Capítulo 13- Pai e filhos

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Uma verdade universal é que ser pai tão jovem não é fácil para ninguém. Ainda mais desempregado e sem uma figura materna presente. Ainda assim multiplique por 3 vezes tudo. Esse pensamento domina o Carlos Eduardo enquanto encara seus três filhos sentados lado a lado no sofá marrom acochoado da casa.

As meninas vestem o mesmo conjunto de saia e blusa amarelo da Lindinha super poderosa. O curto cabelo ruivo claro da Safira está solto e o longo da Perola está amarrado em um rabo de cavalo. Já o menino Edmundo veste uma versão masculina com bermuda e blusa do mesma cor sem nenhum personagem. O curto cabelo ruivo com franjinha frontal tampa suas sobrancelhas que é sua marca característica.

Carlos Eduardo não se lembrava quando tinha sido a última vez que tinha juntado os três para uma conversa séria. O último mês tinha sido uma correria e uma bagunça em suas vidas. Tudo parecia um borrão de um péssimo pintor amador. Aqueles que costumam pichar os muros que não estão escritos reservados com ironia.

- O papai precisa contar uma notícia. - diz o mais velho.

- O senhor voltou com a mamãe? - a menina Safira interrompe com os olhinhos brilhantes.

- O senhor arrumou um trabalho em uma sorveteria. E nós vamos comer sorvete de graça todo dia? - a outra gêmea Pérola pergunta com um sorriso de orelha a orelha.

- Não sejam bobas, meninas. O papai deve ter ganho um desses jogos de adulto. Nós vamos ser ricos! - o menino Edmundo se agita no seu lugar.

O Carlos Eduardo se ajeita no sofá oposto com o seu desconforto palpável. As sugestões de seus filhos o deixou com um vazio gigante dentro de si. Naquele momento se sentia o pior pai do mundo por não suprir nenhuma de suas expectativas infantis.

- Crianças, a mamãe e o papai não são mais um casal. Cada um vai seguir um caminho diferente, igual Toy Story 3. Quando o Andy vai para faculdade e entrega os brinquedos para a menina. Lembram?

- A mamãe vai brincar com outro brinquedo? - pergunta Safira com uma vozinha sensível.

- Diria que a mamãe escolheu um novo brinquedo no lugar do papai.- sorri para si mesmo com a métafora. - Mas também não vou trabalhar em uma sorveteria e não ganhei na loteria.

- Ainda somos pobres? - pergunta Edmundo com frustração

- Não vamos comer sorvete todo dia? - pergunta Pérola

- Sim, ainda somos pobres. Mas prometo comprar um sorvete para todos nós no final dessa conversa. - dito isso, as crianças expressam alegria, exceto a menina Safira que continua pensativa. - Mas meus filhos, o motivo dessa conversa é que o papai se apaixonou por uma moça.

O silêncio tomou conta do cômodo. O mais velho se atenta ao choque crescente em seus trigêmeos. Eram crianças de cinco anos, porém tinham personalidades com suas suposições e interrogações. Já a ausência o incomodava de modo profundo. Pois, não sabia o que se passava em suas cabecinhas. Ele se sentia em um teatro de péssima qualidade com um roteiro na sua vida real. Mas lembrou que era tudo pelo processo judicial, era tudo por essas crianças.

- O papai não tinha intenção nenhuma de se apaixonar depois da mamãe. Sei como pode ser difícil agora, mas preciso muito que se acostumem com a ideia de ter uma pessoa nova em suas vidas.

- Eu não quero uma mãe nova! - exclama a menina Safira indignada aos prantos e se apressa de volta ao andar de cima.

Carlos Eduardo já esperava uma reação daquelas de sua gêmea mais velha. Só não imaginava que se sentiria tão frustrado com a cena. Sabia que ela precisaria de tempo. Então optou por respeitar o seu espaço. Mais tarde teria uma conversa em especial com a menina.

