Sozinha, sem a ajuda dele! Qual a razão de buscar por isso agora, depois de tantos anos?

— Porque eu quis, mamãe! — disse por fim — E isso não tem a ver com você ou suas escolhas, tem a ver comigo! Minha vida! Meu pai! Minhas decisões!

Isabel parou, a observando com os olhos marejados. Aquilo cortou seu coração, mas já estava feito. Já havia soltado a merda toda no ventilador.

— Mãe, acho melhor irmos... — pediu a caçula, tocando o ombro da mais velha que não disse mais uma palavra, apenas passou por sua filha mais velha sem sequer olhá-la direito.

Abília foi quem se aproximou da sobrinha, esboçando um sorriso fraco, mas que soou como um 'vai ficar tudo bem', e seguiu junto das outras duas.

Eduardo, que ainda estava ali observando toda a cena, indicou para o homem parado à porta da residência que as acompanhasse de volta à casa de Abília. Sua esposa ficou em silêncio por alguns instantes quase intermináveis até finalmente esboçar alguma reação: o choro.

Com uma mão na barriga e outra tapando sua boca, Despina inclinou-se para frente a fim de soltar, sem muito barulho, o choro mais doído de sua vida. Nunca havia discutido, sequer erguido a voz para sua mãe, muito menos a viu com aquele olhar de desapontamento antes. Por que tudo tinha que ser sempre tão difícil? Sabia que não estava fazendo nada de errado, mas por quê então se sentia tão mal por simplesmente fazer o que seu coração queria?

Eduardo aproximou-se dela e, antes dela impedi-lo, a puxou contra seu peito e a envolveu em seus braços. Ficou em silêncio enquanto sentia o corpo dela tremer contra o seu, ouvindo os soluços pesados abafados pelo tecido de sua camisa. As unhas dela cravadas em seus braços não o machucaram pois doía muito mais ter de ver ela naquele estado. Jamais pensou que sua esposa pudesse ser tão frágil quando se tratava de sua família. Ele entendia bem aquele sentimento.

Ficaram ali por longos minutos até que Despina finalmente estivesse mais calma, respirando com mais tranquilidade. Só então ele deixou que se afastasse, secando algumas lágrimas que ainda escorriam pelo rosto vermelho dela.

— Vamos subir, você precisa descansar... — pediu ele, recebendo um aceno de cabeça negativo.

— Preciso ficar sozinha.

— Dina, me deixa cuidar de você... — pediu baixinho, tocando os braços dela com delicadeza.

Despina queria poder dizer sim para aquela súplica, mas não se sentia no clima para romance, não depois do dia turbulento que tiveram.

— Por favor, Ed... só quero que esse dia acabe. Prometo estar melhor amanhã, mas hoje eu preciso ficar sozinha.

Queria poder obrigá-la a obedecer, porém não seria esse tipo de cara. Deixando um beijo quente na testa da platinada ele se afastou e a deixou sozinha como havia pedido.

Dina seguiu para seu quarto logo em seguida, tomou um banho quente, vestiu seu pijama mais surrado e se enfiou em baixo das cobertas macias e cheirosas. O banho levou boa parte do peso em seu peito, o que a fez ficar sonolenta. Logo cairia no sono, mas as cenas da briga no andar de baixo não a deixariam descansar tão cedo. Faltava alguma coisa ali, mesmo que a cama fosse perfeita, os travesseiros fossem macios como nuvens e as cobertas a fizessem se sentir dentro de um abraço. Ela sabia bem qual era a roupa de cama que faltava, mas não sabia se deveria ir até lá.

Três semanas dormindo com ela ao seu lado o deixaram mal acostumado. Ed rolava na cama de um lado a outro, buscando pelo calor do corpo dela, pelo cheiro de baunilha de seus cabelos e pela pele macia como seda que ela tinha. Que droga de noite!

Ela queria ficar sozinha e ele respeitaria esse pedido, mas e se fosse até lá para ver como ela estava? Talvez olhá-la, mesmo que brevemente, o ajudasse a dormir depois.

Certo de que seria só uma conferida, ele saiu de seu quarto, caminhando pelo corredor até o quarto dela. Por sorte a porta estava aberta, o permitindo entrar sem fazer barulho. Ed caminhou devagar até a cama e parou logo que a viu. Estava encolhida como se estivesse com frio. Mesmo a observando dormir todos esses dias, aquela foi a primeira vez que realmente a admirou. Cada traço, seus fios claros reluzindo a luz da lua, seus lábios carnudos perfeitamente entreabertos... tudo nela era um convite para ficar e nunca mais sair.

Não contendo o impulso ele se deitou na cama bem ao seu lado, com cuidado para não acordá-la. Só queria ficar ali mais um pouco zelando por seu sono.

— Se soubesse como você mexe com a minha cabeça... — sussurrou ele, recebendo apenas o silêncio.  

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