Capítulo 5- A mágica acontece por Carlos Eduardo

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Enquanto observa os seus trigêmeos, o Carlos Eduardo processa toda a conversa indigesta com sua ex-esposa. Embora tivesse sido cruel as suas palavras em um certo ponto tinha uma verdade. Ele está desempregado e mora com os pais. Decidido a dar volta por cima começa a mexer no seu aparelho móvel em busca de sites com vagas de trabalho na região. Navega também no seu LinkedIn e busca restaurantes. A sua experiência de cinco anos devia contar.

Em suas memórias se recordou da faculdade de fisioterapia que havia trancado após descobrir a gravidez dos trigêmeos. O mercado de trabalho é demasiado concorrido, sabia. O ensino superior é um diferencial nos dias de hoje. Já teria terminado o seu curso no presente. Mas não havia espaço para lamentação. Ele arrumaria um trabalho e tinha que ser rápido.

Eram quase 20: 00, a hora das crianças dormirem. Ambas estavam deitadas em camas separadas em sequência com seus pijamas infantis. O Carlos Eduardo canta uma música clássica infanto-juvenil para embalar seus sonhos, enquanto cobre cada corpo com um lençol e beija suas testas de forma carinhosa. Quando o total silêncio domina o cômodo o adulto se retira  do quarto.

A sua mãe o contou sobre um jantar especial em sua própria casa nessa noite. Não conseguia nem imaginar o motivo. Mas se guia até o banheiro e após o seu longo banho se veste com uma boa roupa. Composta por uma calça social escura e uma camiseta social de mangas longas com botões no tom vinho. Só lhe resta pentear o seu cabelo castanho escuro quase preto na altura dos ombros. O seu rosto se encontra liso sem nenhum vestígio da barba mal feita do dia anterior. Enquanto se observa no espelho ver que está com uma boa aparência, e isso o faz sorrir no reflexo.

Na descida na escada nota uma voz desconhecida feminina vindo da sala de jantar. Era uma conversa que a mãe o citava como um bom partido. Naquele momento a realidade o atinge em cheio, pois era um encontro as cegas na própria casa. Só a hipótese de conhecer uma pretendente  o deixa apavorado. Sem pensar caminha para fora de casa de forma sorrateira. Sabe que terá uma lição em espanhol. Mas naquele momento se permite andar pelas ruas silenciosas e vazias do bairro.

Cada parte do lugar o lembra de sua doce infância quando corria e brincava pelas mesmas ruas. Isso o leva até a linha de trem. As crianças do bairro costumavam brincar muito naquele lugar. Mas nesse instante parece abandonada. Não tinha nem uma iluminação no local. Mas algo chama a sua atenção. Pois na verdade não parecia tão abandonada assim. Cada passo seu o leva ao vislumbre de uma pessoa distante. A mesma pessoa caminha no sentido oposto sobre a linha do trem. A cena parece mais bizarra no decorrer do tempo. Pois a mesma pessoa parece sentar nos trilhos.

Quando o som de um trem ecoa. Ele observa a pessoa permanecer paralisada no mesmo local, mas parece ter alguma coisa errada. O seu intuito é caminhar em  passos largos na mesma direção. O som cada vez mais alto do transporte explode em seus ouvidos.

A cinco passos da pessoa a luz do trem ilumina e  torna possível enxergar a mulher que luta com força para desamarrar sua bota do trilho. Mas todo o seu esforço é em vão. Ele se abaixa e tenta puxar a bota dela. No último segundo consegue libertar a desconhecida e se joga com ela para fora dos trilhos. Ambos caem de forma inusitada no solo frio e úmido. O corpo dele embala a mulher por completo. Ele permanece com os olhos fechados e paralisado na mesma posição com o choque.

- Nós podemos se levantar? - a voz feminina o desperta. Ele se levanta e a ajuda também.

- Você está bem? Como conseguiu se meter numa coisa dessas? Poderia ter morrido! - solta todos os seus pensamentos desconexos após o choque com as mãos na cabeça e encara o trem que passa.

Após o choque inicial, finalmente leva os seus olhos para a mulher na sua frente. Então a enxerga pela primeira vez. Nunca tinha visto uma beleza como a dela. Os longos, lisos e loiros fios voam em sintonia com o vento. Os olhos verdes como esmeraldas reluzem com o brilho do luar. Ela veste um conjunto rosa que realça a pele clara. No mesmo instante repara que a sua saia tem um rasgo considerável na lateral esquerda consequência da queda. Ele sem pensar retira a sua camisa longa e se aproxima dela. Aqueles olhos verdes incrédulos o assiste amarrar em sua cintura. Enquanto a proximidade é mínima o doce aroma floral da sua protegida invade o seu olfato.

- Só precisava passear um pouco para esfriar a cabeça e nem imaginava que ainda existia trem nessa cidade. Nunca se meteu em uma encrenca dessas? Não, claro que não né. - diz a desconhecida

Ele continua a observar em silêncio ainda em choque com a sua beleza. Como alguém pode ficar tão bonita até mesmo numa situação dessas? Ele se pergunta. As palavras somem por completo diante dela.

- Não precisa me encarar com essa cara de julgamento. Diz alguma coisa. Até que não foi tão ruim, pois deu tudo certo no final. Sabe te devo uma ou melhor duas. Pode ser?

- Você poderia ter se encontrado com Deus pessoalmente segundos atrás. - diz e julga que ela parecia um anjo mesmo, e talvez ele fosse o intrometido da história. - Não me deve nada. Só estava no lugar certo na hora certa.

Carlos Eduardo não acredita mais em destino ou amor a primeira vista. Ele não acreditava em mais nada. Era melhor assim. Ela o encara com uma expressão indecifrável, pensativa. Ele sabia o que devia fazer. Então começa a caminhar na direção oposta. Já tinha feito a sua parte quando a salvou. Poderia seguir em frente e esquecer o ocorrido.

- Deixe-me te compensar de alguma forma. Estou agradecida pelo seu gesto. Não posso te deixar ir assim. - caminha atrás dele.

- Só tente se manter longe de problema, pode ser? Não posso ser o seu protetor o tempo inteiro. - suas palavras saem mais duras do que esperava. Mas o seu olhar se desculpa. 

- Mas se um dia nós se encontrarmos, prometo que vou te salvar de alguma forma também. 

Ele a vislumbra pela última vez. Em seguida acena em despedida  e continua o seu caminho sem olhar para trás. Ele se sentia como um herói dos filmes de sua infância. Mas um herói de origem mexicana? Não existia um filme desse ainda. Mas isso o faz sorrir no percurso até em casa.

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