- Como a conheceu? - pergunta o menino Edmundo retirando o mais velho dos seus próprios pensamentos.

- A salvei de um trágico acidente com um trem.

- Igualzinho os heróis da televisão? - Edmundo se fascina com a hipótese do seu pai se parecer com um super herói animado.

- Sim, muito parecido. O trem quase passou por cima de nós. Mas consegui resgatá-la no tempo certo.

- Que maneiro! O papai é um super herói de verdade.

- Como ela é? - pergunta Pérola

- Parece com essa boneca Barbie em suas mãos. - aponta para o brinquedo.

- Se ela parece com a Barbie, então posso gostar dela. - sorri

Carlos Eduardo se senti satisfeito com a reação dos outros dois filhos. A Samantha nunca foi um exemplo de mãe. Sempre estava muito ocupada com as amigas ou salão de beleza. Exceto com a menina Safira. Ela era muito parecida com a mãe mesmo que fosse uma de seus dois irmãos idênticos.

- Vamos tomar os nossos sorvetes? Vai ser naquela sorveteria no centro da cidade. Corridinha até a porta?

As duas crianças correm super empolgadas até a porta com sorrisos estampados em seus rostos. O mais velho usa o carro emprestado do seu pai e dirige até o centro da pequena cidade. Embora tenha estabelecimentos típicos, ainda denúncia ser um lugar pequeno. A sorveteria se destaca com uma cor vermelha intensa e um letreiro característico escrito " DOCE GELADO ". Edmundo e Pérola pedem um copo de
500 ml, logo entregam na mão do pai. O menino aponta para os sabores de chocolate, morango e creme com cobertura de uva. Já a menina escolhe banana, coco e maracujá com cobertura de doce de leite.

Sentados na calçada da sorveteria as crianças contam sobre o desenho animado que tinham assistido no dia anterior. Carlos Eduardo os observa com bastante atenção a empolgação em suas falas atropeladas por colheres de sorvetes. Assim que termina o mais velho retorna na sorveteria e compra mais um sorvete e opta pelos sabores de amora e milho com cobertura de caramelo. Os preferidos da menina Safira.

Logo, retorna no carro com os dois filhos em direção a casa. Quando chega ao destino, sobe até o antigo quarto que agora é dos trigêmeos. A porta está fechada, assim bate três vezes e abre. A sua filha Safira esta brincando de tomar chá sentada em uma cadeira em volta de uma mesa rosa. Os outros assentos estão ocupados por bonecas.

- Posso participar do chá? - pergunta para a boneca de sua filha.

- Ela disse que sim. - a filha responde.

- Muito obrigada, senhorita boneca.- ele se ajeita no chão.- Escolhi os sabores preferidos de sorvete da minha filha, mas não sei se ela vai querer. - se direciona para a boneca.

- Papai, eu estou bem aqui. Vou querer o sorvete, obrigada. - ela pega o sorvete e a colher em cima da mesa.

- Sei que é difícil, Safira. Mas posso te garantir que ninguém nunca vai ocupar o papel da sua mãe. - coloca as mãos em cima da dela. - Ninguém nesse mundo é mais importante que seus irmãos e você na minha vida. Nada poderá mudar isso. Eu te amo, Safira. Minha filha preciosa.

- Eu também te amo, papai. Me desculpa. - a menina chora arrependida.

- Tudo bem, meu amor. Me dá um abraço?

A menina se joga no colo do pai. O Carlos Eduardo afaga o cabelo de sua filha com todo o carinho e cuidado. Ela é tão pequenina e frágil. Mas se lembra quando era só uma bebê e que na verdade está crescendo rápido demais. Um dia vai ser uma mulher e não vai caber em seu colo. Só a hipótese o deixa angustiado. Ele a abraça mais firme para manter aquele momento em suas memórias. Como se pudesse parar o tempo nesse instante.

- Você sempre será a minha menininha. - diz e beija de forma carinhosa a sua testa.

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