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Por muito tempo, era bem difícil compreender os meus sentimentos. Não que eu ache errado, pelo contrário, sei que é normal gostar de um garoto, porém nunca aconteceu antes. Sempre gostei de meninas e, de um dia para o outro, um menino começa a bagunçar com minha mente e coração, não foi fácil entender isso.

Também não foi uma grande surpresa, até porque Jimin era uma pessoa encantadora. Talvez seja apenas confusão, afinal, ele foi o único que tentou de fato se enturmar comigo desde que entrei nessa escola. Ou isso é uma mera desculpa para não acreditar que comecei a gostar de um garoto.

O que era mais difícil, na verdade, era esconder o meu sorriso ao vê-lo dançando. Ele insiste em dizer que não sabe dançar e que só começou a aprender, mas não levo como verdade. Já fazem semanas desde que começara a acompanhá-lo numa das salas disponíveis, não tinha tanta gente que ia lá e como uma ideia, pelo próprio Jimin, ele pediu permissão para usá-la. Não era difícil para ele conseguir o que queria, além de ser o melhor aluno em todos os departamentos, também era o presidente do conselho estudantil e, obviamente, o representante de toda turma que fez parte. Basicamente, ele era o estudante modelo que toda escola gostaria de ter.

— Droga! — murmurou. — É um passo fácil! Não é possível que eu seja tão idiota assim para errar isso!

— Ei... não tem problema, você só errou, não tem nada de mais nisso — Tentei acalmá-lo, já que era recorrente ele ser extremamente autocrítico.

— Que saco! — Bateu o pé no chão, refazendo o passo que errou lentamente, repassando os movimentos.

Suspirei fundo, me abraçando e mantendo o olhar nele, demorando poucos segundos até voltar a apreciar cada mísero passo que fazia. Me sentia hipnotizado, era como se simplesmente não pudesse tirar os olhos dele e agradecia por isso, porque ficava realmente fascinado com a maneira em que se expressava pela dança. Eu tinha certeza de que ele nasceu para dançar, e eu recebia as provas toda vez que o via, em completo silêncio.

As férias de inverno começam amanhã e uma coisa que sinto é medo. Não de me declarar, esse não era o problema principal, e sim o medo de Jimin achar estranho o fato de eu, um garoto, gostar dele, que também é um garoto. Queria dizer-lhe o que sinto, assim, caso ele ache estranho, já se afastava logo de começo. A última coisa que gostaria de fazer é alimentar uma amizade que futuramente acabaria pelo mesmo motivo. Se fosse para doer, que doesse de uma vez. Eu lidaria com isso depois.

Passei a maioria das aulas depois do almoço procurando um jeito de contá-lo, mas não tão óbvio. Talvez fosse estranho demais perguntar o que ele acha de garotos que gostam de outros garotos, me afastar sabendo que ele é o único amigo que tenho até agora seria a pior coisa que aconteceria. Eu precisava pensar de outro jeito.

— Tae! — Me virei enquanto caminhava até o portão de saída, parando ao notar que Jimin corria até mim. — Desculpa... Você pode ficar mais tarde? Tenho uma reunião do conselho estudantil agora e minha mãe não pode me buscar... Ah! Se importa ficar com a minha mochila enquanto isso?

— É... Tudo bem, eu te espero.

— Muito obrigado! — Tirou sua mochila das costas e me entregou, fazendo uma reverência e dando meia-volta, correndo para dentro da escola.

Engoli em seco, não sabendo ao certo o que faria, estava perto do horário que minha mãe vinha me buscar e tomar conta das coisas de Jimin seria algo que gostaria e queria fazer, mas talvez não fosse possível. Segurei a alça da mochila, indo para um canto, encarando o nada por algum tempo. Em um clique, tive uma ideia e aquela era a oportunidade certa e, muito provavelmente, a última que tinha para fazê-la. Meu coração acelerava estranhamente e tinha uma sensação esquisita percorrendo por todo o meu corpo, parecia ter uma náusea pela ansiedade. Encarei os lados e abri a minha mochila, procurando o meu diário. Estava tudo bagunçado, então demorei um tempo, não era um costume meu trazê-lo para a escola, mas ultimamente meu irmão, Jeonggyu, tem se tornado bem intrometido no meu quarto. Toda vez tinha que esconder meu diário, ou provavelmente ele leria e me encheria o saco até o meu último dia na Terra.

