A Lenda de Orhan [Romance BL]

Capítulo 22

Tian

Não era bem uma surpresa, mas sim uma fatalidade que ele esperava acontecer cedo ou tarde.

Seus pais acordaram antes de voltar ao palácio.

Embora tivessem perdido um pouco de peso, pareciam impecáveis bem em frente dele, em pé, saudáveis. Seus longos cabelos cinzentos eram como os dele, uma característica herdada. Agora que entendia suas origens podia ver claramente que sua família consistia todos em descendentes de Luxor.

Quão antigos eram os seus antepassados? Quantos séculos fazia desde que o mago Almas se instalou em Berkant para começar sua família? Ele se casou com algum metamorfo dragão e gerou essa raça mista.

Quem mais sabia sobre isso ou era apenas ele? Seus pais estavam cientes de suas verdadeiras origens?

Eles sempre se gabaram muito sobre serem dragões brancos, mas nunca houve um comentário sobre Luxor. Muito menos a transformação de qualquer um em animais.

— Como foi capaz de deixar o reino nas mãos de um príncipe de outra nação?! — Seu pai Gursel, o verdadeiro rei de Berkant conclamou, tão nervoso e explosivo como costumava ser. O coma não mudou em nada sua personalidade arrogante. — Não deu satisfação a ninguém! Não deixou uma carta sequer! Imagine, nós simplesmente acordamos e onde estava nosso filho? Descubro então que saiu com mercenários pelo deserto, abandonando seu lar!

— Pensamos que não voltaria mais... — Murmurou seu outro pai, aquele quem lhe deu a luz, seu nome era Munis, cujo olhar que costumava ser indiferente agora mostrava um brilho estranho como se ele quisesse chorar. — Ficamos tão doentes, tivemos nada além de pesadelos por um longo tempo... quando finalmente acordamos, pensamos que o pesadelo continuava, pois nosso filho havia desaparecido!

Tian escutou em silêncio e abaixou a cabeça, aceitando. Afinal, como discutiria com eles? Primeiro que apanharia bem ali. Segundo que não adiantava sentir arrependimento ou raiva naquelas horas. Ele teve tantas oportunidades de acabar com suas vidas... e o que fez? Ele foi e os salvou.

Quando chegou da viagem, descobriu que o deus Akatoshi trouxe com antecedência uma garrafa cheia com a água sagrada de Luxor, o remédio que o curou. Naquele momento, não pensou duas vezes em falar sobre seus pais.

O deus dos dragões provavelmente já sabia de toda a sua história, e ele não hesitou, desaparecendo muito rápido.

Não o viu mais depois disso, nem tinha assumido que ele poderia levar pessoalmente o remédio para curar seus pais. Entretanto, dias depois, quando finalmente reuniu coragem e deixou a casa de Alev, descobriu que o deus dos dragões fez o que não esperava, dando a cura aos seus pais.

Tian já não tinha mais certeza se queria continuar sendo um príncipe ou se queria mesmo herdar o trono. Depois de sua viagem e sua quase morte, tanta coisa mudou em seus pensamentos.

— Não vai dizer nada? O que foi fazer no deserto? — Gursel perguntou, furioso.

Ele não respondeu. De que adiantava? Acreditariam nele? Era mais fácil puni-lo logo. Sabia que tinha errado mesmo, foi a maior imprudência de sua vida deixar a liderança do reino para outra pessoa que nem pertencia a Berkant.

Contudo, se sentiu tão bem viajar... ele amou estar com Alev.

Queria vê-lo de novo...

— Seu irresponsável, você está sorrindo! Acha engraçado?! Sabe o que passamos?

— Irmão. — Chamou uma voz muito familiar.

Tian se virou surpreso ao ver seu irmão mais velho bem atrás dele acompanhado de outras pessoas que julgou serem a nova família dele. Tristan tinha um sorriso gentil e o olhar carregado de saudade, seus cabelos eram muito parecidos, porém os dele mais curtos, os olhos verdes e a pele bronzeada de quem esteve muito tempo no sol. Diferente do irmão com quem cresceu, Tristan agora estava bem mais robusto, como se tivesse feito muito trabalho braçal.