CAPÍTULO 25| Babaca

31 7 3
                                    

— ... e é isso, não precisamos e nem queremos o dinheiro do seu maridinho, não de graça. Meu pai e eu temos esse plano desde que eu era só um residente.

Realmente, aquela explicação fazia muito sentido, mas Dina ainda não seria tola em confiar totalmente nele ou em Nicolas. Dois dias não era tempo suficiente para isso.

— Sua mãe é uma sem noção, mas seu pai parece um cara legal. Você nem tanto, mas pelo menos é sincero.

— Vou tomar como um elogio — respondeu Jonas, esboçando agora um sorriso quase falso demais.

— Não se acostume, Moretti — disse, cerrando os olhos de águia sob o rapaz, que ficou ligeiramente desconfortável.

— Qual foi? — Afastou o torso brevemente — Parece que vai me comer vivo...

— Por que você e minha irmã estavam juntos quando foram até a mansão?

Jonas levou um tempo até entender a pergunta: — Ela pediu uma carona, eu dei e... — sua ficha caiu. Ela não queria saber o real motivo, estava apenas querendo saber se algo havia acontecido entre eles — A-há! Está achando que eu e sua irmã temos algo. Você é muito cara de pau.

— Só quero saber se preciso me preocupar com isso. Eu preciso me preocupar com essa carona?

— Garota, você é muito intrometida — provocou ele — Isso não é da sua conta, mas eu tenho uma namorada.

— Ótimo — ela recostou-se na poltrona, cruzando as pernas — Não preciso me preocupar.

Ele poderia encerrar o assunto ali, mas Jonas não era do tipo que perdia a chance de alfinetar alguém.

— Sabe, ela parecia bem chateada lá no hotel quando soube que precisaria ver vocês dois juntos. Você está casada com quem ama você, e você o ama também. Sua felicidade não foi impedida por ninguém, acho que não deveria impedir Perséfone de se relacionar com quem quer que seja. A vida dela cabe somente a ela, Despina.

Dina estava pronta para retrucar cada palavra dita por ele, mas a chegada de seu marido e a caçula fez com que se mantivesse calada.

Eduardo entregou um copo de café quentinho a sua esposa, que sorriu e agradeceu.
Perséfone fez o mesmo com Jonas, que também aceitou, mas não esboçou qualquer tipo de agradecimento.

— Tá tudo bem? — perguntou ela ao rapaz, sentando-se ao seu lado — Parece preocupado.

Ele não disse nada, mas mesmo o pior dos xingamentos teria a machucado menos do que o olhar que foi lançado sobre si. Jonas bebericou um gole do café calmamente e olhou na direção da de cabelos negros, analisou seu corpo de cima a baixo e fixou o olhar na região que a mais deuixava insegura: a barriga.

Há cerca de dois anos, depois de um colega tentar agarrá-la à força, Perséfone simplesmente perdeu toda a vontade que tinha de se cuidar, ou cuidar de sua aparência.
Nunca teve um corpo de modelo, mas engordou muito mais depois daquilo. Zig, seu ex, dizia não se importar com aquilo, mas ela se sentia feia a ponto de não querer mais ter relações.
Sua viagem para a Europa e algumas sessões de terapia a ajudaram a voltar a cuidar-se como antes, até melhor. Reencontrar Eduardo também fez com que se sentisse bonita de novo, mas o olhar que Jonas lançou em seu corpo trouxe toda a insegurança à tona.

Perséfone se encolheu no sofá, afastando-se do moreno, e tentou esconder a barriga com a jaqueta jeans.

Jonas, por outro lado, sentiu-se o ser humano mais desprezível do mundo por ter feito aquilo, mas foi a forma que encontrou para não conversar mais ou precisar socializar com a mais nova. Despina era muito insistente, não queria ter mais esse incômodo pra si.

Dina, do outro lado, percebeu a breve interação entre os dois e sentiu vontade de bater no rapaz, porém ao ver a figura do médico passar pela porta do corredor até a sala em que estavam, todo seu foco foi direcionado a ele... até perceber quem era.

— Nick? — levantou-se, assim como os demais — Você é o obstetra da Lúcia?

— Oi, pai. — cumprimentou Jonas, levando as mãos aos bolsos da calça caqui — Como está ela?

O homem abriu um sorriso ao ver todos juntos, principalmente Jonas e Despina: — Crianças, se acalmem. Ela está bem, a bebê está bem e o pai está um pouco desacordado, mas logo ficará bem também.

O suspiro de alivio do grupo encheu o ambiente. Despina sorriu e recostou a cabeça no ombro de Ed, que a envolveu pelos ombros.

— Quando vamos poder vê-las? — perguntou o homem.

— Volto daqui dez minutos para chamar vocês, mas agora relaxem e tomem um ar fresco.

Logo que Nick os deixou, a mais nova tratou de levantar-se, ainda cabisbaixa, aproveitando a deixa para voltar para seu quarto de hotel.

— Legal saber que está tudo bem, mas eu preciso ir.

Per já ia seguindo para a saída quando foi interrompida por uma Despina preocupada: — Ei. Está tudo bem?

A mais nova esboçou um sorriso breve e fraco, apenas para disfarçar: — Sim, eu só quero descansar. Já está anoitecendo, preciso jantar e acordar cedo amanhã. Consegui uma vaga pra dar aulas de inglês para crianças.

— Per, isso é incrível! — exclamou Dina, agarrando a caçula em um abraço — Vai com cuidado, eu te ligo depois de ver a bebê.

A jovem assentiu, contente e apenas se retirou, evitando olhar os demais ali.

Jonas aproveitou a deixa para também se despedir com a desculpa de que sua mãe precisava dele, o que era mentira.
Correu o suficiente para alcançar Perséfone na saída do hospital, parada na calçada.

— Ei, você! — chamou ele, sendo totalmente ignorado — Perséfone. Quer uma carona?

Ela poderia se enfiar em qualquer buraco ali se encontrasse um, mas seria tarde para se esconder de Jonas, que não parou até estar ao seu lado na calçada. Parecia ofegante.

— Não. Valeu — respondeu sem delongas — Já chamei um Táxi.

— Ah, qual é — Teimou ele — Prefere ir com um estranho do que comigo?

Era muita cara de pau. Ele estava mesmo insistindo na carona mesmo depois de ser um babaca?

— Qual o seu problema, Jonas? — perguntou com sinceridade, finalmente virando o rosto para olhar a face cínica do rapaz — Você começa sendo um arrogante, depois até que fica menos chato, me olha daquele jeito escroto pra caralho e agora me oferece uma carona pra eu não andar com um estranho? — um riso anasalada escapou — Você é o estranho.

Ele sabia que merecia, e como merecia.

— Tem razão — assentiu ele — Eu sou estranho.

Ela riu: — E de tudo o que eu disse, foi só essa parte que escutou?

— E eu sei que fui meio babaca lá dentro, mas foi só... — ponderou sobre contar como Despina foi intrometida, mas preferiu omitir essa parte — Eu estava nervoso.

Obviamente Perséfone não acreditou em uma vírgula sequer, mas não seria ela a chata desconfiada da vez. Na verdade não se importava com os motivos dele, só queria ir para seu quarto e descansar o resto da noite.

— Que seja, você pode ser o babaca que for, só não fique agindo como se ser legal do nada fosse apagar as coisas idiotas que fez.

Um carro se aproximou, Perséfone conferiu a placa para ter certeza de que era o veículo pedido por ela e entrou tranquilamente, mas não sem antes ser minimamente educada com o rapaz na calçada.

— Boa noite, Jonas.

•••••••••••••••••••••

Oii! Pessoal, desculpem pela demora em atualizar, o bloqueio foi real 🥹, ainda essa semana trago mais atualizações e já aproveito para avisar que um novo arco amoroso se inicia. Não achei que seria legal deixar a nossa Per sem saber como é ser amada de verdade, afinal ela merece todo o amor do mundo.
Enfim, espero que estejam ansiosos pros novos personagens.
Um beijo e até a próxima página!

RomanoOnde histórias criam vida. Descubra agora