Pude sentir minhas mãos tremerem, não é como se alguém fosse estranhar eu guardar algo na mochila, mas talvez notassem ser da minha para a de outra pessoa. Meu nervosismo era tão grande que fiquei parado observando minhas mãos por longos segundos, até criar coragem e puxar o zíper da mochila de Jimin. Soprei um sorriso ao notar tudo organizado e, rapidamente, coloquei meu diário ali dentro, arrumando para que não aparentasse ter algo a mais. Não sabia se isso daria certo, Jimin sempre foi muito educado e acho difícil que ele leria o diário de outra pessoa, mas torcia muito que o lado curioso dele fale mais alto.

Parecia estar passando mal, seria quase impossível esconder isso dele. Fechei nossas mochilas rapidamente, olhando para frente e vendo minha mãe olhar para dentro da escola, provavelmente me procurando. Levantei-me e dei passos apressados na direção dela, tomando cuidado com o peso extra que levava.

— Taehyung! O que aconteceu? Já estou te esperando há 15 minutos! — falou.

— Desculpa, mãe... Meu amigo teve que ir numa reunião do conselho estudantil e pediu para eu olhar as coisas dele e...

— Licença! — Jimin chegou, apoiando as mãos nos joelhos, com a respiração ofegante. — Obrigado, Tae! A reunião foi adiada por conta das férias...

— Você deve ser o Jimin! — Minha mãe começou. — Meu filho fala muito de você.

— Mãe! — sussurrei para ela.

— Perdão, senhora! Espero que não tenha atrasado muito, sei que ele sai mais cedo que isso.

— Sem problemas! Gostaria que nós o acompanhasse até em casa?

Mexi a mão no cabelo, um pouco nervoso, não sabendo ao certo como reagir àquela situação. Sorri de canto, observando Jimin encolher em seus ombros e levar a mão até sua boca, tampando-a para rir, com seus olhinhos fechados. Balançou a mão livre para negar, da forma que fazia sempre.

— Não, não precisa, não quero incomodar! Moro aqui perto, consigo ir sozinho — comentou. — Enfim, preciso ajudar meu pai em uma coisa, então tenho que ir agora, perdão de novo! Ah! Um minuto... — Jimin levou a mão até a mochila, o que me fez engolir em seco, mas foi no bolso pequeno, não no principal, o qual estava o diário. — Isso aqui é para você! Acabei descobrindo quando é seu aniversário, então como não vamos nos ver até o ano que vem, gostaria de te entregar agora!

Encarei a pequena caixa em suas mãos, um pouco surpreso, aumentando o sorriso que já estava em meu rosto, pegando e curvando meu corpo.

— Muito obrigado... Gostaria de comprar algo pra você também, mas você não me disse quando é o seu aniversário...

— Treze de outubro! Eu preciso ir agora, até! — Virou-se e apressou o passo, praticamente correndo.

— Até... — finalizei.

Minha mãe acenou para ele, segurando minha mão e me puxando para o caminho oposto. Não foi muito tempo até que chegássemos em casa, minha mente sempre ficou focando somente na minha ansiedade de saber como Jimin agirá tendo meu diário em mãos. Talvez ele leia, talvez deixe de lado e não encoste até o dia que iria me entregar.. A única coisa que tenho certeza é de que ele vai me entregar na semana depois das férias, já que não somos íntimos o suficiente para ter o número da casa um do outro e muito menos o endereço.

Antes do jantar, separei um tempo para respirar fundo, tentando tirar a ideia de meu diário estar com Jimin de minha mente. Sabia que demoraria para esquecer isso e pode ser que nem esqueça, mas queria me distanciar do que sinto por ele por agora. Bem, sabia que isso não iria acontecer. Queria enganar meu cérebro para que achasse que eu não ligava, mas obviamente ele me conhece mais do que eu próprio. Os segundos se transformaram em minutos. Talvez fosse impossível tirar Jimin da minha cabeça.

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O Diário de Taehyung (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora